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Falta política de gerenciamento para catadores de lixo

  Foto: Agência UFRJ de Notícias

 Gustavo Portela que falou da necessidade de uma política de gerenciamento de lixo para as cooperativas de catadores,  participou do evento junto com Luis Bispo, morador da casa flutuante construida com garrafas Pet no Canal do Cunha.

Num momento em que tanto se discute a respeito de reciclagem de lixo no país – principalmente em instituições públicas federais, que devem obedecer ao Decreto 5940 do Governo, em que consta a obrigatoriedade destes setores em implantar tal sistema em seus espaços – a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) deu voz a atores importantes neste processo: os catadores.

Encerrando as mesas de debate da I Semana do Meio Ambiente do Centro de Tecnologia (CT/UFRJ), no dia 5 de junho, a discussão foi sobre a implantação do Decreto na visão das cooperativas e dos catadores autônomos. Mediada pelo professor da Coppe, Michel Jean-Marie Thiollent, estiveram presentes Luis Santiago (Cootrabom), Luis Fernandes – Coopama (vice-presidente da Febracom) e Luis Bispo (morador da casa flutuante), localizada no Canal do Cunha.  

Os palestrantes colocaram a importância do Decreto, visto que ele disponibiliza, diretamente para as cooperativas de catadores, grande quantidade de material. No entanto, em consenso, eles ressaltaram que a lei federal, apenas, não basta para melhorar a situação dessas pessoas que vivem do lixo.

– O que falta não é só o material; faltam recursos para as cooperativas, que precisam de espaço para triagem e falta remuneração para o catador, que não se sustenta apenas com o recolhimento, declara Luis Fernandes.

Em concordância com Luis Fernandes, o técnico de incubação da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UFRJ (ITCP), Gustavo Portela, falou da necessidade de uma política de gerenciamento de lixo para as cooperativas de catadores, que constaria de um grupo permanente cuidando do gerenciamento desses resíduos desde o início, de forma a baratear o processo e agregar valor ao produto:

– Política de gerenciamento de resíduos  não é apenas as cooperativas virem aqui e pegarem o material que está sendo descartado e levar; é elas poderem fazer todo o trabalho de separação desse lixo, desenvolvendo métodos de coleta adequados, o que valorizaria o produto final.

Esta política de gerenciamento hoje é feita por empresas privadas especializadas – com exceção da coleta de lixo das residências, feita pelo município. O que se propõe é a abertura desse mercado também para a atuação das cooperativas. No entanto, elas precisariam de capacitação, como a que é oferecida pela ITCP, que fornece assessoria técnica em termos de viabilidade econômica e cooperativa para estes grupos, de forma que eles possam se tornar empreendimentos auto-sustentáveis.

Auto-sustentabilidade, aliás, é a marca do catador autônomo Luis Bispo, morador da casa flutuante, construída por ele próprio, com objetos retirados do meio ambiente. De acordo com sua política de que “não existe imprestabilidade na lixeira”, ele tem atraído muitos olhares para sua inesperada construção.

Sustentada por um material flutuante encontrado na Baía de Guanabara (constituído por garrafas PET e isopor), além de dar visibilidade à questão do assoreamento do Canal do Cunha, é através da Casa Flutuante que Bispo tem conseguido atrair a atenção da mídia e das autoridades para a questão do catador de lixo e da lama, que poluí, junto com outras substâncias, a Baía.
 
– A lama é um lixo apenas naquela localidade; em um local que esteja em processo de desertificação, se não for para a produção de alimento, ela poderia ser usada como adubo para mamona ou cana-de-açúcar para produção de álcool, por exemplo, aposta Bispo, que também pretende publicizar a lama quebrando um recorde mundial constado no Guiness Book: ficar enterrado por mais de 141 dias.