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Capitalismo cognitivo: seminário de polêmicas

Provocação e desafio marcaram a abertura do seminário “Capitalismo Cognitivo: comunicação, linguagem e trabalho”, nesta terça à noite (5/12), no salão nobre do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Após ler inúmeras declarações de pensadores da esquerda e da direita dadas à imprensa sobre o Bolsa Família, Giuseppe Cocco, do Laboratório Território e Comunicação da Escola de Serviço Social (LabTeC/ESS/UFRJ) avaliou que  “as críticas parecem perdidas e embaralhadas”.

O professor Giuseppe, também curador do evento, destacou os resultados da recente pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). “Esse trabalho desmente seus opositores ao programa, pois aconteceu o crescimento da renda dos mais pobres cresceu nos últimos cinco anos. Apesar disso, o Brasil ainda permanece como o país mais desigual da América Latina”.  O chamado carro-chefe do governo, que atende hoje cerca 11 milhões de famílias, foi usado pelo docente para fazer um contraponto sobre as reivindicações de desenvolvimento, que marca o debate nacional, após o final das eleições.  “Dizem que devemos deixar de crescer como o Haiti, destravar a economia e criar empregos, mas avançar sobre que paradigma”, indaga Giuseppe.

O professor do Núcleo de Estudos e Projetos em Comunicação (Nepcom/UFRJ), Micael Herschmann, também frisou que alguns termos definidos por correntes da esquerda e direita se tornaram “anacrônicos” frente aos novos tempos marcados pela tecnologia. “Dentro da minha área (comunicação) ainda temos dificuldade de incorporar novas categorias . Diante da nova realidade social, conceitos como propriedade, troca e valor já aparecem insuficientes”.

Já o convido internacional da noite, o filósofo francês Maurizio Lazzarato (Universidade de Paris), lembrou que o capitalismo cognitivo coexiste com o tradicional modo de produção e consumo desse sistema econômico. “Ele recebe vários nomes e esse novo espírito começou a nascer em 1968 com os estudantes, que recuperaram a política da diferença e a transmitem aos chamados boêmios burgueses. Eles buscam a autonomia, a autenticidade e a liberdade em seus trabalhos. Mas vivem a mercê de projetos e o custo de suas flexibilidades é repassado por seus empregadores”.

Para o também sociólogo Maurizio,  o problema contemporâneo não está na questão na “utopia do pleno emprego” , defendida pelos movimentos socialistas, mas na redistribuição das riquezas. “As políticas sociais são fundamentais, pois são capazes de equacionar um antigo conflito do poder entre economia e política”.

Software livre
Encerrando o primeiro dia do seminário, o professor da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero (SP), Sergio Amadeu, descreveu o panorama luta pelo software livre. “Apesar da tecnologia permitir cada vez mais avanços na colaboração e compartilhamento do conhecimento, o sistema capitalista está impondo cada vez mais restrições ao acesso e ao conteúdo”, disse Amadeu, destacando a diferença entre propriedade e autoria. “A maior bobagem que a universidade brasileira está fazendo é esse incentivo a lógica das patentes. Invenções ou inovações tornam-se rapidamente obsoletas e esses cercos de direitos não colaboram em nada para o desenvolvimento da ciência e da humanidade”.

O seminário continua hoje com o debate “trabalho e empresa na era do capitalismo cognitivo”. Entre os palestrantes: Antoine Rebiscoul (The Goodwill Company – França) e Fábio Malini (Universidade Federal do Espírito Santo).