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Memória

Tecnologia e design pela preservação do meio ambiente

Na era da preocupação com aquecimento global, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sai na frente com dois veículos cujo combustível é o hidrogênio. Alunos e professores da Escola de Belas Artes (EBA) e do Laboratório de Hidrogênio da COPPE exemplificam, na prática, as possibilidades de cooperação inter-unidades através do desenvolvimento de um ônibus e um carro do futuro, baseados na idéia de energia limpa. O ônibus trata-se do Bus H2, projeto de design de autoria de Gustavo Guerra, primeiro brasileiro premiado no Michelin Challenge Design, em 2004, e exposto recentemente no salão de Detroit. Já o carro é uma proposta conceitual que veio como trabalho de conclusão do curso de Desenho Industrial dos alunos Carlos Fernandes Souza Leal e Davi de Oliveira Silveira Júnior, trabalho que ficou entre os cinco melhores projetos de um concurso promovido pela Volkswagen do Brasil, como mostra em entrevista ao Olhar Virtual Roosewelt Teles, professor do Curso de Desenho Industrial da EBA.

 Na era da preocupação com aquecimento global, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sai na frente com dois veículos cujo combustível é o hidrogênio. Alunos e professores da Escola de Belas Artes (EBA) e do Laboratório de Hidrogênio da COPPE exemplificam, na prática, as possibilidades de cooperação inter-unidades através do desenvolvimento de um ônibus e um carro do futuro, baseados na idéia de energia limpa. O ônibus trata-se do Bus H2, projeto de design de autoria de Gustavo Guerra, primeiro brasileiro premiado no Michelin Challenge Design, em 2004, e exposto recentemente no salão de Detroit. Já o carro é uma proposta conceitual que veio como trabalho de conclusão do curso de Desenho Industrial dos alunos Carlos Fernandes Souza Leal e Davi de Oliveira Silveira Júnior, trabalho que ficou entre os cinco melhores projetos de um concurso promovido pela Volkswagen do Brasil.

A apresentação do projeto do carro conceitual, o Emperor, foi organizada pelo professor do Curso de Desenho Industrial da EBA, Roosewelt Teles, que conversou com o Olhar Virtual, já que os vencedores do prêmio não estavam no Rio de Janeiro na ocasião. Logo de início, o professor destacou a importância de dar o crédito aos responsáveis pelo excelente trabalho, o professor/orientador Sérgio Andrade e os alunos Carlos e Davi. Esclarecendo os trâmites do processo de conclusão do curso o professor Teles nos informou que "todos os estudantes, no final do curso, têm que apresentar um projeto de graduação e escolher um professor orientador para isso. O objetivo é levar o aluno a comprovar a aquisição de conhecimentos ao longo do curso, o que lhe conferirá o direito a pleitear o diploma de Bacharel em Desenho Industrial/ Projeto de produto. No Desenho Industrial, que é um curso da Escola de Belas Artes, o aluno tem a opção de escolher, quando da época da inscrição no vestibular, entre as habilitações em Programação Visual ou Projeto de Produto", esclareceu Teles. Inscritos na Disciplina de Projeto de Graduação, Carlos e Davi procuraram o professor Sérgio e apresentaram-lhe a proposta de desenvolvimento de um carro conceitual. Em paralelo a isso, a VW abriu o concurso; os alunos se inscreveram e tiveram seu projeto premiado tendo a empresa disponibilizado recursos para a construção de um modelo tridimensional em escala reduzida.

A premiação do Emperor não foi nenhuma surpresa para o professor, já que os alunos da Escola de Belas Artes costumam ganhar concursos dos mais variados tipos: "em 2005, por exemplo, tivemos cinco alunos premiados". O projeto em questão remete à idéia de futuro e foi baseado na vida do pingüim Imperador para se desenvolver o conceito de vida do carro, desde sua fase de embrionamento até o passo final. "Para tanto, os alunos pesquisaram o comportamento do pingüim no meio ambiente, as dificuldades que enfrenta, as hostilidades dos meios terrestre e aquático, o que levou a reflexões sobre o comportamento do carro em dias secos e chuvosos. A partir daí, remeteu-se ao carro ideal, num contexto de enfrentamento das dificuldades ambientais, e complementou-se com a característica de proteção que o animal dá a seus filhotes, inserindo a idéia de abrigo e conforto exigidas de um veículo. Com isso, desenvolveram vários conceitos internos e externos para diferentes aplicações", explicou Teles.

O Desenho Industrial tem a característica de inovação tecnológica e é conduzido por uma metodologia própria, a metodologia do design, que alia aspectos da metodologia científica à aspectos emocionais (estéticos) associados a parâmetros de praticidade, mercadológicos, financeiros, culturais, exigindo do designer grande habilidade interacional e criativa. "Apesar de os alunos desenvolverem coisas consideradas a princípio como utópicas em certos casos, não temos o ímpeto de limitá-los. Isto seria o mesmo que tolir a sua criatividade em meio a um tempo de exercício acadêmico, cujas as oportunidades certamente se tornarão rarefeitas na vida profissional. O design faz a interação entre a forma e a função; com isso observamos que não basta a um trabalho ser apenas bonito, uma obra de arte, e não funcional", disse Roosewelt. O professor também destacou o posicionamento do curso dentro da universidade, pois tem, à sua disposição, a secular Escola de Belas Artes, hoje privilegiadamente situada nas proximidades da COPPE, centro de excelência em tecnologia. Para Teles, "a tecnologia e a criatividade se completam.

O profissional de design trabalha em grupo, contribuindo dentro de um determinado contexto: "na profissão de Designer de Produto não há chances para o trabalho isolado. Compreendendo os atuais produtos como algo altamente complexos a atividade então exige não somente processos metodológicos adequados a essa natureza como também ações cooperativas o que remete a necessidade da participação profissional integrada, ou seja: o designer deve ser uma célula participante de um grupo de desenvolvimento de projeto ", assinala o professor da EBA.

Por se tratar de um carro conceitual e, por isso, remeter à idéia de futuro, os alunos tiveram de pensar na realidade daqui a anos. Por essa razão, eles decidiram que a motorização do veículo seria à base da propulsão do hidrogênio. "Diante da realidade do aquecimento global é uma tendência ter opções de motorização, motores à álcool, biodiesel ou movidos a outros tipos de combustível menos poluentes do que temos hoje", destacou Roosewelt. No caso do Emperor, diferentemente do que é visto em nossos veículos automotivos, os motores estão localizados nas rodas, como mostrado nas imagens, que também contam a história do projeto, a evolução do conceito e sua finalização. "Carlos e Davi escolheram a propulsão à base de hidrogênio pensando que, no futuro, isso vai se disseminar, como outros combustíveis que estão em teste hoje", alertou o professor. Na UFRJ, essa tecnologia é trabalhada pela equipe do Laboratório de Hidrogênio da COPPE, coordenado pelo professor Paulo Emílio Valadão de Miranda e que desenvolveu, em parceria com outros outros laboratórios, a exemplo do Laboratório de CAD do DI/ EBA (LabCAD), coordenado pelo professor Ricardo Wagner, o ônibus do futuro que congrega além da equipagem da motorização a hidrogênio racionalizações estruturais, ergonômicas e formais.

O motor à base de hidrogênio líquido existe em outros países e o Brasil avança muito nas pesquisas nessa área. O combustível é visto como um dos mais eficientes para substituir o petróleo e seus derivados, além de apresentar inúmeras vantagens: não é poluente, emite menos barulho e tem, como único resíduo, o vapor d’água. Além disso, sua eficiência é de 50%, enquanto que a do diesel é de apenas 30%, dando grandes esperanças aos ecologistas e àqueles preocupados com a questão ambiental.

O professor Roosewelt Teles resumiu bem o ideal do design ao dizer que "a forma segue a função". Além de seguir a função, o Emperor e o ônibus do futuro da EBA/COPPE se destacam pela beleza e pelo trabalho de ponta realizado por membros da UFRJ. Ambos confirmam a idéia de que a universidade pública se destaca não por seu capital, mas por seu material humano. Boas idéias aliadas à tecnologia e ao conhecimento geram projetos como esses, que, no futuro, terão reconhecimento e aplicação, em uma busca pela funcionalidade e, principalmente, preservação do meio ambiente – tema que preocupa, e muito, a humanidade hoje.