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Memória

Presidente da Aneel fala sobre recursos hídricos e energéticos no CT

 Foto: Fernanda de Carvalho
 
 Jerson Kelman, presidente da Agência Nacional de
  Energia Elétrica (Aneel)

Na sexta-feira, dia 16 de março, a Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Poli/UFRJ) promoveu sua aula inaugural, ministrada por Jerson Kelman, presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O tema da aula foi “A expansão da energia elétrica”, e estiveram presentes, no auditório do Centro de Tecnologia (CT/UFRJ), os professores Ericksson Rocha e Almendra, diretor da Poli; Walter Issamu Suemitsu, decano do CT, e Carlos Antonio Levi da Conceição, Pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento (PR-3). 

Kelner, que já ocupou o cargo de diretor-presidente da Agência Nacional de Águas, optou por começar a aula falando sobre a questão dos recursos hídricos, com ênfase na hidroeletricidade e nas discussões acerca da transposição de rios.  Ele lembrou que o próximo dia 22 é o Dia Mundial da Água, momento no qual todo o planeta irá discutir o problema da escassez hídrica, que também afeta nosso país: “8 % dos domicílios urbanos no Brasil não tem abastecimento de água”, informa Jerson.
 
Transposição

Quando um bem natural é de todos, e não possui nenhuma administração ou regra de uso, pode acabar se tornando indisponível. O chamado “estresse hídrico”, que afeta países do oriente médio, é caracterizado por conflitos resultantes da escassez de água, já que ela é um elemento fundamental para o desenvolvimento.


Em nossos rios, por exemplo, o esgoto que uma cidade montante – localizado no alto curso de um rio – despeja na água afeta o abastecimento da cidade juzante (rio abaixo), uma vez que esta irá utilizar uma água imprópria para abastecer sua população. “É claro que aqui teremos um conflito, o qual precisa ser administrado. O mesmo ocorre com a irrigação”, explica o presidente da Aneel.

O caso específico da Bacia do São Francisco e o projeto sobre a transposição do Velho Chico, objeto de discussão de engenheiros e políticos, foram ressaltados por Kelner durante sua aula. Ele explica que a transposição nada mais é que um conjunto de obras de engenharia, onde são construídas estações elevatórias, que bombeiam a água para reservatórios e canais. No caso do São Francisco, as águas transpostas iriam para lugares como Fortaleza, Pernambuco, Paraíba, etc., auxiliando suas populações nas épocas de seca.

A transposição do São Francisco pode ser resumida em dois objetivos básicos. Um é aumentar a garantia do abastecimento de água das populações urbanas, ajudando no desenvolvimento das indústrias que lá queiram se instalar. Nenhuma atividade econômica vai para o Nordeste sem essa garantia.

O outro é armazenar a água excedente do rio em açudes da região receptora, para uso durante a seca. A idéia é que a maior parte da água que será transposta vem do rio em época de cheia, com água sobrando. “O rio não secará com as obras de transposição, como muitos têm argumentado. O efeito é absolutamente insignificante, pois a água que será transposta e armazenada é o excesso”, explica Kelner.

Na verdade, se fosse utilizada apenas para o abastecimento doméstico, a água da região nordeste seria suficiente, e não haveria necessidade de nenhuma obra para desvio e armazenamento do recurso hídrico. Mas, não podemos esquecer que a água é de suma importância para as atividades econômicas da região, como a indústria e a irrigação na agricultura.

Tirar água rio acima significa que há menos águas para passar nas turbinas da usina hidrelétrica, logo, há grande possibilidade de surgimento de um conflito entre irrigação e produção de energia elétrica na região do São Francisco.
 
O setor elétrico

Atualmente, a Aneel é quem decide o preço da energia elétrica no Brasil. O preço é regulado porque alguns setores são o que chamamos de “monopólio natural”, ou seja, a competição não serve aos interesses do consumidor. “Para regular um preço justo é que existem agências reguladoras”, complementa Kelner.

Ele também falou sobre os segmentos do setor elétrico em nosso país, que incluem a geração, a transmissão e a distribuição. No Brasil, o governo decide a demanda energética, estabelece quais usinas vão ser construídas, entre outros.

As linhas de transmissão também ficam a cargo do governo, e ganha o direito de construir e operar a linha durante trinta anos quem oferecer o aluguel anual mais barato por essa linha. Na distribuição, as empresas investem o que julgam necessário para prestar seus serviços, mas competem com uma empresa virtual, que é controlada pelo regulador, no caso a Aneel.

Meio ambiente

Nosso país possui 85 mil km de linhas de transmissão de energia elétrica, para viabilizar o transporte de grandes blocos de energia entre as regiões, vindos principalmente das hidrelétricas. A região Sudeste pode socorrer o Nordeste, por exemplo, quando lá há seca e carência de energia.

O presidente da Aneel apóia um projeto polêmico. Ele propõe a construção de usinas no arco onde há a transição entre o planalto e a planície amazônica, o que implica uma série de cuidados ambientais. “É lá que, em primeiro lugar, devemos identificar em quais locais podem ser construídas usinas, para depois dizer como fazer o projeto”, afirma Kelner.


Ele observa que sempre haverá impactos ambientais em casos como esse, mas é a favor do desenvolvimento que a geração de energia elétrica proporciona, como a criação de empregos e de melhorias na qualidade de vida da população. Além disso, com a proibição dos órgãos de licenciatura ambiental para a construção de novas usinas, ficamos sem utilizar um recurso que é renovável.

Jerson Kelman destacou o desafio que é a formação de engenheiros qualificados para o trabalho no setor elétrico brasileiro. Ele acredita que a geração atual tem grandes chances nesse sentido, o que deixou muitos estudantes otimistas.

“Saber projetar efetivamente, saber fazer inventários, saber o que é necessário para que uma idéia vire produção de energia elétrica, tudo isso foi se perdendo com o passar do tempo. A responsabilidade da escola de engenharia em retomar isso, e formar engenheiros capazes de atender a essa demanda que vem por aí é fundamental”, conclui Jerson.