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3º Congresso de Extensão da UFRJ

Após 5 anos de abstinência na discussão sobre o papel da Extensão na universidade, a UFRJ deu início ao seu 3º Congresso de Extensão Universitária. O evento, realizado entre os dias 4 e 6 desse mês nas dependências do Centro de Ciência e Saúde (CCS), pôs em pauta a principal meta da atual gestão da reitoria: a institucionalização da Extensão.

A abertura do Congresso contou com a presença do reitor Aloísio Teixeira, que fez um rápido apanhado histórico da Extensão nas universidades brasileiras, apontando as dificuldades que até hoje estão sendo transpostas para a plena implementação dos projetos. 

 – As universidades européias já faziam projetos de extensão desde o século XIX. No Brasil isso não foi assim. Uma universidade como a nossa, a mais antiga do país, só constituiu essas transformações na segunda metade dos anos 80, com o reitor Horácio Macedo. Este, por sinal, teve que desgastar um esforço monumental para tentar trazer uma cultura nova para a UFRJ – relembra o reitor.

 Nos últimos três anos, as políticas de gestão de Aloísio vêem procurando retomar e incentivar esses programas esquecidos. Segundo o reitor, “a extensão não pode ser exclusivamente da reitoria. Ela tem que ser das células constituintes da universidade, para que funcione de forma orgânica. E o que faltava era o estímulo de cada unidade, para que elas trouxessem luz aos seus programas”.

Mesas de debate articulam os rumos da Extensão
 

Após a encantadora apresentação do Coral Brasil Ensemble da UFRJ, iniciou-se a primeira mesa de debate que discutiu as políticas de Extensão Universitária. Celso Carneiro, diretor do Departamento de Modernização e Programas da Educação Superior do Ministério da Educação, apresentou as animadoras iniciativas de apoio à Extensão que atualmente estão em andamento. “Hoje, por exemplo, temos cerca de 280 programas PET (Programa Especial de Treinamento). E recentemente fizemos uma radiografia de todos eles, para que o apoio para as suas necessidades fossem supridos”, relatou Celso que ainda expôs outras iniciativas do SESu (Secretaria de Educação Superior) durante a palestra.

 Aniceto Weber, secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (MCT), defendeu a Extensão como valorização da inclusão social e acredita que a universidade pública não pode achar que se basta em si mesma. “Os estudantes têm que ter noção do país, dos excluídos, da sociedade brasileira e a Extensão pode dar essa visão mais ampla através da colocação desses jovens na fronteira dos problemas”, declara o professor.

 Laura Tavares, pró-reitora de Extensão da UFRJ e presidente do comitê organizador do Congresso, argumentou que a universidade não deve ser um espelho das ações da sociedade, profundamente marcada pelo conservadorismo e pela manutenção do status quo. De acordo com a professora, a UFRJ não deve formar profissionais apenas para o mercado, mas com a capacidade de solucionar os problemas do país. “Vivemos um momento particular, na qual a universidade não pode fugir desse debate”, afirmou a pró-reitora em declaração incisiva.

 Para a diretora do Departamento de Ensino Médio – Secretaria de Educação Básica/MEC, Lúcia Lodi, foi através da extensão que o Brasil conseguiu legitimar e democratizar o conhecimento aos bens da cultura e da produção. A diretora disse também que a legislação já dá sustentação para profissionalização docente de qualidade, o que falta, porém, é prática do que está previsto. Entretanto, “sem a mudança do padrão atual de financiamento, não se poderá fazer nada para o incremento da educação”, diz e utiliza como exemplo a dependência pelos estados do Governo Federal para pagar contas de luz ou gás.

 Acesso e permanência de jovens na universidade
O último dia do Congresso foi dedicado ao tema do acesso e permanência de jovens de origem popular na universidade. A presidente do evento afirmou que a organização dessa mesa foi feita em nome dos jovens do povo brasileiro e acredita que é função das universidades pensar estratégias para que o ingresso nos cursos públicos universalize-se.

 Maurício Roberto, participante dos Estudos de alternativas de acesso aos cursos de graduação (UFRJ), demonstrou as possíveis alternativas de sistemas de cota adotas pela UFRJ. Com gráficos e dados estatísticos dos últimos vestibulares, provou que a diferença de notas dos possíveis cotistas e dos não cotistas são praticamente iguais, o que desvalida o argumento de que o nível da formação iria cair com as políticas afirmativas de educação em vigor.

 A mesa de encerramento abordou a institucionalização da extensão na UFRJ. A pró-reitora Laura Tavares apresentou as 11 diretrizes e diversas ações que a extensão pretende iniciar ou dar continuidade. Segundo ela, o Pibex (Programa Institucional de Bolsas de Extensão) foi o principal ponto de partida para institucionalização e proporcionou mais de 700 bolsas aos estudantes da UFRJ. Desde abril, a Pró-reitoria de Extensão tem discutido como deve ser feito o processo. Todo o acúmulo desses debates, realizados em plenárias com bolsistas, coordenadores de projetos, comunidades conveniadas e entidades governamentais e não-governamentais parceiras foi apresentado durante o congresso.

 Uma das principais diretrizes é a participação geral dos envolvidos com a Extensão. Para isso, estão sendo criados o fórum e a câmara de extensão. A câmara de extensão será formada por todos os participantes que realizaram as plenárias, incluindo a representação dos estudantes não apenas pelos bolsistas, mas também pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE). Os professores e técnico-administrativos também serão representados pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ (Sintufrj) e Associação de docentes da UFRJ (Adufrj). Cada uma das representações terá um número determinado de integrantes.

 A pró-reitoria de extensão fechou o 3° Congresso com perspectivas para o futuro. A garantia de apoio a programas e projetos que viabilizem a democratização do acesso a universidade, a assistência às comunidades e a divulgação científica e cultural na UFRJ foi colocada por Laura Tavares como primordial no processo de institucionalização da Extensão e deverá favorecer a descentralização de programas já existentes. Esta é uma forma de auxiliar a desfragmentação universitária, proposta pelo Projeto de Desenvolvimento Institucional (PDI), que atualmente tanto se discute nas unidades da UFRJ.