“Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”, encerrou o seu discurso de posse o reitor Aloísio Teixeira, citando Carlos Drummond de Andrade e acrescentando ao verso do poeta a “vontade de transformar” e a união como marcas para superar os desafios em sua segunda gestão à frente da UFRJ. Numa concorrida sessão solene do Conselho Universitário (Consuni), cuja íntegra pode ser vista aqui, o professor Aloísio e à vice-reitora Sylvia Vargas foram empossados para mais um mandato, 2007-2011, nesta terça (31 de julho) pela manhã. Nos próximos dias, o reitor afirmou que lançará as diretrizes do programa de ação para ser discutido pela comunidade acadêmica, visando à ampliação do número de vagas, acessos alternativos e complementares ao vestibular e a reordenação espacial da Cidade Universitária.
“É um anteprojeto que terá a marca indelével da ousadia. Mesmo nesse mundo virtual com as pessoas conectadas em tempo real, a convivência é indispensável para superarmos a fragmentação. É a retomada de um projeto original com a reunião de todas as unidades num mesmo espaço geográfico, a Ilha da Cidade Universitária”, explicou o reitor, momentos antes da cerimônia numa entrevista coletiva à imprensa, deixando claro que os prédios que serão desativados, a maioria deles históricos, deverão ser contemplados em projetos específicos para que sejam conservados e transformados em centros culturais.
A cerimônia de posse, aberta pela Orquestra da Escola de Música da UFRJ que executou o Hino Nacional sob a regência do maestro André Cardoso (diretor da EM/UFRJ), contou com a participação dos ex-reitores: Horácio Macedo – representado pela esposa Anita Macedo -, Alexandre Cardoso, Nelson Maculan, Paulo Alcântara e Sergio Fracalanza.
Durante o evento, discursaram os representantes da comunidade acadêmica. Pelos professores titulares da UFRJ, Antonio Infantosi (CT/UFRJ) fez um breve resumo do currículo dos empossados, lembrando da eleição em 1998 da UFRJ, quando o então governo federal preteriu, na lista tríplice, o professor Aloísio, apesar dele ter sido o mais votado. Em seguida, o representante do Sintufrj, Marcílio Lourenço, saudou a vitória dos professores Aloísio e Sylvia como a expressão da vontade da universidade, mas cobrou que os gestores sigam perseguindo uma maior autonomia administrativa. “Isso já está expresso no artigo 207 da nossa Constituição, precisamos continuar brigando pela efetivação desta”, pontuou o representante dos técnico-administrativos da UFRJ.
Ainda discursaram Viviane Dias pela Associação dos Alunos de Pós-graduação da UFRJ (APG) e o presidente da Associação de Docentes da UFRJ (ADUFRJ), José Simões, que se valeu de uma metáfora do escritor Hélio Pellegrino. “O simples ato de caminhar precisa de uma intenção. Podemos ficar com os dois pés no chão e não sairmos do lugar ou ainda ficar com um pé no ar e outro no chão sem avançarmos em nada. Uso essa metáfora para dizer que precisamos fazer o embate entre o real e os nossos objetivos que devem ser tornar esta universidade num único adjetivo: pública e ponto”.
Graduada em Medicina, em 1968, pela UFRJ, a vice-reitora Sylvia frisou que um segundo mandato é a oportunidade de transformar “erros de ontem em acertos no futuro” e de que o estilo de gestão aberto às divergências de opiniões deve ser mantido. “A UFRJ não será lugar para displicentes e desiludidos, mas para os que cultivam o desprendimento, o calor humano e tenham energia, espírito público e o desejo de servir”.
O reitor Aloísio Teixeira não poupou a atual política econômica, que insiste em apregoar a idéia de que não há alternativas. “Existem outras formas menos penosas aos trabalhadores do que o controle da inflação através do superávit fiscal. Essa perversa combinação de câmbio e juros inibem o nosso sistema produtivo”, frisou o magnífico – graduado em Economia pela UFRJ em 1978 – que em meios às críticas, reconheceu ainda o bom ambiente histórico criado pela administração federal para o ensino superior com a recuperação parcial dos orçamentos e a abertura do diálogo. “É tempo de balanço, mas a minha disposição para a luta continua a mesma e reafirmo os compromissos pelos quais sempre fui fiel: a democracia, a soberania nacional e o socialismo”.
Como em sua primeira posse, o professor Aloísio pediu que não esquecessem nada do que falasse ou escrevesse e de que a sua chegada à reitoria, ao lado de outros companheiros, sinalizasse uma nova era. “Divulgaremos, em breve, o projeto de reestruturação e expansão da universidade que não é apenas a nossa resposta aos desafios que a sociedade nos coloca. Será também um projeto do e para o Rio de Janeiro, capaz de articular o apoio de todas as forças da vivas da cidade e do estado”, anunciou o reitor, admitindo que obstáculos serão enfrentados, mas concluiu: “juntos iremos vencê-los”.