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Aula inaugural do pré-vestibular da Maré

 A Pró-reitoria de Extensão (PR-5) da UFRJ, em parceria com o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm), promoveu na Lona Cultural da Vila Olímpica da Maré, um debate sobre a universidade pública, em particular a UFRJ, para dezenas de estudantes do CPV.

O debate, mediado pela professora Eliana Souza da PR-5, contou com a presença do reitor Aloísio Teixeira e o professor de Antropologia da Música, Samuel Araújo, da Escola de Música da UFRJ.

O evento foi aberto pelo reitor, que explicou que a universidade surgiu no século XII, em Bolonha, visando unificar a confusão de leis existentes na Itália não-unificada. Na América Espanhola, as primeiras universidades foram criadas no século XVI. No Brasil, a primeira universidade a ser criada foi, justamente, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1920, então chamada Universidade do Brasil, o que torna – segundo Teixeira – nossas instituições retardatárias face outros países.

O reitor ensinou aos jovens que três características são fundamentais em uma universidade: a pesquisa, o investimento em infra-estrutura e o livre pensamento. “Expressar o pensamento é indispensável”, enfatizou. “Hoje em dia, criar tecnologia passou a ser fator de competição. A função da universidade de formar quadros para o governo e empresas é posta em dúvida pela universalização do ensino superior”, explicou o reitor.
O acesso ao ensino superior tornou-se um direito do cidadão. Como exemplo disso, nos Estados Unidos e nos países europeus, mais de 50% dos jovens ingressam na universidade. No Brasil, por sua vez, essa taxa baixa a 10% (apenas 2% em instituições públicas).

O reitor salientou a necessidade de que o governo reforce seus investimentos na universidade, que deve ser, majoritariamente, pública, pois caso predomine a universidade privada, não haverá pesquisa, não haverá comprometimento com a autonomia do país.
Segundo o professor Aloísio Teixeira, houve uma melhora de investimentos no governo Lula, mas esta ainda é insuficiente. “A universidade tem de ter autonomia e mecanismos administrativos financeiros adequados às suas atividades”, declarou Teixeira.

Constatando a necessidade de aumentar o percentual de jovens na universidade, a Reitoria fará usa parte. Em 2007, a UFRJ oferecerá algo em torno de 6.500 vagas, “espero que em cinco anos, esse número chegue a 12 mil”, afirma o reitor. “Nós triplicamos o número de bolsas. Este é um tipo de ação que ajuda os estudantes a se manter”.

Não há possibilidade de um Brasil “desenvolvido e decente” se a universidade não se abrir e receber camadas mais amplas da população jovem, acredita o reitor.
Por sua vez, professor Samuel Araújo explicou à platéia, que a universidade possui três pilares: Ensino, Pesquisa e Extensão. Por meio deste último, “a universidade transpõe seus muros e procura atender às necessidades prementes da sociedade”, descreve o professor. Segundo Araújo, houve um processo de estagnação no processo de Extensão. “A comunidade tem sido chamada mais para disseminar do que para produzir conhecimento”, critica.

O Laboratório de Etnomusicologia, da Escola de Música, coordenado por Araújo, mantém uma parceria com o Ceasm, desde 2003, que resultou na criação do projeto Musicultura, documentando canções compostas no Complexo da Maré e auxiliando músicos locais.

Alguns estudantes do CPV e do Musicultura manifestaram a percepção de uma relação de amor e ódio entre a UFRJ e a Maré. Isto se deu – acreditam Samuel Araújo e Aloísio Teixeira – pois os bons projetos de intervenção social, gerados na reitoria de Horácio Macedo, não foram institucionalizados pela universidade e se perderam paulatinamente.