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Estudantes remodelam o trote universitário

A glória para todo vestibulando, após um ano de dedicação aos estudos, é ingressar na universidade, e a expectativa é sempre grande em torno do trote. Porém, essa entrada é permeada por inúmeros ritos que, ao longo da história, não raro, ultrapassaram a cordialidadee foram marcados por violência e desrespeito aos recém-chegados. Os abusos dessa relação, já conhecidos pela sociedade, determinaram o fim da vida acadêmica de um jovem estudante de medicina da Universidade de São Paulo, 1999. No entanto, esse cenário vem sendo alterado, deixando para trás o chamado "trote medieval", que define as práticas agressivas e abrindo espaço para uma recepção mais integradora e descontraída.

A exemplo do trote aplicado pelos veteranos da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é possível fazer da semana de ingresso um misto de atividades que vão desde a tradicional pintura do corpo para arrecadação de verba para a chopada, passeios às instalações do campus e apresentação de projetos organizados pelos próprios estudantes até a exibição de filmes seguidos de debate. "A intenção é entretê-los com as brincadeiras, zoar algumas vezes, criar maior expectativa em relação à vida acadêmica, mas nada que vá humilhá-los profundamente ou machucá-los, em hipótese alguma”, declara Carolina Leal, veterana do 4º período de comunicação.

Já na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, a UniRio, a semana dos calouros conta ainda com um dia de "Trote Solidário”. A idéia consiste em uma arrecadação de alimentos, brinquedos e roupas levadas pelos calouros e ainda uma visita ao INCA, o Instituto Nacional do Câncer, para que doem sangue. A visita não é obrigatória, mas tem grande adesão dos calouros. Os veteranos acreditam que essa ida ao Instituto pode criar nos estudantes o hábito da doação, já que a maioria completa 18 anos ao entrar na faculdade.

Observa-se que, por se tratar de um evento organizado por outrora calouros, há uma visível hierarquização de poderes e direitos e, com isso, uma natural intimidação dos mais novos diante dos veteranos, até temidos inicialmente. Mas é notável o esforço de aproximar os estudantes e principalmente de surpreendê-los, ainda que a tentativa nem sempre tenha sucesso. Já que a universidade é local de grande produção de conhecimento e amadurecimento intelectual, os estudantes não querem deixar a desejar no fator criatividade, renovando assim a recepção dos novatos, seus sucessores dentro da faculdade.