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Médicos discutem a Síndrome dos Ovários Policísticos e a TPM

O Instituto de Psiquiatria – IPUB/UFRJ realizou mais uma sessão semanal do Centro de Estudos com o tema “Transtornos metabólicos e do humor em mulheres”, em parceria com o Instituto de Ginecologia da UFRJ.

O médico ginecologista Márcio Ávila esclareceu as dúvidas sobre a Síndrome dos Ovários Policísticos – SOP em sua modalidade grave, ou seja, aquela cuja evolução é direcionada para um quadro prejudicialmente metabólico: “Alguns pesquisadores ainda questionam a existência dessa síndrome. Aos poucos ela vem garantindo espaço clínico. Scott M. Grundy – professor conceituado da Universidade do Texas – dizia que se ela é definida como a multiplicidade de fatores de risco, que são inter-relacionados com a questão metabólica, então certamente a síndrome existe”, afirmou o ginecologista.
 
Márcio destacou como fatores de risco a obesidade, o sedentarismo, a alimentação inadequada, a idade, entre outros, e salientou que esta é uma doença silenciosa, e se desenvolve no espaço de 15 a 20 anos e emite sinais que geralmente não são valorizados no momento do diagnóstico. Segundo o médico, a síndrome metabólica guarda associações como alguns tipos de câncer, distúrbio do sono, esteatose hepática, depressão e, possivelmente, a Doença de Alzheimer.

Contudo, Márcio Ávila deixou claro que existem especificações: “Os ovários policísticos não são exclusivos da SOP, são apenas um diagnóstico em busca de uma doença.” Os sintomas visíveis da SOP, de acordo com o palestrante, são o hisurtismo – desenvolvimento exagerado de pêlos – a acne e, de certa forma, a obesidade: “Mais do que reparar o sobrepeso, é necessário atentar para a circunferência abdominal”, declarou. Os fatores invisíveis são a resistência à insulina e o transtorno depressivo.

Ávila garantiu que o diagnóstico da SOP não é muito simples, envolve a presença dos ovários policísticos, distúrbios da ovulação e o estado hiperandrógeno. No entanto, se apenas forem constatados os dois últimos, a SOP pode ser confirmada, mesmo sem a presença de ovários policísticos.

Segundo, o ginecologista e doutorando da UFRJ, Ricardo Bruno, alguns autores afirmam que pelo menos 80% das mulheres possuem algum tipo de Tensão Pré-Menstrual – TPM, que se trata de uma patologia que possui uma multiplicidade etiológica inconclusiva especificamente: “O conceito de TPM consiste de manifestações pós-ovulatórias, que podem ser físicas, funcionais ou cognitivas”, afirmou Ricardo.

A Disforia Pré-Menstrual – DPM, de acordo com o ginecologista, é a forma mais grave de TPM e acomete cerca de 3 a 8% das mulheres em idade madura, geralmente, tendo em vista as freqüentes preocupações, diferentemente das adolescentes: “Não se conclui a causa determinante para a DPM, mas a hipoglicemia e o histórico familiar de depressão estão muito ligados ao desenvolvimento da disforia”, declarou. Já a alteração do humor, a ansiedade, o distúrbio do sono, a mastalgia – dor mamária – e cefaléia são alguns dos sintomas clássicos da DPM.

Ricardo Bruno observou que as pacientes passam a ter uma compulsão por carboidratos, o que certamente só piorará a situação da paciente: “A alimentação mais saudável é fundamental, assim como os exercícios físicos. O álcool e a cafeína devem ser evitados, pelo menos nesse período pré-menstrual”, recomendou o palestrante.

A médica psiquiátrica, Arabella Rassi, apresentou um trabalho de pesquisa do IPUB, realizado com colaboração do Instituto de Ginecologia, com pacientes do ambulatório de Síndrome dos Ovários Policísticos, para avaliar a prevalência de transtornos psiquiátricos nessas pacientes: “A importância desse estudo é que a SOP é a endocrinopatia mais comum em mulheres, com prevalência de 5 a 10%. O nosso objetivo é tentar relacionar o diagnóstico psiquiátrico oficial, com todos os dados obtidos nos exames dessas pacientes”, afirmou a médica.

Já o psiquiatra e pesquisador do IPUB, Antônio Egídio Nardi, adiantou alguns dados provenientes de um estudo feito pelo doutor André Barciela Veras, que será publicado em breve pela revista de psiquiatria do Rio Grande do Sul: “O doutor André fez um levantamento epidemiológico no ambulatório de Perimenopausa – transição entre a vida fértil e a menopausa feminina – tentando relacioná-lo, principalmente, aos casos depressivos e anciosos”, declarou Nardi. Segundo o pesquisador, a intenção desse estudo é mostrar que uma escala simples utilizada rotineiramente no âmbito psiquiátrico, escala de Black Kuppermann, pode ajudar na identificação de quadros depressivos e de ansiedade, que no caso da pesquisa apresentaram freqüência de pelo menos 50%.