O álcool é a terceira causa de morte no mundo, perdendo apenas para doenças cardíacas e câncer. Com cada vez mais problemas de saúde relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas, o Centro de Ensino, Pesquisa e Referência de Alcoologia e Adictologia – CEPRAL, da UFRJ, está promovendo esta semana o Simpósio Internacional – Síndrome Alcoólica Fetal (SAF).
O evento será realizado no dia 15 de setembro, às 8h, no Salão Pedro Calmon – Campus da Praia Vermelha. A iniciativa é do Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC/UFRJ) e da Maternidade Escola da UFRJ.
"Os problemas relacionados ao álcool não recebem o mesmo destaque que o cigarro, por exemplo", conta o professor José Mauro Braz de Lima, docente da Faculdade de Medicina (FM) e do INDC/UFRJ. "Hoje, no início do século XXI, os países da comunidade européia e os EUA têm no alcoolismo uma das principais questões de saúde pública", acrescenta.
Segundo José Mauro, o álcool está ligado à violência e às doenças degenerativas, psiquiátricas e cardíacas. "A visão hegemônica é muito especializada, fragmentada. Na nossa perspectiva, há um olhar mais voltado para a saúde pública", afirma.
Pesquisadora norte-americana falará sobre assunto
Segundo José Mauro, o problema do ensino médico decorre de uma questão cultural de não avançar nos programas curriculares no que diz respeito a questões como a violência, o álcool e as drogas. "Há uma dificuldade da própria academia em avançar com esses assuntos. Então, se eu pergunto o que é SAF, as pessoas não vão saber. No entanto, nos Estados Unidos mesmo, já há a chamada National Tesk Force [Força Tarefa Nacional].
Neste simpósio, estará presente a pesquisadora da University of Washington School of Medicine (Seattle, EUA), Ann Streissguth, que falará exatamente sobre esta iniciativa. Este é um sinal objetivo de que isso é um problema relevante", argumenta o professor. Segundo Streissguth, uma das maiores autoridades do assunto no mundo, as complicações orgânicas decorrentes da ação teratogênica do álcool sobre o feto são responsáveis, além das lesões cerebrais, por má-formações cardíacas e renais, entre outras.
José Mauro tem trabalhado sistematicamente com o assunto, criando o primeiro ambulatório integrado de atendimento à Síndrome Alcoólica Fetal. Ele lembra que a incidência de SAF é estimada em 1 a 2 casos por mil nascimentos vivos, maior do que a Síndrome de Down, que é de 1 por 3 mil nascimentos vivos. E alerta: "A indústria de bebidas se aproveita disso. No entanto, acredito que o principal problema é cultural". Apesar da não descartar a importância dos problemas chamados de "alta complexidade", José Mauro não deixa de criticar o ensino médico no Brasil no que diz respeito à atenção com a saúde pública. "Precisamos de médicos para pensar os problemas mais importantes da nossa sociedade", afirma. Segundo aponta José Mauro, diversas iniciativas da Faculdade de Medicina da UFRJ têm contribuído para a mudança deste quadro.
O impacto do álcool nos acidentes de trânsito, o álcool e a mulher ou o impacto do álcool na previdência social são algumas das teses orientadas pelo professor que buscam essa ligação com outras áreas do saber. No evento do dia 15, será proposta a criação de uma Semana Nacional de Prevenção à SAF, com visitas a órgãos públicos ligados ao tema, além da proposição de uma Audiência Pública na ALERJ, do Dia Estadual de Prevenção da SAF e de um Projeto de Lei que obrigue a indústria da bebida a colocar um rótulo alertando que o álcool não pode ser consumido por uma mulher grávida – algo que já existe na Europa e nos Estados Unidos. Durante esta semana, foram espalhados outdoors como parte de uma campanha educativa sobre a Síndrome Alcoólica Fetal.
Informações adicionais pelos telefones (21) 2247-0867 e 2295-9794 ou pelo e-mail josemauro@indc.ufrj.br.