No mês de abril aconteceu a II Feira de Estágios da UFRJ, uma iniciativa da professora Maria Teresa Coutinho, coordenadora de Estágios da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC). Segundo a professora, as empresas buscavam encontrar uma forma de conseguir estabelecer um contato com os alunos. Cerca de 30 empresas compareceram e 4000 vagas foram oferecidas. Nos três dias de evento, os estandes estiveram sempre cheios, o que revela a importância de se pensar a relação entre a universidade e o estagiário.
É comum encontrar na UFRJ estudantes da universidade que trabalham como estagiários na própria instituição. Isso pode acontecer de diversas formas. Deia Maria é superintendente da Pró-reitoria de Graduação e explicou que o aluno pode participar dos programas de bolsas de Monitoria, de Iniciação Artística e Cultural, de Estágio em Laboratório de Informática, de projetos de Extensão e, como incentivo para a formação de novos pesquisadores, da bolsa de Iniciação Científica.
As condições para o pretendente à bolsa receber o benefício varia de acordo com o trabalho que ele irá desenvolver, mas alguns pré-requisitos devem ser observados. É preciso que ele esteja matriculado, cursando no mínimo, o terceiro período do curso e possua média superior a 6,0.
Estágios profissionalizantes
A preocupação da professora Maria Teresa, da FACC, é com a falta de entendimento que está acontecendo entre a universidade e as empresas que estão contratando os estagiários. “O discurso entre universidade e mercado está em conflito: existem empresas que dizem que o aluno só aprende na prática, ao mesmo tempo em que existem os que defendem as teorias acadêmicas acima de tudo e, no meio disso, está o estudante”, disse a professora.
Segundo Maria Teresa, é preciso repensar o papel da universidade e do estágio porque essas duas unidades fazem parte do processo de formação do profissional de forma integrada. A universidade deve desenvolver no aluno a capacidade de criação e de crítica e o estágio é uma forma de o aluno ter a experiência de mercado de trabalho. “O aluno deve colocar em prática o que aprendeu, mas não de forma passiva. Hoje, o mercado está interessado em um profissional com iniciativa e o estudante precisa ser mais autônomo”, disse Maria Teresa.
O atendimento na central de estágios da FACC é centralizado para os alunos da faculdade, mas é comum se receber propostas de estágios para outras áreas, como Economia e Psicologia. Segundo a professora Maria Teresa, sempre que é possível, essa informação é repassada para os Centros, mas o ideal seria a criação de uma central de estágio, que fosse capaz de reunir esses dados.
Unidades criam mecanismos
Enquanto não existe uma central única de estágio, alguns cursos buscam desenvolver os seus próprios centros. Na Faculdade de Educação (FE), o estágio supervisionado atende aos alunos de licenciatura. Os alunos se inscrevem na disciplina Prática de Ensino e um professor da FE orienta os alunos de cada curso. Hoje, são um total de 800 alunos espalhados entre as unidades da Faculdade de Educação, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, da Faculdade de Biologia e da Faculdade de Letras.
Cerca de 300 alunos estão estagiando no Colégio Aplicação, da UFRJ, mas também estão cadastradas escolas estaduais, federais e algumas particulares. A Faculdade de Educação enfrenta um problema com a rede municipal desde o final de 2005, quando o acordo entre a UFRJ e as escolas municipais expirou. O acordo não pôde ser renovado devido a uma dívida de IPTU que a UFRJ possui com o governo. A Reitoria já iniciou o processo de negociação para que fosse estabelecido o valor real da dívida. A notícia mais recente é que o valor apresentado pelo município foi contestado pela UFRJ, porém as negociações continuam.
“Tudo o que a Faculdade de Educação precisava fazer para acelerar a resolução do processo foi feito, agora temos que esperar o final das negociações”, afirmou Claudia Bokel, professora da FE e coordenadora da Central de Estágio. Para amenizar o problema a Faculdade de Educação procura direcionar os alunos, da melhor forma possível, para outras escolas cadastradas.
No estágio, o aluno é orientado a participar efetivamente dos fatos que acontecem na escola. “É mais do que apenas assistir as aulas, é uma oportunidade de o estagiário fazer parte da rotina da instituição. Lá ele pode participar da organização de eventos e feiras, e da programação de passeios culturais”, disse Ana Maria Monteiro, coordenadora da Licenciatura e vice-diretora da Faculdade de Educação.
Segundo a professora Claudia Bokel, a experiência do estágio é fundamental e única porque os estudantes ao mesmo tempo em que não deixaram de ser alunos, passam a assumir e a viver a experiência do trabalho. “É um momento de aprendizado, o aluno conhece o seu ambiente de trabalho e passa a lidar com a responsabilidade profissional. É ótimo ver os alunos desenvolvendo a sua capacidade de articulação em sala de aula.”
No caso do Instituto de Psicologia, a central de estágio está localizada no Departamento de Psicologia Aplicada Professora Isabel Adrados (DPA). Para os alunos de psicologia, é obrigatório o cumprimento de 500 horas de prática, que podem ser feitas de duas formas: o estágio interno, orientado por um professor do instituto e o externo, quando o aluno não está sob a orientação do IP.
Segundo a psicóloga Lílian Ulup, coordenadora técnica da DPA, em dezembro de 2006, cerca de 300 alunos do Instituto de Psicologia e a maioria dos estagiários estava cursando a partir do 5° período. Para ser autorizado, o estágio deve possuir uma carga horária de 20 horas semanais e precisa ser orientado por um psicólogo que possua, no mínimo, quatro anos de experiência na área.
Alguns alunos se queixam das exigências, mas a professora defende que essas condições foram estabelecidas para garantir a qualidade do processo de aprendizagem. O maior problema está nas empresas de Recursos Humanos, que exigem uma carga de seis horas diárias. “Quando o aluno está no final do curso analisamos com cuidado o caso e, às vezes, aceitamos, porém não dispensamos os quatro anos de experiência do orientador”, afirmou a professora Lílian Ulup.
Os estagiários podem trabalhar inclusive na própria DPA, que além de abrigar a central de estágio, possui um espaço para o atendimento psicoterápico à comunidade interna e externa da UFRJ. Hoje, 67 alunos estão responsáveis pelo atendimento dessa população. “Este espaço torna-se uma forma prática do que se aprende em sala de aula e também promove o intercâmbio entre os estagiários e os demais alunos”, disse a professora Ulup.
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