Várias são as incertezas ambientais a longo prazo: até quando o planeta irá suportar os efeitos do aquecimento global? O seminário promovido pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), que ocorreu ontem, 8 de maio, no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ (Coppe), reuniu cientistas, a fim de discutir e divulgar as mitigações das mudanças no clima. O evento também serviu para expor a contribuição do Grupo de Trabalho III para o quarto relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudança Climática (IPCC).

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Mudanças climáticas: é preciso combater suas causas

Várias são as incertezas ambientais a longo prazo: até quando o planeta irá suportar os efeitos do aquecimento global? O seminário promovido pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), que ocorreu ontem, 8 de maio, no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ (Coppe), reuniu cientistas, a fim de discutir e divulgar as mitigações das mudanças no clima. O evento também serviu para expor a contribuição do Grupo de Trabalho III para o quarto relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudança Climática (IPCC).

 Várias são as incertezas ambientais a longo prazo: até quando o planeta irá suportar os efeitos do aquecimento global? O seminário promovido pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), que ocorreu ontem, 8 de maio, no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ (Coppe), reuniu cientistas, a fim de discutir e divulgar as mitigações das mudanças no clima. O evento também serviu para expor a contribuição do Grupo de Trabalho III para o quarto relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudança Climática (IPCC).

O IPCC é um órgão intergovernamental da ONU, que divulga informações acerca das mudanças climáticas ocorridas ao longo dos últimos anos. O Painel engloba os países pertencentes ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), bem como os que compõem a Organização Meteorológica Mundial (WMO).

O Relatório de todos os grupos de trabalho do IPCC – I, II e III – é composto, basicamente, por dois documentos: um com informações científicas, impactos ambientais e sócio-econômicos, medidas voltadas para a redução dos problemas ambientais; e outro com um sumário, que se subdivide e técnico e para tomadores de decisão.  

O quarto relatório, contendo a parte realizada pelo Grupo de Trabalho III, foi publicado no último dia 4 de maio, em Bancoc, na Tailândia. O documento foi elaborado com a participação dos seguintes pesquisadores brasileiros, que compareceram ao seminário da Coppe: Roberto Schaeffer e Emílio La Rovere, ambos do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ; José Roberto Moreira, do Centro Nacional de Referência em Biomassa do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP); e Suzana Kahn, do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ.

Eles expuseram suas contribuições na elaboração do relatório, o qual mostra, dentre outras coisas, os custos e estratégias para combater as causas do aquecimento global, o que inclui reduzir a emissão dos chamados Gases de Efeito Estufa (GEE).

O IPCC é uma importante experiência de diálogo entre o meio científico e o meio político. “O grupo de trabalho III é essencialmente político, pois mostra as possibilidades de mitigações das mudanças climáticas, colocando-as nas mãos dos tomadores de decisão”, ressaltou Suzana Kahn. Para Roberto Schaeffer, “há um vasto espectro de políticas e instrumentos para os governos criarem incentivos para ações de mitigação. As circunstâncias nacionais é que irão determinar as escolhas”.

Proposta de redução do PIB

Se antes falava-se em mitigação relacionada à adaptação aos efeitos do aquecimento global (como construção de barreiras, para conter o avanço do nível do mar, por exemplo), o Grupo de Trabalho III traz propostas de mitigação voltadas diretamente para a causa dos problemas ambientais: a emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, assim como dos demais GEE.

– O custo para se adaptar ao problema, o que inclui adequar a agricultura às variações climáticas, conter a elevação do nível do mar e tratar doenças, por exemplo, é muito maior do que o custo para mitigar as causas – explica Emílio La Rovere. 

Segundo dados apresentados no seminário, as emissões de CO2 aumentaram cerca de 70% nos últimos 30 anos. Dentre os grandes responsáveis por isso, estão a oferta de energia (queima de combustíveis fósseis, por exemplo), transportes, indústria, desmatamento, entre outros.

De acordo com os cenários apresentados no relatório, o nível de emissão aceito encontra-se entre 445 e 590 ppm (parte por milhão) de CO2 na atmosfera, o que significa um aumento na temperatura global em torno de 2°C a 4°C.

O Grupo de Trabalho III sugere uma redução no Produto Interno Bruto (PIB) dos diversos países envolvidos nessa batalha pelo meio ambiente. É importante estabilizar a temperatura e a concentração de GEE na atmosfera, e os modelos de mitigação a longo prazo apresentados, mesmo que dotados de um custo econômico, são viáveis.

– Tornar o desenvolvimento mais sustentável, através de uma alteração das trajetórias do desenvolvimento econômico pode oferecer uma imensa contribuição à mitigação das mudanças climáticas – opinou Roberto Schaeffer.

Segundo os cientistas, os custos de mitigação projetados para ano de 2050 ficam entre 0,5% e 5,5% do PIB, o que varia de acordo com cada cenário e situação específicos. A redução da taxa média de crescimento econômico mundial, até 2050, também é expressa por percentagens muito baixas, inclusive negativas, o que aponta a permanência desse crescimento.

– Se deixarmos o problema como está, para ver como é que fica, os custos de perda do PIB podem atingir de 5% a 10% – em alguns casos, os danos econômicos chegam a 20% – relata Emílio La Rovere. Roberto Schaeffer complementa: “É mais barato atacar o problema do que sentar e espera-lo recrudescer” .
 
Na opinião de Luiz Pinguelli Rosa, secretário executivo do FBMC, também presente no seminário da Coppe, a limitação do PIB é bastante razoável em termos gerais. Ele ressalta um desafio político relacionado a essa medida: “O crescimento dos países desenvolvidos é muito elevado, e a grande questão é como distribuir esse sacrifício da limitação do PIB entre os países. Apesar de o IPCC ser científico, também é intergovernamental, o que implica em discutirmos essas questões políticas”.  

Pinguelli também lembrou que, com exceção do Reino Unido e da Alemanha, os países desenvolvidos não reduziram suas emissões de GEE conforme foi estabelecido pelo Protocolo de Kioto.
  
Os vários potenciais de mitigação

Tais potenciais são elevados em todos os setores, incluindo os de transporte, energia, edificações e agricultura, por exemplo. No setor de suprimento energético, o total anual de emissões mundiais de GEE continua crescendo. Segundo José Roberto, “o mundo não está no curso de atingir um futuro energético sustentável. Há dificuldades para a política aceitar que a emissão de CO2 proveniente da queima de combustíveis fósseis não é mais ambientalmente sustentável”.

Uma medida mitigatória interessante no setor de energia é o seqüestro de carbono (que seria depositado debaixo da terra), associado à produção de biomassa no processo de obtenção do etanol, por exemplo, o que é viável para o Brasil. Uma outra maneira de capturar e remover o CO2 da atmosfera é através do reflorestamento, que inclusive anula as emissões de CO2 por desmatamento. Nos setores de edificações e indústria, por outro lado, a emissão de GEE pode ser reduzida através de programas de eficiência energética.

Pela primeira vez, surgiu no relatório do IPCC a importância de se voltar para o transporte urbano. A atividade do transporte continua a crescer, e está ligada tanto ao desenvolvimento econômico, quanto ao aumento da população. Com o crescimento da renda, a tendência é uma elevação da motorização.

A questão é: quem, em nome da saúde do planeta, irá trocar o conforto de seus carros pelo transporte público urbano? As opções de mitigação da emissão de GEE no setor de transportes implica tanto medidas tecnológicas – como a substituição de materiais poluentes, prejudiciais ao meio ambiente; uso de biocombustíveis – quanto medidas operacionais, que englobam o gerenciamento de tráfego, transporte público, pedágio. Para Suzana Kahn, “é possível, com as tecnologias de biocombustíveis atuais, chegar-se a uma participação de até 10% da matriz energética de transporte em 2030”.