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O perigo mora em casa

 Acidentes domésticos são a principal causa de morte, invalidez e hospitalização de crianças de 1 a 14 anos no Brasil. O que se constatou através de pesquisas, porém, é que ao contrário do que muitos pais pensam, esses acidentes que ferem seus filhos podem ser evitados. É o que o trabalho do professor do Instituto de Psicologia da UFRJ, Rodolfo Ribas, tenta mostrar. Com o auxílio de estudiosos da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia e da psicóloga Adriana Ribas, da Universidade Estácio de Sá, o professor iniciou um estudo sobre prevenção de acidentes domésticos.

Ao estudar as relações familiares no Brasil, Ribas esbarrou em um problema mundial: os acidentes domésticos envolvendo crianças. Apesar de o assunto parecer antigo, os dados anteriores encontrados pelo professor foram apenas expositivos. “O assunto está na moda. Só que as revistas só tem publicado os dados que estão acontecendo. As crianças se machucam, ou morrem e ponto. Mas, as causas disso, no Brasil, nenhum grupo havia começado a estudar”, explica o professor. A partir dessa constatação, sua pesquisa deu uma guinada para focar essa nova linha que necessita de respostas.

Como até a realização deste trabalho, nenhum grupo nacional havia investigado o conhecimento de pais e mães brasileiros sobre a proteção de seus filhos dentro do próprio lugar onde eles moram, a pesquisa inicial parte de uma idéia simples mas eficaz. Estudantes de psicologia da UFRJ foram treinados para entrevistar mães com idade igual ou superior a 18 anos e com filhos de até 4 anos. Foram utilizadas pranchas ilustrativas (como a figura acima) que apresentavam os cômodos de uma casa com irregularidades para a segurança de uma criança. As mães deveriam reconhecer nessas figuras os perigos e mostrá-los para os estudantes, oferecendo soluções para a prevenção. A pesquisa revelou que as mães conseguiram identificar 62% dos perigos e trouxeram precauções satisfatórias para apenas 26% dos problemas. O resultado indica que elas tiveram dificuldades para apontar os lugares com falta de segurança e muito mais para gerar boas soluções. Um exemplo que define bem esse problema das mães é quando elas foram questionadas sobre o que fazer se um rato aparecesse em suas casas. A maioria respondeu que utilizaria chumbinho, veneno altamente tóxico e de uso proibido, que poderia ser engolido acidentalmente pelas crianças. “Esse assunto não tem sido veiculado suficientemente bem”, justifica Ribas ao ser questionado sobre a avaliação final.

Com os resultados nas mãos, o grupo da pesquisa concluiu que a falta de informação era o principal motivo dos acidentes. Para reverter esse quadro, buscam parcerias para a divulgação do trabalho que seriam feitos através de planos de treinamento de professores de creches, pais e até as próprias crianças, dependendo da idade. Um primeiro passo já foi dado com um convênio fechado com o município do Rio. Pelo menos duzentos educadores de creches públicas serão instruídos de como evitar acidentes com as crianças.

O professor Ribas ressaltou que essas campanhas educativas são de extrema relevância econômica para o país. Os custos com projetos para informar a família e educadores é menor e mais eficiente do que os gastos voltados para sanar acidentes infantis em hospitais públicos. “A maior parte das crianças que vai para o pronto socorro público, vai por causa de acidentes domésticos. É ruim para as crianças que se ferem, para a família e além disso para o país. O país gasta dinheiro com uma coisa que não precisava ter acontecido”, enfatiza Ribas.

Acidentes domésticos envolvendo crianças não são atos relapsos dos pais. A informação que chega é insuficiente para interar as famílias dos cuidados a serem tomados com os cômodos da casa. Com essa iniciativa, em pouco tempo espera-se que as taxas de atendimento hospitalar de crianças feridas por acidentes domésticos reduzam sensivelmente.