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Democratização da Mídia invade auditório da ESS

O debate promovido dia 29 de março pelo Núcleo de Comunicação do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), na Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, colocou em questão a democracia nos veículos de comunicação. “Mídias, Estados e Governos – relações perigosas em tempo de globalização” teve a frente os militantes Denis Moraes, do curso de Pós-graduação da UFF, e Virgínia Fontes, coordenadora de cursos da escola Nacional Floresta Fernandes, do MST.

– Assistimos ao nascimento e morte de revistas. Há seis meses vemos nas bancas a revista Piauí, com seu estilo leve e digestivo, que planta que a cultura não deve cansar ou exigir esforço. Nutre-se, com isso, a cultura cosmopolita de Copacabana, o que mascara socialmente o papel da imprensa – dispara Virgínia, que afirma acreditar em uma posição política da referida revista – o João Moreira Salles, um dos criadores, disse em uma entrevista que a Piauí não seguia qualquer ideologia. Não acredito nisso.

Virgínia lembrou a década de 90 como um momento de pulverização das lutas sociais e das políticas públicas pelo neoliberalismo. Para ela, a mídia seria o objeto de “refuncionalização do Estado” que se encontra desestruturado pelo “cenário da pedagogia hegemônica”.

Seguindo o mesmo pensamento, Dênnis acredita que o país não tem mais compromisso com o pensamento crítico. “Não vejo nenhum indício claro que estamos nos livrando do pensamento único neoliberal”, argumenta.

Para o professor da UFF, a multiplicação dos canais de comunicação não é um sinal de democracia, pois não se sabe quem dita a variedade veiculada. “Vivemos um processo esquizofrênico da cena da concentração midiática. A variedade está concentrada e tenta silenciar e neutralizar”, declara Dennis que gostaria que os canais pertencessem a sociedade e não aos oligopólios das corporações de comunicação.

Na América Latina, iniciativas de democratização da mídia já ganham destaque. O atual presidente do Chile Michelle Bachelet já avança com a legislação democrática para rádios comunitárias e livres. Na Argentina, o Novo Cinema Argentino prospera pelo fomento estatal gerado pelo INCAA (Instituto de Cinema Argentino).

– Saiu na revista Carta capital uma pesquisa dizendo que mais de 250 parlamentares são sócios ou proprietários diretos de empresas de comunicação É difícil propor novas reformas nos meios de comunicação do Brasil se você tem essas relações no Congresso – diz Dênnis.

O debate ainda deu espaço a uma pequena homenagem para René Dreifuss, cientista político, falecido em 2003, autor de livros como O jogo da Direita. “Ele foi um exemplo de bravura na luta política”, salientou Virgínia que admite sentir falta desse espírito na atualidade.