O documentarista João Moreira Salles esteve, na última quarta-feira (16), no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, respondendo as perguntas dos estudantes da Escola de Comunicação interessados na experiência de Salles em Jornalismo Literário, adquirida a partir de muita leitura e do projeto em que está engajado, a revista Piauí. Publicação mensal de reportagens literárias que abrangem temas diversos, de política à culinária.
Reconhecido por sua atuação no meio audiovisual através de documentários para televisão e cinema, como América (1989), Nelson Freire (2003) e Santiago (2007), que rendeu a ele prêmio do Festival de Cinema Real de Paris, João Moreira Salles está agora, como ele mesmo assumiu, flutuando entre dois meios: vídeo e revista. “Não mudei de profissão, continuo no mesmo território da não-ficção, mas mudei o veículo”, assumiu Salles que contou que o que ele explora na revista é o que ele explorava nos vídeos.
Idealizador da Piauí ao lado de Luiz Schwarcz, Marcos Sá Correia e Mário Conti, Salles vinha, há dois anos, pensando em uma revista diferente de todas as publicações brasileiras e que envolvesse reportagem e narrativa. Por ser uma revista independente, mensal e bem focada em seu objetivo de preencher o vazio que até então existia nas bancas de jornal, o trabalho na Piauí é bem diferente do que se vê nas tradicionais redações. Os textos levam meses, desde a idéia até sua publicação. “A idéia é tratar qualquer assunto com tensão, com os recursos da ficção de manter o leitor interessado até o fim da reportagem”, comentou Salles, justificando o tempo que é levado para a edição dos textos. Além disso, na Piauí não há reunião de pauta, “as idéias vão surgindo no dia-a-dia, todos palpitam, mas é claro que há uma pessoa que decide, dentre as sugestões o que será publicado, que é o Mário Sérgio”, esclareceu Salles que ainda disse que a Piauí é uma revista autoral, que mesmo com edição, eles mantêm o texto com “a cara de quem o escreveu”.
Provocado por uma estudante por não usar o termo jornalismo literário, Salles se justificou, revelando que sente desconforto com a expressão. “Talvez por eu não saber definir exatamente o que é jornalismo literário, acho um nome pretensioso. Costumo dividir jornalismo entre bom e mau”, disse o editor que deixou claro que a revista Piauí não é de jornalistas. Médicos, engenheiros, estudantes, ascensorista e pedreiros já escreveram para a Piauí. Outra questão levantada foi a crítica que a revista Piauí recebe por possuir textos muito longos. Quanto a isso, Salles foi categórico, “a revista tem textos com o tamanho que eles precisam ter”, respondeu, afirmando que quem não gosta de ler não vai gostar da Piauí e que essa é uma revista para se ler ao longo do mês e não de uma vez.
Com tiragem de 60.000 exemplares, a revista, em média, vende em bancas 24.000 e possui 10.000 assinantes, por todo o país. Chegando a vender, em seu primeiro número, 37.000 exemplares em bancas, a Piauí pretende chegar a 50.000, entre bancas e assinantes, e hoje já desponta como a revista mais vendida em livrarias do Rio de Janeiro e de São Paulo.