A Escola de Belas Artes (EBA) e o curso de Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) entraram em uma parceria para ampliar estudos que envolvem o tema “Design, inovação social e desenvolvimento sustentável”. Com este intuito, decidiu-se por convidar Ezio Manzini — referência internacional na área de design estratégico e sustentável, professor no Politécnico de Milão, Itália — para ministrar um curso de cinco dias no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE/UFRJ). Para complementar o curso, foi organizada uma palestra para a terça-feira, 28 de Agosto, no Salão Dourado do Forum de Ciência e Cultura, no campus da Praia Vermelha da universidade.
Para receber Manzini, a mesa foi composta por Edson Hirokazu, diretor acadêmico da COPPE, Ângela Âncora Luz, diretora da EBA, Ângela Maria Cohen, pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ e Roberto Bartholo, coordenador do Programa de Engenharia de Produção da COPPE. Todos ratificaram a importância da parceria entre estes setores da universidade, “um espaço de cooperação que permite ir além, conferindo um espectro amplo de novas possibilidades ao permitir um diálogo entre variados saberes”, define Bartholo.
Ao iniciar a palestra, Manzini agradece a chance de lecionar mesmo que brevemente no Brasil para tratar de um assunto que geriu 30 anos de pesquisa de um grupo europeu do qual ele participa. Foi um estudo baseado em três etapas: a inovação social, a sustentabilidade e o design. Esta última, podendo ser explicada como uma atividade que humaniza a tecnologia, incorporando-a no dia a dia das pessoas e, preferencialmente, trazendo alguns benefícios para os modos de vida.
O objetivo maior é revelar a importância de inovações que não são regidas somente pela tecnologia e sim por um movimento social que descobriu seu poder de mudar a realidade. “São as novas idéias que vão de encontro com metas da sociedade”, revela Manzini. Estas inovações são comuns quando ocorre uma combinação entre um contexto histórico que requer mudanças e uma sociedade que integrou para si novas tecnologias. Segundo o palestrante, esta é uma fórmula que cria uma propensão a inventar novas maneiras de organização social e, consequentemente, a desenvolver soluções diferenciais para problemas e dificuldades do cotidiano. É o que ocorre com a proliferação de celulares, internet e laptops, por exemplo, e a remodelação comportamental que veio junto com essas tecnologias.
Manzini ressalta ser imprescindível observar o uso que uma sociedade faz de uma determinada tecnologia, pois há sempre uma diferença entre o pleno potencial desta última e a maneira com a qual ela é, de fato, manipulada. Para ilustrar seu argumento, o pesquisador mostra que apesar de, no geral, as câmeras embutidas nos aparelhos celulares serem usados para diversão, há quem possa utilizá-la para fotografar um animal doente e enviar a imagem para um médico veterinário distante. Assim, o italiano expressa que “em todo mundo, é investido um pesado capital para o desenvolvimento de novas tecnologias, ainda que a sociedade sequer saiba explorar todo o potencial das tecnologias que já estão disponíveis. Por outro lado, apesar de ser um tópico de extrema importância, pouco dinheiro tem como destino entender a inovação tecnológica social”.
Por invenção tecnológica social, Manzini está se referindo às invenções de pessoas normais quando atuando conjuntamente no dia a dia. São as chamadas comunidades criativas, que produzem mudanças relevantes simplesmente em buscar soluções inovadoras que contrariam os métodos comuns para lidar com as dificuldades do cotidiano. “Novas formas de ser e de fazer vão surgindo daqueles indivíduos que ao invés de pedir o que querem, vão lá e fazem eles mesmos”, revela o palestrante.
Um dos muitos exemplos dados foi o “Walking bus” (ônibus andante), alternativa criada por uma comunidade para encorajar crianças a ir até a escola e retornar para casa a pé, em grupos e sob a supervisão de um adulto. Uma iniciativa que ajuda as crianças a desenvolver uma gradativa autonomia e a aprofundar amizades. Manzini conclui: “um lado positivo da Globalização é que boas idéias são capazes de se espalhar para o mundo todo. É assim que uma iniciativa como o “Walking bus” começou na Itália e hoje é repetida em outros países. Inovações sociais da China estão também presentes nos Estados Unidos, no Brasil e assim por diante”.
Para saber mais a respeito das inovações sociais, acessar http://www.sustainable-everyday.net.