A oposição do mito e da razão e a utilização do mito como explicação para atitudes das quais pretende-se eximir o racional foram os pontos centrais da conferência “História. Mito. Cegueira” ministrada no dia 20 de setembro pelo doutor Anderson Zalewski Vargas. Estando inserida em um conjunto de palestras organizadas pelos Programas de Pós-graduação em Letras Clássicas e em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o Programa de Altos Estudos em Representações da Antigüidade (Proaera) e o laboratório Ousia, de Estudos em Filosofia Clássica, ela ocorreu às 11h no Auditório do G2 na Faculdade de Letras da UFRJ na Ilha da Cidade Universitária, no Fundão.
Do departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com ênfase em História Antiga e Medieval, o doutor Anderson Zalewski abordou primeiramente a conjuntura historiográfica atual, apontando para a importância que a interpretação textual adquiriu. Antes apenas provas de teses e meios de sustentação de teorias, agora a preocupação voltou-se para os significados contidos nos textos. Ele atentou, entretanto, para o fato de que se deve sempre considerar a lógica e os objetivos de determinado texto evitando a redução da época estudada a um gênero particular de documento.
– Uma tendência muito comum é reduzir o que eu li em um jornal ao que todas as pessoas daquela época, contemporânea ao jornal, pensavam, sem levar em conta que a imprensa tem uma lógica particular, tem os seus objetivos -, declarou.
No mesmo sentido apontou para o grande abismo que existe entre os membros de civilizações antigas e o nosso presente, negando-os como fonte de história e reduzindo-os a objetos de estudo. “Hoje em dia eles não são mais vistos como indivíduos fornecedores de receita. Não pensavam a vida tal como nós pensamos, apesar de fazerem parte da nossa tradição”, acrescentou.
Após essa série de considerações o doutor Anderson Zalewski tratou da oposição da razão, que segundo ele pode ser entendido também como história e ciência, ao mito. “O que é história? É aquilo que não é mitológico. O que é ciência? É aquilo que não é mitológico. O que é mitológico? É aquilo que é maravilhoso e que, portanto, pode ser atraente, mas que é falso, que é irreal”, afirmou o professor.
Em relação à cegueira, que também aparece faz parte da palestra, Zalewski explicou que ela relaciona-se a própria autoconcepção da razão e da história. “O homem, sendo um progressista, apresenta uma grande dificuldade em responsabilizar a razão por fatos ruinosos que acontecem na história, considerando-os acidentes e absolvendo a humanidade da responsabilidade que ela teve no ocorrido”.
A culpa é, então, atribuída a um inconsciente, no qual situa-se o mito, que é, esporadicamente, despertado por um tumulto de emoções irracionais. “O mito é algo jogado no subterrâneo do inconsciente na natureza humana, relativamente controlada pela razão. Quando essa razão adormece ou é derrotada, a selvageria humana irrompe essa profundidade”, argumentou.
Após a conferência houve um debate sobre o texto apresentado e abriu-se para perguntas sobre a área de letras relacionadas ao conteúdo abordado e sobre projetos de pesquisa individuais.