Um estudo publicado em dezembro no 9º Congresso da Sociedade Européia de Medicina Sexual, em Viena, na Áustria, revelou um novo perfil sexual feminino. Realizado pela Bayer Healthcare, em 14 países, a maior pesquisa do gênero já realizada até então mostrou que as mulheres estão cada vez mais independentes e exigentes. De acordo com as conclusões do estudo, no Brasil, 45% das mulheres acreditam que a disfunção erétil interfere fortemente na qualidade de vida do casal. Este índice, se comparado ao de outros países, indica que a mulher brasileira tende a ser extremamente exigente em relação ao bom desempenho sexual do parceiro.
Na América Latina como um todo, este percentual é de 37%, e na Europa é de apenas 23%. O que faz as brasileiras se destacarem neste percentual? Isto reflete de fato uma maior exigência? Para debater a questão, o Olhar Vital, publicação virtual semanal da Coordenadoria de Comunicação da UFRJ, convidou o professor Paulo Canella, do ambulatório de sexologia da UFRJ, e o psicólogo Paulo Coletty, do Serviço de Psicologia Clínica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.
Paulo CanellaProfessor-titular de ginecologia da UFRJ e chefe do ambulatório de sexologia do Instituto de Ginecologia da UFRJ
“Em primeiro lugar, acredito que esta pesquisa necessite ser melhor analisada. Devemos levar em conta, por exemplo, o resultado de uma outra pesquisa que revelou que a atividade sexual dos brasileiros é a maior do mundo. Creio que esta pesquisa deve ter sido feita com um viés diferente em determinadas regiões. É complicado que a disfunção erétil seja um problema que afete tantas mulheres no Brasil e praticamente não abale as européias, por exemplo. Muito provavelmente, a metodologia aplicada foi um pouco diferente por aqui, por isso resultou numa diferença tão significativa. Para evitar problemas familiares e conjugais, a melhor solução para o marido é buscar tratamento. A disfunção erétil pode ser causada por diversos motivos, tanto orgânicos quanto psicológicos, e pode ser resolvida de diversas maneiras, dependendo da situação. A de origem orgânica, causada por exemplo por problemas de diabates ou complicações vasculares, pode ser tratada com a aplicação de uma prótese. Na maioria dos casos, no entanto, os médicos receitam o uso de medicamentos como o Viagra, ou então recomendam a terapia de casal. Geralmante, quando as causas do problema não são orgânicas, a disfunção erétil é desencadeada pela falta de desejo sexual ou por diversas outras questões psicológicas, como estresse. O tratamento psicológico, nestas situações, é mais indicado. Dentro da parte médica, temos três formas de trabalhar os problemas de sexualidade. Se a mulher apresenta a queixa principal, ou seja, enxerga mais problemas que o homem em uma relação, ela é verificada. Se é o homem que apresenta as maiores insatisfações, ele também é verificado. Se o casal está igualmente insatisfeito, eles são enviados para uma terapia de casal. Uma pesquisa feita em São Paulo, publicada no livro ‘Estudo da Vida Sexual do Brasileiro’, mostrou que 45,1% dos homens sofrem de disfunção erétil, 31% de forma mínima, 12% de forma moderada e apenas 1,7% de maneira completa. Estas porcentagens revelam uma realidade diferente da exposta neste estudo da Bayer. Mais de 75% dos homens pesquisados não têm problemas de disfunção erétil. Devemos levar em conta também a amostra da pesquisa, mas, ainda assim, existe uma disparidade entre a pesquisa recentemente lançada e esta. O problema da disfunção erétil é hoje muito ‘badalado’ por uma série de motivos, e um dos mais fortes é a possibilidade de tratamento através dos novos medicamentos. Além disso, há um aumento muito grande de pesquisas voltadas para isto, com o simples objetivo de divulgar o remédio e vendê-lo em maiores quantidades. Outro fator importante é que, hoje em dia, as mulheres estão muito mais exigentes com seus parceiros. Se antes a submissão era comum, hoje este tipo de situação está bastante diferente. Elas exigem satisfação sexual de seus parceiros, e não se conformam nem aceitam a disfunção erétil. Isto tudo torna o problema bem mais evidente. A prevalência da disfunção erétil sempre foi igual em todas as épocas. O que torna o problema hoje muito mais conhecido, e isso se reflete nesta pesquisa, é o desenvolvimento dos remédios e tratamentos, da maior exposição do problema pela mídia, e da transformação das próprias mulheres.” |
Paulo ColettyPsicólogo do Serviço de Psicologia Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho “A qualidade da vida conjugal não se liga somente ao sexo, em primeiro lugar. Outros fatores, como o entendimento, a afinidade e a harmonia, também contam bastante. Obviamente, a disfunção é um motivo de preocupação do casal, porque, se muito freqüente, compromete o todo da relação. Porém, este problema se mostra bastante pequeno se o homem e a mulher tiverem bastante afeto, por exemplo. As causas mais freqüentes de disfunção erétil são a hipertensão, diabetes, problemas na próstata e o uso de medicamentos psiquiátricos e de hipertensão também. Além disso, toda droga consumida exageradamente, como o fumo e o álcool, além do uso de anabolizantes, também comprometem a ereção. O tratamento psicológico dado aos homens com este tipo de problema é bastante focado. Promovemos um atendimento semanal, individual ou com o acompanhamento da esposa. Isto depende da complexidade da relação. A terapia é voltada especialmente para uma orientação sobre o problema, e há uma conscientização sobre as causas e como lidar com isso também. Se a mulher é a que tem a iniciativa de buscar um tratamento psicológico, e isso acontece freqüentemente, muitas vezes ela também participa de terapia. Porém, isto não é uma regra. Às vezes o homem não se sente confortável em se tratar com a esposa, e pode comparecer sozinho. Geralmente, quem busca este tipo de tratamento são os casais mais jovens. A idade pode variar entre adolescentes de 18 a 20 anos, até aproximadamente 40 anos. Os casais desta idade buscam com mais vontade uma melhor qualidade sexual, e não se conformam com o problema da disfunção erétil. Assim, esforçam-se em buscar ajuda médica. Os casais mais velhos, acima de 40 anos, costumam ser mais resignados. Muitas vezes, os medicamentos contra disfunção costumam ser receitados pelos médicos. No entanto, resolver apenas o aspecto fisiológico não é suficiente. Os remédios podem ser bastante úteis para melhorar a auto-estima e a segurança do homem, mas se ele não vier acompanhado de um tratamento psicológico, não será eficaz. Novamente, o tratamento para disfunção erétil deve ser feito sim, e estimulado. Mas nem isso nem o remédio são suficientes, se o casal não tiver uma relação estável e feliz.” |