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Comunicação e Teatro, com Augusto Boal

 Nesta última segunda-feira, dia 20 de agosto, foi ministrada no salão Moniz de Aragão a aula inaugural da Escola de Comunicação da UFRJ. Contando com a participação do teatrólogo Augusto Boal, o evento abordou o tema Comunicação e Teatro, respondendo a questões como: quem pode fazer teatro? Como a estética e a dramaturgia podem ser apropriados pelo homem comum?, com base nas técnicas desenvolvidas por Boal no Teatro do Oprimido.

A abertura da aula ficou por conta da coordenadora do Curso de Direção Teatral, professora Carmen Gadelha, que destacou a importância do trabalho de Boal com o Teatro do Oprimido, que começou a desenvolver durante o período da ditadura militar, em que foi perseguido, torturado e exilado. “Augusto Boal, desde os anos 70, trabalha no sentido de devolver o teatro àquele que deve usá-lo para quebrar consensos e fazer do muro uma tenda a construir, um emissário permanente de liberdade”, filosofa a coordenadora, que também destaca a formulação do teatro teórico-prático desenvolvida pelo teatro do oprimido, em que a análise das estruturas da expressão gramática confunde-se à formulação dos procedimentos, através dos quais o espectador toma para si a capacidade de expor, expondo-se.

Boal, bem-humorado durante toda a aula, inicia com uma discussão sobre democracia e monarquia, comparando a primeira, sempre utópica, à proposta do Teatro do Oprimido, que defende a idéia de que todas as pessoas são artistas por natureza, enquanto a segunda refere-se à mídia, que determina quem faz parte da monarquia artística. “Os meios midiáticos, sobretudo a televisão, se posicionam como donos da verdade: impedem que vejamos a verdade pelos nossos olhos, mas através das lentes deformadas da mídia. Para o Teatro do Oprimido, a arte não é algo extraordinário que possa ser possuído apenas por determinadas pessoas, mas a própria forma do ser humano se manifestar”, destaca o teatrólogo.

Nesse contexto, o artista também enfatiza o verdadeiro significado da palavra estética, que para muitos se refere apenas a “alguma coisa bonitinha”, segundo suas próprias palavras. “A palavra estética possui uma origem grega, fazendo alusão a todo conhecimento acumulado pelos sentidos, enquanto a noética é o conhecimento adquirido pela razão. Por exemplo, quando uma criança nasce, para ela é uma explosão de sensações, que com o tempo toma formas. É o conhecimento estético que está se formando. Com o tempo, ela passa não somente a se localizar no mundo, como também a se relacionar com ele. Isso é fundamental: a partir daí, a criança pode transformar o mundo. Ao brincar na areia, percebe que pode ser escultor. Com um lápis e papel, que pode ser pintor. As primeiras transformações estéticas do homem estão na arte, o que leva à conclusão de que ser humano é ser artista”, afirma Boal.

A estética do oprimido, segundo Boal, entende essas duas formas de pensamento – estético e noético – como complementares e não excludentes. “Ambas são originais do ser humano e devem ser valorizadas. Não de forma monárquica, mas democrática, pois graças ao estético e ao noético que conseguimos nos desenvolver, apreender o mundo, nos relacionar com ele e transformá-lo. Atuando com uma base filosófica e não como um modismo, o teatro do oprimido não é uma forma a mais, mas o sistema mais praticado no mundo inteiro”, defende o artista.

Para Augusto Boal, o pensamento sensível é parte do ser humano e perde aquele que não desenvolve essas características artísticas.  “Partindo desse princípio, nós não procuramos a monarquia artística, mas os seres humanos, desprovidos, roubados pela mídia e seu conhecimento superficial dessa capacidade nata. O teatro do oprimido busca todas as classes oprimidas pela sociedade: grupos de mulheres, prisões, clínicas de saúde mental, escolas e muitos outros, espalhados por diversos países. Muitas pessoas não percebem, entretanto, que a opressão não está no ato, mas no poder de oprimir. Muitas vezes essa opressão já está internalizada, e a pessoa não percebe. Acreditam que, como a repetição que cria normas de conduta, aquilo se torna normal. A normalidade, porém, não significa que o injusto passou a ser justo”, exemplifica o teatrólogo.

Por fim Géo Brito, membro do teatro do oprimido e que já participou de trabalhos desenvolvidos em vários países, abre espaço para as perguntas dos participantes da aula inaugural, que questionam Augusto Boal a respeito de sua experiência com o teatro-fórum, o teatro-invisível e fazem considerações a respeito da estética do oprimido.