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Solidariedade e universidade: uma rima além da escrita

Os “soltecos”, como são carinhosamente chamados os membros do Núcleo de Solidariedade Técnica (Soltec), da Escola Politécnica da UFRJ, atuam em prol do desenvolvimento social, unindo os conhecimentos adquiridos em sala de aula e a boa vontade para ajudar os que precisam.


 

 O Soltec surgiu em 2003, fruto de uma idéia conjunta de estudantes e professores, preocupados em construir uma formação mais crítica para os estudantes de Engenharia. Baseado no tripé “Ensino, Pesquisa e Extensão”, o núcleo, vinculado à Escola Politécnica da UFRJ (Poli), reúne uma equipe engajada socialmente. Os “soltecos” mostram que é possível transformar conhecimento e solidariedade em aliados na promoção dos direitos humanos.

Vários são os projetos interdisciplinares realizados pelo organismo, que busca, através da ação solidária, gerar trabalho e renda para as camadas menos favorecidas da sociedade. “Atuar nos projetos, desenvolvendo competências sócio-técnicas, faz com que tenhamos uma visão mais ampla, para além da universidade”, destaca o “solteco” Vicente Nepomuceno, estudante de Engenharia Mecânica.

Julia Castro, aluna de Engenharia de Produção, e também membro do núcleo, afirma que “nossos projetos são auto-sustentáveis, ou seja, não vamos ao campo com o pensamento de que, quando formos embora, nada mais será feito; queremos, por outro lado, que as pessoas e comunidades beneficiadas possam sustentar-se com o que geramos para melhorar suas vidas”.

Metendo a “mão na massa”
Um dos projetos realizados pelo Soltec é uma parceria com a Associação de Produtores Autônomos da Cidade e do Campo (Apac), em São João de Meriti. Nesse projeto, estudantes bolsistas e voluntários trabalham pela criação de uma horta comunitária no município, próxima à associação. Eles buscam dialogar sobre os problemas e possíveis soluções, consolidando o espírito de grupo.

Após uma série de conversas para tratar do funcionamento desse projeto, o Soltec uniu-se à comunidade local para “colocar a mão na massa”, e dar início à criação da horta. “Foi gratificante ver tudo aquilo, que antes estava no papel, realmente acontecendo”, relata Diogo Prado, estudante de Engenharia de Produção. “Melhor ainda foi ver a comunidade local participando, ajudando no preparo do terreno e dando material para a compostagem”, comemora o futuro engenheiro.

O Soltec, através de seus projetos, permite a interação do estudante com sua realidade, fazendo com que a produção de conhecimento da universidade seja posta em prática à favor da sociedade e da formação do próprio estudante.

Para Maria de Fátima Farias, voluntária no projeto Apac e aluna de Ciências Sociais, poder unir a ação solidária ao trabalho que envolve o aprendizado em aula é vital: “quando partimos para a prática, trocando energia e conhecimento com os de fora, temos a chance de medir o quanto crescemos como seres viventes e atuantes no espaço em que habitamos”.

Diálogo com a sociedade
Os “soltecos” gostam do trabalho que realizam e são conscientes de seu poder transformador. Além do Apac, o núcleo possui outros projetos, como o Cooparj (Cooperativa de Parafusos do Rio de Janeiro), o Papesca (Projeto de Pesquisa Ação na Cadeia Produtiva da Pesca), Prucore (Projeto Uso Consciente de Resíduos da UFRJ), entre outros. Todos constroem pontes entre o conhecimento técnico – que muitas vezes parece alienante – e a aplicação prática – que vai além do que se pode aprender na escola. “Nós não apenas ensinamos o que adquirimos nas salas de aula, mas também aprendemos a aprender, a admirar a subjetividade de cada indivíduo”, analisa Augusto César, estudante de Engenharia de Produção e bolsista do Soltec.

Uma das ações mais importantes do Núcleo é o resgate do diálogo com e na sociedade. No Papesca, em Macaé, por exemplo, foi através de conversas entre os membros do Soltec, pescadores e atores locais que foram levantados os problemas da pesca na região, e os possíveis caminhos para solucioná-los.

Felipe Addor, pesquisador do Soltec acrescenta que o núcleo “é a concretização de um sonho, no qual a universidade brasileira, especificamente na área técnica, seja construída em diálogo com a sociedade”.

Êêêtcha!
Anualmente, o Soltec realiza o Encontro Nacional de Engenharia e Desenvolvimento Social (Eneds), que esse ano chegou à sua terceira edição (dias 31/08 e 1º/09), com o tema “A Tecnologia na geração de trabalho e renda no Brasil”. Um dos objetivos do encontro foi mostrar como a Engenharia pode estar envolvida com projetos sociais, atuando de forma significativa.

A novidade do Soltec, desde o mês de novembro passado, é a primeira edição de um informativo, o “Êêêtcha!”, veiculado na página eletrônica do núcleo: www.soltec.poli.ufrj.br. Nele encontram-se informações sobre o Soltec, projetos, tudo aos moldes do núcleo, feito com dedicação por seus membros.

É assim, em um ambiente de muita solidariedade, que os “soltecos” estão em constante crescimento, tanto profissional, quanto humano. Felipe Addor vê nos projetos do Soltec uma forma de conscientizar e sensibilizar a todos para as demandas sociais do Brasil. “Além disso, colocamos, em nosso ambiente de trabalho, o carinho e a amizade como peças fundamentais para a atuação profissional”, conclui o pesquisador.

 
Leia DECRETO APOIA A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE, sobre o Projeto Uso Consciente de Resíduos (Prucore), do Soltec.