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Editor em Ação 4: a problemática do livro

 Nesta quinta-feira, dia 30 de agosto, a fusão de dois eventos proporcionou ampla troca de experiência acadêmica entre os cursos de Economia e Produção Editorial. O Editor em Ação 4, organizado pela Escola de Comunicação (ECO/UFRJ), e o I Seminário de Estudos sobre o Livro, oferecido pelo Grupo de Pesquisas em Economia do Entretenimento (GENT) do Instituto de Economia (IE/UFRJ), uniram-se no Salão Dourado do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ  na realização de único evento, abordando  temas  como a situação atual da economia do livro no Brasil e comparações com a Suécia e a França, além cadeia produtiva do impresso no país.

Segundo Fábio Sá Earp, coordenador do GENT e professor do IE, essa interdisciplinaridade proporcionada pelo evento visa “colocar em contato e estimular o diálogo entre editores, livreiros, estudantes, professores e pesquisadores das mais diversas áreas, preocupados com a problemática do livro no país”, assegura o professor, que integrou a mesa de debates ao lado dos palestrantes Carlo Carrenho, diretor da Thomas Nelson do Brasil e especialista em edição de livros religiosos e de auto-ajuda, George Kornis, professor do Instituto de Medicina Social da UERJ, e Renato Reichmann, atuante em toda a cadeia produtiva do livro, desde a edição e distribuição até a venda em livrarias.

A Economia do Livro no Brasil

Fabio Earp abriu a sessão de palestras, discorrendo sobre a situação econômica brasileira no mercado de livros e destacando a queda sistemática de empregos na área. “As ocupações temporárias sofrem uma baixa de 32 mil para aproximadamente 18 mil. Os empregos permanentes também apresentam esta propensão, apesar de menos acentuada. Existem duas explicações para este fato. A primeira é tecnológica: o progresso da editoração eletrônica evidentemente substitui grande parte da mão-de-obra, além de terceirizar uma série de atividades. A outra causa é inegavelmente a queda nas vendas”, explica o professor.

Para o palestrante, um dos grandes mercados para o livro é o próprio governo, que o adquire para bibliotecas e escolas. Este, entretanto, não configura um comprador estável. “As compras pelo governo podem variar, por exemplo, entre 60 milhões até 170 milhões de exemplares por ano. Esses livros apresentam também um perfil variado a cada aquisição. Podem ser de alto custo como Atlas ou até folhetins, que se oferece à criança para que ela monte uma biblioteca particular”, elucida Earp.

Já no setor privado, as vendas caíram à metade de 1998 até 2004, recuperando-se de forma tímida desde então. “Esta queda não é reconhecida pelos órgãos responsáveis por medir esta estatística, pois a comparação tem sido feita apenas em relação ao ano anterior, e não ao longo de determinado período – o que permitiria constatar essa crise”, revela o professor.

Earp destaca também a porcentagem de venda destinada a cada seguimento. “O governo adquire 40% dos exemplares produzidos, e o setor didático 22%. Como a maior parte das compras do governo é de livros didáticos, pode-se dizer que 60% dos livros consumidos no Brasil são deste seguimento. A pequena quantidade de outros livros, portanto, evidencia que o brasileiro infelizmente lê pouco depois que sai da escola”, critica o especialista, enumerando também as porcentagens de obras em geral que, com 19% do mercado, configura a linha com menos perda, e de livros religiosos e técnicos científicos, respectivamente com fatias de 12% e 7% das vendas em geral.

Segundo o professor, o custo do livro é alto para o poder aquisitivo do brasileiro. “Tomando, por exemplo, um personagem que recebe o salário médio da população e gasta todo o dinheiro em livros: se este fosse francês ou japonês, compraria 4000 por ano. Um brasileiro, apenas 1400. Para a aquisição do mesmo número de livros, os preços devem cair a 1/3 do valor atual. A alternativa é triplicar a renda do brasileiro”, satiriza Fábio Earp, que propõe também a adoção de livros e a ampliação das bibliotecas.

As Comparações

Ainda no encontro, Carlo Carrenho expôs as diferenças entre a economia do livro no Brasil e na Suécia, destacando a importância dada por 91% da população à leitura na formação do indivíduo. Já George Kornis estabeleceu a mesma comparação em relação ao mercado francês, que publicou 57.568 títulos em 2006. Renato Reichmann, por sua vez, finalizou o ciclo de palestras desta quinta-feira, tratando de assuntos relacionados à cadeia produtiva do livro.

Na sexta-feira (31), último dia do evento, o Editor em Ação oferece no salão Dourado a palestra “Livro e leitura na França e no Brasil: edição e políticas públicas” que conta com a participação de José Castilho Marques Neto, secretário-executivo do Programa Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), Jérémy Desjardins, especialista em políticas do livro e de redes de leitura pública, responsável pelo escritório do livro e mediatecas da Embaixada da França no Brasil, e Henry Deluy, editor de antologias da poesia francesa contemporânea, tradutor de poetas de várias línguas – entre elas o português – e atual presidente da Bienal Internacional dos Poetas.

A palestra inicia-se às 9h, no Fórum de Ciência e Cultura, que fica à Avenida Pasteur, 250 – campus UFRJ da Praia Vermelha.