O Núcleo de Solidariedade Técnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Soltec-UFRJ) comemorou, na tarde desta quinta-feira, dia 13 de março, o seu quinto aniversário. O evento festivo, aberto a todos, ocorreu no auditório do bloco A do Centro de Tecnologia (CT/UFRJ), localizado na Ilha da Cidade Universitária (Fundão).
Estiveram reunidos estudantes, professores, funcionários e visitantes que vieram de locais onde o Núcleo atua com seus projetos – como Macaé e a Comunidade Cidade de Deus. Patrus Ananias, atual ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, também esteve presente, mas por menos tempo que o planejado, pois recebeu uma chamada de retorno urgente à Brasília.
A música clássica do “Grupo Sacra Vox”, conjunto de câmara da Escola de Música da UFRJ, encantou a platéia e deu início ao evento, com a execução de obras sacras de compositores brasileiros e internacionais, tais como José Maurício Nunes Garcia e Johann Sebastian Bach.
Após a apresentação do coral, o professor Sidney Lianza, coordenador geral do Soltec, contou um pouco da história do Núcleo, seguido de Felipe Addor, doutorando do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR-UFRJ). Quando ainda era estudante de Graduação na Engenharia de Produção, Felipe manifestou o desejo de criar uma ligação entre os estudantes e as Organizações Não-Governamentais (ONGs), uma idéia que serviu de base para a criação do Soltec.
Sidney explicou o porquê do nome Solidariedade Técnica: “Fizemos uma análise etimológica do nome escolhido. Na concepção do Soltec, ‘solidariedade’ tem o significado de responsabilidade recíproca entre o conhecimento técnico científico e o conhecimento popular. Como dizia o mestre Paulo Freire, existem conhecimentos que devem dialogar”.
A relação entre tecnologia e amor, tão presente no dia-a-dia do Soltec, foi o tema da exposição de Felipe, que também brincou com as dificuldades enfrentadas pelo núcleo: “Muitas vezes, somos financiados pelo BNB: Banco do Nosso Bolso”.
Ele buscou contar a história do Soltec em dois eixos. Um exemplifica os momentos nos quais tiveram que aproximar tecnologia e amor, como quando perceberam que a Engenharia estava muito distante da sociedade. O outro diz respeito aos momentos em que optaram por distanciar o trabalho do que é sentimento, a fim de que pudessem dar seguimento às reuniões, à elaboração de artigos e à conclusão das pesquisas.
UFRJ e o desenvolvimento social
Além de contar com a presença do professor Sidney, a mesa foi composta pelos professores Walter Issamu Suemitsu, decano do CT/UFRJ, que integra o Soltec; Ericksson Almendra, diretor da Poli-UFRJ; e Antonio Cláudio de Souza, do Departamento de Engenharia Eletrônica (DEL-Poli), membro do Soltec e mediador.
Walter achou importante destacar que o Plano de Ação 2007-2010 do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) traz como uma das prioridades estratégicas justamente o que o Soltec vem fazendo nestes cinco anos de atuação: a aplicação da tecnologia e da Ciência voltados para o desenvolvimento social.
O decano ainda brincou: “O Soltec hoje comemora cinco anos. É ainda mais velho que o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), que neste ano comemorou quatro anos”.
Ericksson, por sua vez, defendeu a idéia de que, apesar de toda a dificuldade que o Núcleo enfrentou em seu surgimento e enfrenta para colocar em prática seus projetos, é preciso concentrar-se sempre nas realizações, as quais realmente fazem a diferença.
– Eu sou professor de Físico-Química, então, para mim, a dificuldade é uma cosia muito natural, porque estudamos o quanto ela faz parte do surgimento das coisas novas. É difícil a água ferver, ela não ferve a cem graus Celsius conforme uma lenda que circula por aí. Também é muito difícil um cristal de gelo surgir dentro da água quando a temperatura cai, ela não congela a zero graus Celsius conforme outra lenda. É muito difícil surgir uma gota d’água no céu do Ceará. É assim na Físico-Química, é a sim na história do Soltec – argumentou o diretor da Poli-UFRJ.
A necessidade de ter um compromisso, principalmente na universidade, com os problemas sócio-ambientais, como o aquecimento global e a miséria, foi lembrado por Sidney. Para ele, o CT/UFRJ, em especial, possui um potencial enorme para contribuir com este compromisso, o que se traduz em diversas iniciativas, dentre as quais podemos destacar o Projeto Minerva, que tem por objetivo disponibilizar a informática para a educação pública. “Os estudantes de Engenharia têm uma responsabilidade intelectual para com a sociedade”, resumiu o coordenador geral do Soltec.
A presença do ministro
Em virtude de uma solicitação de retorno imediato à Brasília, Patrus Ananias não pôde dar segmento a sua participação no evento conforme o combinado, onde faria um debate com Aloísio Teixeira, reitor da UFRJ, sobre “A Universidade e o Desenvolvimento Social”. Aloísio também não pôde comparecer e fez-se representar pelo professor Carlos Antonio Levy da Conceição, pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento da universidade.
A palavra foi dada ao ministro Ananias que saudou a todos os presentes. Durante sua fala, destacou os caminhos que se abrem para um trabalho compartilhado entre o MDS, outros ministérios, e outras esferas governamentais na área social com as universidades, especificamente com a UFRJ.
O ministro declarou que hoje está muito empenhado no estimulo da criação de espaços que destravem o pensamento, abram novas possibilidades para a reflexão, para as nossas consciências e também para o nosso coração. Segundo ele, são importantes o desenvolvimento cognitivo, o saber, o conhecimento, mas também o desenvolvimento do afeto, do bem querer e da sensibilidade humana, em especial.
– Que este evento contribua pra que nós todos possamos crescer com uma compreensão maior e melhor do nosso país, do nosso povo, e a partir daí dar uma contribuição mais efetiva e afetiva à construção da pátria brasileira justa, desenvolvida, acolhedora, que nós queremos – concluiu o ministro.
Homenagens
Durante a cerimônia, houve algumas homenagens às pessoas que contribuíram de maneira essencial para o sucesso do Soltec nestes cinco anos de vida.
Um dos homenageados foi o professor Régis da Rocha Motta, chefe do Departamento de Engenharia Industrial (DEI), pelo apoio que sempre ofereceu ao Núcleo. Ele agradeceu a honraria e declarou: “Na linha do amor, espero que vocês se multipliquem e angariem mais alunos para esta causa”.
Outro que foi lembrado pelos “soltecos” foi o professor Michel Thiollent, coordenador de Extensão do CT, que também recebeu uma placa contendo dizeres de agradecimento, um símbolo da gratidão do Núcleo para com ele. Sidney ressaltou que, “sem o mestre Thiollent, o Soltec não existiria do jeito que é”.