Paulo Nussenzveig, da Universidade de São Paulo (USP), foi o convidado para fechar as conferências especiais do mês de Agosto organizadas pela Coordenação de Programas de Estudos Avançados da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPEA/UFRJ). O tema final selecionado foi “Emaranhamento quântico, não-localidade e realismo”.
“A Mecânica Quântica, originada com Galileu e desenvolvida por Newton, desafia o senso comum. Oferece uma descrição do mundo microscópio, mas o faz obrigando uma renúncia de algumas idéias da física clássica”, revela Paulo. É o que ocorre, por exemplo, com a contradição gerada pelos experimentos da primeira (Mecânica Quântica) com o realismo local determinado pela segunda (física clássica).
Em uma explicação geral, dada pelo conferencista, a Mecânica Quântica trata de operadores — por exemplo, partículas — que agem sobre um estado e geram um produto. Porém, como define a “relação de incerteza”, há sempre um problema de imprecisão nos cálculos, porque tais operadores não comutam. Em outras palavras, mudar a ordem dos dados, altera o produto.
— Um bom demonstrativo de que os operadores não comutam é a polarização da luz. Usar primeiro um polarizador horizontal, sobrepondo a ele um polarizador que desvia a luz 45°, impede que ela passe. Entretanto, invertendo esta ordem, ou seja, colocando o de 45° abaixo do polarizador horizontal, a luz consegue ser refletida — exemplifica, Paulo.
Retomando o problema de a Mecânica Quântica negar o realismo local da Física clássica, o pesquisador detalha alguns estudos. Nestes, há várias comprovações de que as experiências realizadas entram em desacordo com as instruções bem definidas a priore pela Física clássica. Assim, é possível demonstrar que as grandezas físicas, na prática, não são corretamente pré-determinadas pelo realismo local.
— Pela Física clássica, pensa-se um caso e constrói-se uma tabela dos resultados para cada possibilidade de conduta dos elementos que ali atuam. Experimentos pela Mecânica Quântica, porém, negam estas previsões e apontam outros índices de probabilidade de ocorrência dos eventos no mesmo caso — ilustra o pesquisador.
Contudo, Paulo faz uma observação. “Ao pensarmos as contradições entre a Mecânica Quântica e as determinações da Física clássica, chegamos à conclusão de que o problema é tentar sempre correlacionar realismo com localidade, o realismo local. Nossos experimentos demonstram que o erro é inerente ao realismo. Já no que diz respeito à localidade, não há falhas que a Mecânica Quântica aponte” — conclui o conferencista.