Foto: Agência UFRJ de Notícias |
Hernani Heffner, pesquisador da Cinemateca do MAM, |
O curso de extensão Educação e a Sociedade Brasileira Contemporânea da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FE/UFRJ), com apoio do Fórum de Ciência e Cultura (FCC/UFRJ), promoveu nesta terça-feira, 25 de setembro, a palestra “Arte cinematográfica e educação”. Entre os convidados, discutindo o caráter pedagógico inserido na arte cinematográfica, estavam Hernani Heffner, formado em Cinema pela Universidade Federal Fluminense, professor e pesquisador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM), Adriana Fresquet, da FE/UFRJ, e Elizabeth Luiz Soares, do Instituto de Psicologia (IP/UFRJ), respectivamente coordenadora e vice-coordenadora do projeto de pesquisa e extensão Cinema para Aprender e Desaprender.
Elizabeth começou explicando o quanto o uso do cinema no universo do ensino pode potencializar a relação entre professores e alunos. O cinema como objeto pedagógico, ou seja, a exibição de filmes que carregam em seu conteúdo mensagens ricas, passíveis de serem discutidas depois entre os que educam e os que estão sendo educados. “Assim é aberto um espaço para ocorrer uma troca de apreensões, haja vista que cada pessoa vive uma experiência muito própria quando em contato com o dito e o não-dito no enredo cinematográfico”.
Hernani comentou o assunto da palestra contando a história de Frank Baum. O norte-americano foi o autor de Mágico de OZ, lançado como um livro infantil, mas adaptado ao teatro para o público adulto e, no cinema, modificado como um filme “família”. Frank pretendia modificar o caráter dos contos escritos para as crianças, lançando a concepção de uma literatura com função moral, educativa, distinguindo claramente o “bem” e o “mal”. Em uma época em que crianças podiam ver qualquer filme, pois não havia restrições etárias, Frank Baum dá início a mudanças no processo produtivo cinematográfico, inserindo um olhar pedagógico nas tramas. O objetivo era revelar as facetas do mundo adulto para o público infantil.
De acordo com a explicação de Hernani, Walt Disney surge para consolidar a fragmentação do mercado do cinema, dedicando obras exclusivamente para os mais jovens. Enquanto isso, um grupo de produtores em Hollywood lança a idéia de fazer filmes para serem vistos por toda família, com enredos mais simples. No Brasil, um dos papéis do cinema é contornar os problemas da analfabetização de grande parte da população, sendo uma espécie de livro em imagens.
Hernani aponta, ainda, uma diferença entre o Brasil e os Estados Unidos. Neste, foram os cineastas que se adaptarem à tarefa de inserir um tom pedagógico em algumas películas. Aqui, os educadores é que se empenharam no esforço de serem cineastas. Nesta onda, fundou-se o INCE – Instituto Nacional de Cinema Educativo, idealizado por Roquete Pinto, cineasta e antropólogo. Segmentar a classe de espectadores foi aceito como indispensável, e o cinema infantil recebeu, no Brasil, influência da literatura de Monteiro Lobato.
Hoje, porém, Hernani argumenta que os filmes dedicados ao público mais jovem não se preocupa tanto com o conteúdo. Sequer presta-se muita atenção em distinguir na trama explicitamente os “bonzinhos” dos “malvados”. A ênfase concentra-se na forma, no aspecto da imagem, que vem se assemelhando ao vídeo-game. Tal característica, segundo o pesquisador, fica ainda mais clara em filmes de terror. “Ele se desenvolve em uma forma elíptica, que repete várias vezes a mesma situação, no caso, mocinhos e mocinhas fugindo do assassino, por exemplo, apenas com pequenas variações. Importa é o aspecto do que o espectador está assistindo. É bem feito? Ótimo.”, descreve.
Adriana fechou a palestra com reflexões de teóricos como Walter Benjamin, que parte do princípio que as experiências que os homens acumulam no decorrer da vida se compõem como uma máscara para os adultos que indica sabedoria empírica, mas pode aniquilar os sonhos. Benjamin propõe o resgate da imaginação através de uma associação, que pode ocorrer no cinema, entre o mundo sensível e o mundo inteligível. Citando Benveniste, Adriana explica que o universo cinematográfico guarda consigo a potência de restaurar experiências infantis de criar, de sonhar acordado.