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Memória

Reitor visita acampamento da UNE

No dia 1º de abril de 1964, as chamas que consumiam o prédio da União Nacional dos Estudantes (UNE), localizado no número 132 da Praia do Flamengo, anunciavam não só a destruição do reduto carioca de estudantes, intelectuais e ativistas, mas simbolizavam também a conquista definitiva do poder político do país pelos grupos militares de Direita. Trinta anos mais tarde, em 1994, o Presidente Itamar Franco devolveu a posse do terreno para a entidade estudantil; foi no dia 1º de fevereiro de 2007, porém, que cerca de quatro mil estudantes, depois de realizarem uma passeata artística pelas ruas do Rio de Janeiro, recuperaram o espaço, onde funcionava um estacionamento irregular.

 Foto: Juliano Pires
Aloísio Teixeira: apoio à retomada
do terreno da Praia do Flamengo
pela UNE

O reitor Aloísio Teixeira, acompanhado de José Roberto Meyer, pró-reitor de Graduação (PR-1), Laura Tavares, pró-reitora de Extensão (PR-5), e Paula Mello, coordenadora do Sistema de Bibliotecas e Informação (Sibi), foi até o acampamento da UNE, no último dia 16 de fevereiro. Recebido com entusiasmo pelos 150 estudantes que ocupam atualmente o lugar, Aloísio relembrou momentos de sua participação no movimento estudantil dos anos 1960 e manifestou apoio à decisão da UNE de retomar o terreno:

– A UNE não é produto da cabeça de meia dúzia de pessoas, não é uma construção de um grupo de partidos políticos; ela é resultado da luta, da organização e da consciência democrática dos estudantes, por isso ela nunca pôde ser destruída. A ocupação desse lugar é muito mais do que um ato simbólico. A reconstrução democrática do país passa pela reconstrução do prédio da UNE – destacou o reitor.

Depois de receber das mãos de Gustavo Petta, presidente nacional da UNE,

 Foto: Juliano Pires

 Dirigentes da UFRJ e estudantes 
  entoam o Hino da UNE

a bandeira do movimento estudantil, Aloísio Teixeira puxou o hino da entidade, entoado, com emoção, pelos jovens presentes. Compareceu também ao encontro o professor Edwaldo Cafezeiro, da Faculdade de Letras (FL); Cafezeiro rememorou suas atividades junto ao Teatro da UNE, palco de grandes iniciativas artísticas nas décadas de 1950 e 1960, além de comentar a importância cultural da instituição nesse período.

Na opinião de Flávia Calé, aluna da UFRJ e

Foto: Juliano Pires 
Para Flávia Calé, do DCE/UFRJ,
a ocupação simboliza o engajamento
do movimento estudantil atual.

integrante do Diretório Central dos Estudantes Mário Prata (DCE/UFRJ) acampada no terreno, a visita do reitor representa a de toda uma geração que ajudou a consolidar a UNE, através da luta pelo restabelecimento da democracia no país: “A nossa juventude é muito saudosista de um período que não viveu. Ficamos à sombra dos estudantes dos anos 1970. Acho que esse acampamento marca a nossa geração, caracteriza-a, traz uma identidade a ela. Junto com ele está o que a nossa geração faz de importante”, completa.

Estudantes permanecerão acampados até início das obras

Os jovens, provenientes de vários estados brasileiros, garantem só saírem do local após o início das obras de construção de um novo prédio para a UNE. Para tanto, no dia 16 de fevereiro, o acampamento recebeu cinco contêineres, que, depois de serem mobiliados com condicionadores de ar e beliches, servirão como dormitório, em substituição das atuais barracas de camping.  Além disso, o terreno já possui refeitório, banheiros e escritório para os estudantes.

– Essa ocupação significa muito para o movimento estudantil no Brasil e,

 Foto: Juliano Pires
 Ocupação só se dissolve  após início
 da construção do prédio da UNE

em especial, no Rio de Janeiro, um lugar que teve uma história de lutas com repercussão política muito grande. Hoje, o nosso estado continua sendo um pólo político importante, mas está aquém do seu papel. Trazer a UNE para cá significa reafirmar a nossa história de luta contra as idéias retrógradas – enfatizou Mirian Starosky, estudante de Psicologia da UFRJ.

Para fugir do ócio, os acampados montaram um roteiro diário de atividades culturais abertas à comunidade, que inclui oficinas de todos os tipos, entre elas aulas de malabares, artes plásticas, confecção de máscaras, capoeira, expressão corporal e reciclagem. Os estudantes fazem ainda exibições semanais de filmes e ensaiam peças de teatro.