O ilustrador renomado Rui de Oliveira foi o palestrante de ontem, 5 de junho, da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ) que falou aos alunos no auditório da Central Multimídia de Produção (CPM/Eco).
Rui, que admitiu só aceitar convites para dar palestras destinadas a estudantes quando vindos de universidades públicas, exibiu dois vídeos aos alunos: um com recortes de suas ilustrações, reunindo as criações de alguns de seus mais de 120 livros já ilustrados, o outro tratava de seus processos de trabalho. Ambos tinham sido apresentados anteriormente nos congressos de Parma, na Itália, e da Galícia, onde o ilustrador foi o único estrangeiro convidado como palestrante.
Tendo estudado pintura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e artes gráficas na Escola de Belas Artes da UFRJ (EBA/UFRJ), Rui passou ainda seis anos no Instituto Superior Húngaro de Artes Industriais, onde estudou ilustração. Mais tarde, dedicou-se ao estudo do cinema de animação, também na Hungria.
No início da carreira Rui desenhava sobre muita influência de seus professores húngaros, o que o preocupava quanto a seu próprio estilo, até que, como contou durante a palestra, resolveu tomar emprestado do teatro o método de distanciamento crítico, para servir de embasamento teórico. “Assim me libertei, hoje acho que não é bom chegar ‘prêt-à-porter’ no texto. Considero-me, guardadas as devidas proporções, um ator: estou em função do que interpreto do texto, não de um estilo próprio” comentou ele, acrescentando ainda que o que o moveu a ilustrar, foi acima de tudo, o ato e a paixão pela leitura.
Abordando a inspiração no trabalho artístico, o ilustrador fez questão de frisar que o desenho não é um “ato premeditório”, como ele mesmo nomeou: é preciso exercitar a cada dia, já que não se trata de algo espontâneo. Para isso, Rui tem seus “Moleskines”, cadernos de desenho que funcionam como seus diários. Lá, as ilustrações não têm lógica e nem função, expressam o desenhar por desenhar. “Só podemos encontrar o objetivo quando passamos antes pelo subjetivo – o não funcional tem sua importância” explica.
Para ele, a aquarela seria a técnica fundamental. “Ela encerra em si todas as questões futuras de qualquer outro tipo de pintura” disse ele, que em seu trabalho utiliza desde a aquarela até carvão, usando materiais como penas e madeira para pintar, passando ainda pela monotipia, pelo pincel com nanquim, lápis litográfico e tinta acrílica.
– Eu era o artista da escola. Naquela época, na escola pública, os meninos me davam gibis para copiar. Até que eu irmão mais velho me trouxe livros clássicos de anatomia, para que eu aprendesse com Rafael e Michelangelo o cânone da pintura – disse Rui se emocionando ao lembrar das dificuldades de sua infância, quando muitas vezes por falta de opções baratas de diversão passava os dias copiando os desenhos dos clássicos. “Ninguém cria se antes não copiar”.
Hoje Rui de Oliveira chega a fazer o “lettering”, ou seja, criar a fonte, letra própria e diferenciada para iniciar os capítulos das obras que ilustra. “Cada letra é um signo diferenciado. Desenho o som da letra para cada história, não deixaria jamais que uma máquina fizesse isto” – finaliza ele se referindo ao computador.