Integrando uma série de seis eventos preparatórios para o AMAZÔNIA-RIO 2007, ontem, 9 de agosto, foi apresentado, no Salão Moniz de Aragão do Forum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o tema “Recursos hídricos e pesqueiros”, com Sérgio Annibal, coordenador do projeto.
A UFRJ aliou-se à Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN) e ao consórcio ZEE-Brasil (Zoneamento ecológico-econômico do Território Nacional) em um esforço para refletir os diversos mecanismos, as conseqüências e as soluções que envolvem a ocupação do solo em processos urbanos, rurais e industriais. Esta realização segue uma tendência das reuniões internacionais a respeito do meio ambiente e da água, que visam trabalhar a convergência de leis ambientais com leis econômicas, levando em consideração a qualidade e a quantidade disponível dos elementos naturais, as formas de uso previstas para o espaço, e tentando garantir que as ações em prol do desenvolvimento de uma região ocorra de forma estruturada, sustentável, permitindo resultados a curto e, principalmente, a longo prazo.
Dando continuidade ao projeto, Sérgio Annibal reservou o quarto evento preparatório do AMAZÔNIA-RIO 2007 para o detalhamento do grande potencial hídrico da Amazônia e seus usos. Em sua palestra, revelou que o Brasil detém 28% do reservatório de água doce superficial da América do Sul, e a maior parte disso está concentrada na região amazônica, o mais extenso bioma do país, rico em diversidade natural. Explicou também que os rios desta área podem ser divididos em três principais grupos: de águas pretas (de pH mais ácido), águas brancas (de pH mais neutro) e águas claras, fator que influencia diretamente a disposição das diversas espécies de peixes.
Considerando a expansão da geração de energia por regiões hidrográficas, Sérgio revela que a bacia amazônica desponta como a mais promissora, com uma capacidade estimada de gerar 19 mil mega-watts (MW), seguida da Bacia do Rio Tocantins, com 13 mil MW. Essa previsão torna imprescindível um investimento em redes de transmissão que, embora sejam caras, são válidas no processo de compensação energética do país. Isso, porque o grande potencial gerador de energia da bacia amazônica ocorre em uma região marcada por um relativo vazio demográfico, englobando somente 5% da população brasileira, logo, com baixa demanda.
Enfocado na questão da pesca e da aqüicultura, Sérgio alerta que a qualidade dos peixes depende em muito do nível de poluição das águas. Daí ser importante dividir as bacias hidrográficas em diversos sub-unidades de gestão dos recursos e manter constante o monitoramento do estado das águas dos rios.
A análise dos peixes na Amazônia revelam uma vasta diversidade de espécies, incluindo aquelas que ao longo da linha evolutiva, se adaptaram das águas salgadas do oceano para as doces de rios e lá permaneceram. Além de peixes de grande porte, que são alvos da pesca esportiva, a bacia amazônica é rica em espécies de peixes ornamentais, valorizados em muitos países, por exemplo, da Europa.
Sérgio explica que um dos fatores que influencia a atividade pesqueira é a irregularidade da planície na Amazônia. Nas áreas de várzea, por exemplo, durante os períodos de seca, os terrenos alagados são fragmentados em pequenos lagos, nos quais alguns peixes, presos, acabam morrendo, e prejudicando a ação dos pescadores. Essa irregularidade determina, também, o uso de hidrovias como método mais viável e eficaz de locomoção na região.
Por fim, o coordenador do projeto argumentou que a atividade dos pescadores é importante, haja vista que envolve uma economia agregada — transporte, comércio, tratamento de conservação, entre outros — além de poder influenciar no turismo, a exemplo da pesca esportiva. Mostrou, inclusive, o trabalho das organizações pelo meio ambiente junto aos pescadores na elaboração de um plano de manejo. Isso abrange a análise da sazonalidade ambiental, dos recursos naturais disponíveis e dos métodos usados na pesca. Entre outras coisas, são distribuídas cartilhas orientando a comunidade para a organização de uma pesca controlada, com determinações de sustentabilidade do meio ambiente e dos peixes.