Na quinta-feira, dia 13 de março, a Escola de Comunicação da UFRJ (ECO) convidou para palestrar a Aula Inaugural, Ronaldo Lemos, da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ronaldo faz parte de uma equipe que está desenvolvendo um estudo sobre as mudanças que estão acontecendo na produção de Cultura. "Hoje as pessoas estão produzindo e divulgando seu próprio conteúdo via internet: ‘a indústria cultural encontrou um concorrente à altura: o seu próprio público’, afirmou Ronaldo.
O problema é que isso está gerando uma discussão sobre pirataria e direito autoral. O rendimento financeiro de algumas produtoras está seriamente prejudicado devido ao crescente compartilhamento de arquivos via internet. Segundo Ronaldo, a Sony BMG, maior gravadora de música no país, possuía no Brasil apenas 40 músicos contratados e planejava fazer demissões.
Por não poder ignorar mais esse conflito foi desenvolvido pela Universidade de Stanford e Harvard o sistema conhecido com Creative Commons (CC). Dessa forma qualquer interessado pode usar uma informação, desde que siga as exigências do autor da idéia, que pode ser a inserção de crédito, a não modificação, a não comercialização, ou o compartilhamento de dados. Segundo Ronaldo este sistema é legal porque respeita a lei de Direito Autoral que garante ao autor a proteção do conteúdo.
Hoje o número de usuários ainda é pequeno: uma em cada 290 sites do buscador Yahoo® possui esse sistema. Já é possível usar essa política em quase todo o continente Americano, em parte da Ásia e em países como Austrália e África do Sul. No caso do Brasil, o site do Canal Brasil já utiliza a técnica e libera todo o seu conteúdo desde que os interessados informem nos créditos a participação da emissora.
O que também está em grande evidência hoje são sites de conteúdo colaborativo, que são construídos a partir de informações dadas pelos próprios usuários da rede. Um dos mais famosos é a Wikipedia, uma enciclopédia virtual. Considerado um dos sites mais visitados no mundo, essa enciclopédia possui cerca de 1,5 milhões de verbetes em inglês e 500 mil em português. Para a segurança dos usuários, uma pesquisa investigou o site e disse que o número de erros da Wikipedia é muito próximo ao da Enciclopédia Britânica.
A questão do cinema
Engana-se quem pensa que o maior cinema mundial é o norte-americano ou o indiano, que produzem, respectivamente, uma média de 611 e 934 filmes por ano. Segundo Ronaldo, a Nigéria produz cerca de 1440 filmes por ano (30 por semana) que são vendidos por U$$ 3,00 a unidade ou alugados a U$$0,50. Como no país não existem cinemas os filmes são vendidos em feiras pelas cidades e hoje já são distribuídos via satélite para todo continente africano.
Ronaldo citou também o caso do filme brasileiro Cafuné. No dia em que foi lançado no Brasil, o longa metragem também foi liberado na internet pela própria produtora. Contrariando as expectativas, depois de duas semanas, a atitude gerou curiosidade e o filme garantiu mais espaços nas salas de cinema.
Novas possibilidade
Para Ronaldo a grande inovação que acontece a partir dessas mudanças é que a “periferia começa a ocupar o espaço de produção de conteúdo e cultura”. É o que acontece, por exemplo, com o chamado “tecno-brega”, ritmo que surgiu no Estado do Pará e mistura o som dos anos 60 e 80. Os grupos produzem CD’s e DVD’s, que são vendidos por comerciantes ambulantes. A arrecadação das bandas vem das vendas de produtos durante as apresentações. Chegam a vender 60 CD’s por apresentação. Hoje os grupos estão se popularizando e segundo Ronaldo, existem grupos que possuem até aviões.