Em sua oitava edição, o Festival do Rio impressiona e aumenta seu número de apreciadores.
A idéia surgiu em março de 1999 e desde então vem se consolidando como o maior encontro de cinema da América Latina. Esse é o Festival do Rio, resultado da fusão de dois grandes festivais brasileiros: o Rio Cine Festival e a Mostra Banco Nacional de Cinema, ambos nascidos na década de 1980.
Em sua 8ª edição, o evento se mostra mais forte do que nunca, afinal, a última edição foi fundamental para firmar seu sucesso ao ter alcançado o número de 230 mil espectadores nas suas 1261 sessões. Mais do que números, importam para a organização do Festival a diversidade, a oportunidade de, em apenas um evento, contemplar diversos públicos.
O Festival, que esse ano teve início em 21 de setembro e termina em 5 de outubro, é um dos seis maiores encontros mundiais de cinema. São apresentados ao público os principais vencedores dos festivais de Cannes, de Sundance, de Veneza e do Oscar, além de uma série de novidades. Assim, em torno de 380 filmes inéditos, produzidos no Brasil e no exterior, são exibidos em mais de 20 mostras, em 35 salas, que vão da Barra da Tijuca a Guadalupe.
Mostras variadas
Distribuídas nas inúmeras salas de cinema do circuito carioca, as mostras buscam levar o espectador a mergulhar em diferentes universos. Dentre elas, estão a “Panorama Mundial”, onde ocorrem estréias dos filmes mais esperados; a “Midnight Movies” que exibe “bizarrices” em suas obras experimentais; “Expectativa”, que reúne trabalhos de diretores iniciantes, mas que participaram de outros festivais internacionais. Na mostra “Limites Fronteiras”, por exemplo, são passados filmes que retratam a realidade de áreas envolvidas em constantes conflitos, como é o caso do Iraque.
Dentre as mostras, a mais concorrida é a “Première Brasil”, que nesse ano apresenta 50 títulos. Nela, são exibidas as mais recentes produções brasileiras, divididas nas categorias “Competitiva”, “Retratos” e “Hors Concours”, entre curtas e longas-metragens. São dez longas de ficção, sete documentários e 17 curtas-metragens apenas na Mostra Competitiva, em que os vencedores são escolhidos por voto popular e pelo júri oficial, que nessa edição do Festival, terá como presidente o diretor Nelson Pereira dos Santos.
O Festival do Rio tem sua notoriedade garantida, pois além das estréias e das oportunidades únicas, é também espaço para inovações tecnológicas e artísticas como os pocket films – inseridos na Mostra de Curtas. Este formato de filme é baseado nos registros das simples câmeras de celular que permitem um novo paradigma de arte e cinema. Nesta categoria, Consuelo Lins, professora da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ e cineasta, apresenta um vídeo de seis minutos intitulado “Lectures”, participante do 1º Festival de Filmes de Celular de Paris. O curta foi filmado nos trens e metrôs de Paris retratando o hábito de leitura dos franceses em veículos coletivos.
A importância do Festival do Rio
O evento não é importante apenas pelo crescimento gerado na área de cinema, mas também por levar a regiões carentes da cidade do Rio de Janeiro, como a Norte e a Oeste, a cultura advinda do cinema. Desde 2001, com a ajuda da Prefeitura da cidade, é montada, nas lonas culturais, uma programação gratuita de filmes de sucesso para as comunidades onde não há salas de projeção.
O Festival do Rio, organizado pelo Cima (Centro de Cultura, Informação e Meio-Ambiente) e pelo Grupo Estação, é atualmente um ponto de encontro para discussões sobre a criação cinematográfica e para negociações ligadas à produção e exibição de filmes no Brasil.
Professor da UFRJ lança filme no Festival
Fez parte da mostra Première Brasil desse ano o documentário Expedito: em busca de outros nortes, dirigido pelo professor do Instituto de Economia da UFRJ, Beto Novaes. Exibido na categoria Retratos, parte da Première, o filme destaca o processo de ocupação da Região Amazônica por trabalhadores rurais nos anos 1970, tomando como centro a figura de Expedito Ribeiro de Souza, líder sindical na região perseguido e morto por grandes fazendeiros locais.
Co-dirigido por Aída Marques, professora de Cinema e Vídeo da UFF, o filme é composto por depoimentos de familiares, trabalhadores que conviveram com Expedito e pesquisadores no assunto. Além de trazer a público a saga de Rio Maria, no Sul do Pará, a organização dos trabalhadores rurais brasileiros na década de 1980 e o cenário onde se desenvolve a história de Expedito Ribeiro de Souza, o lavrador poeta, sucessor de João Canuto na presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, o documentário de Beto Novaes tem como objetivo mostrar a herança deixada por Expedito no contexto de tensões sociais que ainda persistem na região em virtude da disputa por terras.