É comum andar próximo a áreas hospitalares e ver profissionais ou alunos de saúde transitando de jalecos nas ruas, corredores, ônibus e até em restaurantes. O que a maioria das pessoas não sabe é que isso pode ser muito perigoso. Dessa observação, surgiu a pesquisa “Evidência do jaleco como difusor de microorganismos patogênicos”, que está sendo desenvolvida pelo professor Marco Antônio Lemos Miguel, do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes da UFRJ.
Marco Antônio sentiu a necessidade de provar aos seus alunos como a biossegurança pode afetar o profissional de saúde, o paciente e a comunidade. “O jaleco é uma vestimenta de proteção. Não deve sair da área técnica e deve estar sempre limpo”, afirma o pesquisador.
Segundo ele essa conduta se dá por falta de orientação de biossegurança ou até mesmo por falta de respeito. Os profissionais da área da saúde trabalham com bactérias, muitas delas patogênicas e com a resistência aumentada; vírus, radioatividade, substâncias químicas perigosas, entre outras. “Utilizam o jaleco como vestimenta complementar, sem nunca parar para pensar no que podem estar transportando de seus laboratórios, consultórios ou hospitais para as ruas. Nesses jalecos podem estar depositados todos os microarganismos e substâncias advindas de seu objeto de trabalho”, enfatiza o professor.
Em seu estudo, o especialista pretende provar que as bactérias permanecem vivas por um dia ou vários dias, e que isso pode ser altamente prejudicial à saúde. A primeira etapa da pesquisa durou uma semana. Foram inoculadas em tecidos de jaleco (algodão e sintético), uma certa quantidade de bactérias e esses pedaços de tecido foram guardados num tubo de ensaio á temperatura ambiente. As bactérias foram monitoradas durante dez horas no primeiro dia e algumas não mostraram nenhuma queda. Depois de uma semana os tubos foram analisados novamente, algumas mostraram quedas significativas e outras não. Os jalecos de algodão apresentaram uma queda maior no número de bactérias do que os de tecido sintético. Ainda na primeira etapa, foi realizado um teste em parceria com o Laboratório de Micobactérias, do Instituto de Microbiolgia, para analisar por quanto tempo a bactéria da tuberculose permanece viva no jaleco. “Imagina se um profissional trata um paciente com tuberculose, e depois sai para almoçar com esse jaleco? É um risco para as outras pessoas que entrarão em contato com esse médico que vai transitar por corredores, elevadores, ruas e restaurante”, esclarece o professor.
A segunda etapa será pingar a bactéria em algum meio de cultura, como o leite ou sangue e depois jogar no jaleco para analisar do mesmo modo como foi na primeira etapa. O objetivo é ver se esses meios de cultura oferecem proteção às bactérias. A terceira etapa será procurar as bactérias diretamente nos indivíduos nos corredores, nas ruas e restaurantes. Será passado um instrumento nos jalecos, para coletar possíveis amostras de bactérias para serem estudadas. A quarta e última etapa será analisar a taxa de transferência dessas bactérias para outros meios, como mesas, cadeiras e bancadas. E assim analisar o tempo de contato necessário para que a bactéria passe do jaleco para os outros meios.
– Nosso objetivo é ver um dia as pessoas sendo impedidas de entrar de jaleco num restaurante, por exemplo. E quem sabe ver esses restaurantes distribuindo sacos plásticos para que os profissionais guardem seu jaleco antes de entrar, muitos argumentam que não têm onde guardá-lo. Mas o ideal é que o jaleco nem saia da área técnica. É muito importante que a mídia traga esse assunto à tona, dessa maneira as pessoas nas ruas vão poder cobrar mais respeito dos profissionais da saúde nesse assunto. – conclui o especialista.