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Memória

Darcy Ribeiro, um homem de “fazimentos”

Sou um homem de causas, vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado, pelas causas que comovem. Elas são muitas, demais; a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária. Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas”. Darcy Ribeiro

 Neste mês de fevereiro o país celebra 10 anos da morte de Darcy Ribeiro, um homem que durante seus 75 anos de vida lutou por uma educação brasileira de qualidade. O realizador mineiro era uma pessoa de “fazimentos”, como ele mesmo dizia.

Darcy foi um etnólogo, antropólogo, professor, educador, ensaísta e romancista que escreveu sobre a importância da educação no processo de desenvolvimento e democratização do país. Inspirado no movimento da Escola Nova, foi um dos primeiros a engajar-se politicamente na causa do ensino público, gratuito e de qualidade. “Ele tinha a idéia de que as universidades deveriam ter suas matérias, cadeiras e estudos interligados. Seus conceitos são como metas que não devemos abrir mão nunca”, analisa Libânia Xavier, professora da Faculdade de Educação.

Para ele, o sistema educacional brasileiro era elitista e desonesto, uma vez que promovia a exclusão, consciente ou não, das crianças de classes populares. Ele acreditava que parte dos problemas desse sistema se devia ao modelo de universidade vigente, conservador e descomprometido com a sociedade.

Entre suas primeiras criações estão os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), as e a Universidade de Brasília (UnB), projeto de Jucelino Kubitschek, que projetou dentro de uma nova concepção de ensino superior, buscando eliminar ao máximo os formalismos e criar uma instituição livre em que a pesquisa seria voltada para a resolução dos problemas nacionais. “Sua influência na construção da Universidade de Brasília foi fundamental. Articulando-se com educadores de ponta, entre eles Anísio Teixiera, criaram a UnB como uma universidade que, em toda a sua estrutura, deveria ser um espaço para se pensar as questões brasileiras”, explica a professora.

Ao longo da vida, foi ministro, vice-governador do Rio, acadêmico, educador, senador. Além disso, coordenou no Congresso Nacional a elaboração da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) — que em reconhecimento foi batizada com seu nome.

Por uma nova Universidade

Exposição de Motivos do Projeto de Lei que instituiu a Universidade de Brasília, enviado por Juscelino Kubitschek ao Congresso Nacional em 21 de abril de 1960. Presidente da Comissão: Anísio Teixeira, Relator: Darci Ribeiro.

“Propõe-se uma estrutura nova da formação universitário, para dar-lhe unidade orgânica e eficiência maior. O aluno que vem do curso médio não ingressará diretamente nos cursos superiores profissionais. Obterá uma preparação científica e cultural em Institutos de pesquisa e de ensino, dedicados às ciências fundamentais. Nesses órgãos universitários, que não pertencem a nenhuma Faculdade, mas servem a todas elas, o aluno buscará, mediante opção, conhecimentos básicos indispensáveis ao curso profissional que tiver em vista prosseguir.”