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Jornalismo Esportivo na ECO

O jornalista Cláudio Nogueira, do caderno de esportes do jornal “O GLOBO”, ministrou palestra, dia 22 de março, para os alunos da Escola de Comunicação (Eco) da UFRJ. Convidado por Fernando Mansur, professor de Rádiojornalismo da Eco, Cláudio falou sobre seu livro, lançado em 2006, “Futebol – Brasil – Memória – de Oscar Box a Leônidas da Silva”, sobre jornalismo esportivo e suas outras experiências enquanto repórter.

O livro, que teve dois exemplares sorteados ao final da palestra, trata do futebol enquanto fenômeno social, tentando manter viva a memória do esporte. Ele cobre a trajetória do futebol no Rio de Janeiro, de 1897 a 1937, começando pela história de Oscar Box, um filho de ingleses que, ao voltar dos estudos na suíça, trouxe bolas e livros de regras para introduzir o esporte no antigo Cricket Club e não tendo muito sucesso acabou fundando o fluminense.

Nos seus primórdios, o futebol era um esporte muito excludente. O primeiro time a ter atletas negros foi o Bangu, em 1906, o que durou pouco, pois logo no ano seguinte proibiu-se negros na liga oficial, e a partir desse momento eles só poderiam participar das ligas suburbanas. Em 1923, o Vasco, chegando à primeira divisão, recruta muitos de seus remadores, a maioria negra, para jogar no time de futebol e ainda traz outra inovação, a questão do profissionalismo no esporte. O time recém formado queria ganhar a todo custo, e para tanto contradisse a tradição de jogadores “Bon Vivants” que imperava até então, obtendo êxito e vencendo o campeonato. Diante das novas circunstâncias e de todos os preconceitos da época, fundou-se uma nova liga, a Associação Metropolitana, na qual não poderia haver jogadores em baixas condições sociais. A celeuma resultou na existência de dois campeonatos acontecendo no Rio de Janeiro no ano de 1924, tendo os times se reunido novamente no ano seguinte.

A popularização do futebol foi um processo muito lento. Enquanto os mais ricos jogavam com o equipamento correto e usavam seus termos em inglês, a população pobre demorou a aderir ao esporte e, quando o fez, era usando bolas de meia em campos de várzea, o que, Cláudio Nogueira brincou, pode até ter influenciado na conhecida habilidade no brasileiro com a bola. Em 1920, Luiz Antonio deixou de ser convocado para a seleção brasileira por ser negro, e o próprio governo brasileiro não queria “jogadores de cor” disputando o campeonato sul-americano de 1922. Apesar disso, os dois Sul-americanos disputados no Brasil foram eventos de grande impulsão para a popularização do futebol, com a ascensão do país à condição de potência do futebol chamando a atenção das classes mais baixas. Leônidas da Silva, primeiro grande ídolo brasileiro, marcou o espaço do negro no esporte, o chamado “Diamante Negro” lucrou até com o marketing esportivo, emprestando o apelido ao nome de um chocolate.

O palestrante falou também do jornalista Mario Filho: ele revolucionou a crônica esportiva criando o conceito do jogador na mídia enquanto pessoa. À frente do Jornal dos Sports criou os “Jogos da Primavera”, torneio entre escolas que rendeu muitas revelações, além de ter apoiado a construção do estádio do Maracanã, que hoje leva o seu nome, para a copa de 1950.

No debate que se seguiu à fala de Cláudio falou-se muito da questão do preconceito no futebol, tanto o racial, quanto o de gênero, mais comum nos dias de hoje, em que poucas são as mulheres que praticam o esporte. Também foi abordada a proximidade dos jogos Pan Americanos, a serem realizados no Rio de Janeiro, sob uma expectativa não muito segura: a maioria dos alunos confessaram temerosos quanto a organização e o êxito de todos, ou pelo menos da maioria dos eventos.