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Como será o mundo em 2025?

A discussão em torno dos “cenários não lineares para o século XXI” foi tema da aula inaugural do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ). A aula foi ministrada por Francisco Carlos Texeira da Silva, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS/UFRJ), na última terça-feira, dia 6 de março.

O professor destacou a elaboração de uma geopolítica para o século XXI, com foco na construção de cenários. Esta construção, segundo ele, é uma atividade extremamente importante para o planejamento do Estado, das agências públicas e das empresas, em um mundo onde a dinâmica é cada vez mais acelerada.  

Foram relembrados fatos históricos, como a Guerra Fria, que teve início em 1945. O conflito ideológico, entre americanos capitalistas e soviéticos socialistas, chegou ao fim com o colapso da URSS, em 1991, quando foi estabelecida a Nova Ordem Mundial. O historiador também discursou sobre a hegemonia do poder norte-americano e as características que fazem de uma nação um grande império.

Globalização e Terrorismo

Os EUA possuem um caráter extremamente evangelizador, acreditando na difusão do chamado american way of life pelo mundo. O processo de globalização produz o choque de civilizações, que é a principal fonte de resistência ao império norte-americano. “Teremos graves problemas, pois muitas pessoas vão reagir à globalização com um processo de retribalização, negando-se a viver no american way”, explica Francisco.

Segundo ele, a alma da idéia de Globalização é a constituição de redes, não se referindo apenas às de fluxos de capitais, negócios e informações, mas também às redes do narcotráfico e do terrorismo.

Estas duas últimas, em particular, terão um futuro importante no século XXI. “Os investimentos feitos para o controle do narcotráfico e do terrorismo, e os resultados que daí vieram, são absolutamente desiguais, e apontam para o fato de que vamos continuar tendo problemas extremamente fortes nesse sentido”, projeta o professor.

O surgimento desses novos atores globais, que escapam às lógicas do Estado Nação e das Relações Internacionais, revoluciona o cenário mundial. “Não há dissuasão possível contra a Al Qaeda. Esta não pode ser atingida, não possui território, nem economia. No entanto, possui armas, inteligência e poder de declarar guerra. O mesmo se aplica ao narcotráfico”, exemplifica Francisco.

Essa resposta assimétrica dos chamados Estados Rede, junto à imprevisibilidade de suas ações, resulta em um clima de insegurança global. O controle das liberdades civis e a quebra da privacidade são algumas tendências destacadas pelo historiador durante a aula.

II Guerra Fria: uma possibilidade

A nova agenda de preocupação global inclui uma série de itens graves, cujos problemas estão em crescimento, como as questões do terrorismo, narcotráfico, meio ambiente, energia, água, alimentos, entre outros. Poucos sabem, mas, há três anos, a produção de alimentos do planeta está abaixo das reservas estratégicas mínimas.

O mundo caminha para uma crise onde a escassez de alimentos e a busca por uma matriz energética alternativa formarão um verdadeiro cabo de guerra: ou produz-se alimentos para a população, ou queima-se esses alimentos, que serão transformados em biomassa, substituindo a matriz de energia fóssil.

A China, único lugar do mundo que possui profunda continuidade histórica (mesma escrita, idioma, religiões, tradições, desde o primeiro imperador), é um país que vem chamando a atenção, ao retomar seu papel de centro tecnológico e econômico.

O professor Francisco acredita na possibilidade de uma nova Guerra Fria na Ásia Oriental, uma vez que o eixo econômico do mundo está se deslocando do Atlântico, em especial do Atlântico Norte, para esse local.

“Por volta de 2025, a maior parte de toda a riqueza do planeta vai estar na concha do Pacífico. As duas margens do pacífico – que incluem EUA, China, Japão, oriente russo, etc. – serão o grande centro da riqueza mundial”, afirma o historiador.

A disputa pelo domínio do Pacífico, segundo ele, provavelmente irá resultar numa II Guerra Fria. A mudança iminente na hegemonia do poder mundial pode resultar em um grande enfrentamento entre a China e os EUA.

Esse conflito pode depender apenas de Taiwan, a província rebelde chinesa que possui imenso potencial financeiro e tecnológico. “A absorção de Taiwan pela China irá consolidar a unidade nacional, além de potencializar a riqueza e o poderio do país imensamente, tornando o choque com os EUA quase que inevitável”, conclui Francisco, que saiu do auditório lotado da Coppe carregando muitos elogios sobre sua aula. Quem disse que Engenharia e História não combinam?