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Confiabilidade operacional une o homem e a técnica

A Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EQ/UFRJ), localizada no Centro de Tecnologia (CT), deu lugar, no dia 28 de junho, ao workshop “Confiabilidade Humana – A Inserção de Aspectos Sociais Em Sistemas Técnicos”.

O palestrante foi Salvador Ávila Filho, engenheiro químico, psicanalista e doutor em Confiabilidade Humana pela UFRJ. Destaque para a presença da professora Cecília Cipriano, coordenadora de extensão da EQ/UFRJ.

Salvador deu início à palestra explicando que o dia-a-dia operacional de uma indústria vai muito além dos aspectos técnicos e cartesianos da Engenharia. Junto ao fator organizacional, focado em uma lógica destinada a evitar acidentes e cumprir os procedimentos estabelecidos, há também o âmbito social, com suas metodologias subjetivas, incertezas e falhas.

Um trabalhador estressado, que não tenha boas relações com seus colegas, ou que esteja passando por problemas pessoais, por exemplo, pode vir a cometer falhas e prejudicar o desempenho da organização da qual faz parte. “É preciso entender a subjetividade do comportamento humano dentro de uma empresa. Há uma perda dessa subjetividade, engenheiros normalmente não se interessam por Filosofia ou Psicologia”, afirmou Salvador.

Ele citou, como exemplo, a experiência que é visitar uma fábrica e exercitar a percepção dos equipamentos, conversar com seus operadores, a fim de compreender o ambiente que influencia a rotina de determinada empresa. O comportamento humano e as alterações nesse ambiente são fatores subjetivos, que não podem ser previstos através de cálculos matemáticos. No entanto, é essencial que sejam levados em consideração para o pleno funcionamento de uma organização e redução das falhas.

Quebra de paradigmas
A pesquisa que Salvador vem desenvolvendo, intitulada “Método de Confiabilidade Operacional – Inserção de Aspectos Humanos em Sistemas Técnicos”, tem como objetivo aumentar a produtividade de indústrias de processos químicos, nucleares, entre outras, levando em conta o homem como parte da tarefa técnica.

– Ao incluir o aspecto humano no tecnológico, estamos quebrando paradigmas -, declarou o engenheiro químico e psicanalista. Há uma ruptura da idéia segundo a qual Engenharia (aspectos técnicos) e Psicologia (aspectos humanos) são como duas retas paralelas, impossíveis de se cruzar.

As mudanças no ambiente de trabalho, como a convivência entre diversas culturas sociais, influenciam muito a rotina de uma empresa: são capazes de alterar as estruturas humana, técnica e gerencial. “O grande erro é que a Engenharia não incorpora essas mudanças”, informou Salvador.

Ele também ressaltou as questões acerca da chamada falha operacional, que envolve o homem no sistema técnico. Tal falha, segundo ele, pode possuir diversas causas: imprecisão na execução de tarefas, sistema de monitoramento não adequado, problemas na interface entre operador e processo, no projeto de equipamento. Ou ainda, erros humanos provocados pela estrutura de personalidade e pela construção de aprendizado de cada indivíduo, como lapsos de memória e erros baseados em regras ou conhecimentos.

Quanto aos casos de problemas até então desconhecidos na empresa – situações novas, emergenciais, que fogem à rotina de um sistema produtivo -, o palestrante ressalta que as tomadas de decisão devem equilibrar conhecimento e habilidade para resolver determinada tarefa.

Segundo Salvador, “a tomada de decisão para resolução do problema deve ter uma visão ampla. Não se pode pensar apenas no aqui e agora, pois a decisão tomada pode vir a gerar novos problemas mais à frente”.