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Abastecimento de água: problema de saúde pública

A falta de regulamentação do setor de saneamento público compromete a qualidade do serviço de abastecimento de água do Grande Rio,o que provoca sérios problemas de saúde, afirma o professor Paulo Canedo, da COPPE/UFRJ. Embora o tratamento da água pela Cedae seja bom, a precariedade na manutenção da rede gera desperdício de quase 50% da água distribuída a cerca de 10 milhões de consumidores.

agencia2676T.jpgSem fiscalização e controlado no Rio de Janeiro por uma empresa com graves problemas, o saneamento público é uma questão, antes de tudo, de saúde pública. Apesar da boa qualidade da água tratada pela Cedae, sua desorganização acaba acarretando prejuízos para a população.

O rio Guandu, principal fonte de abastecimento de água para o Grande Rio, tem sempre água suficiente para ser tratada. O que não quer dizer que a Cedae tenha sempre a capacidade de tratar a quantidade de água necessária para abastecer a população, devido a problemas de aumento de poluição no rio, por exemplo.

A existência de algum problema de abastecimento localizado é importante sobre o ponto de vista da saúde pública, já que o racionamento de água acaba incentivando o uso de caminhão-pipa e galões de água.

“Quando a população tem que comprar carro-pipa existe um problema de saúde pública, porque essa água não tem garantia. Quando esta água não está boa, transmite doença. Não é à toa que a doença que mais mata nesse país seja diarréia, que é típica de contaminação por água”, destacou o professor Paulo Canedo, do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ, denunciando desperdício de recursos do Ministério da Sáude.

Manutenção precária

A falta de manutenção de rede é outro dilema. Ela ocasiona enormes vazamentos, acarretando insuficiência de água, ou seja, ela não chega onde devia chegar e novamente a pessoa é obrigada a usar caminhão-pipa. Além disso, obriga a Cedae a tratar mais água, o que gasta mais dinheiro.

Fora os carros- pipa, os galões de água também são considerados um vilão pelo professor. Para ele, as pessoas usam este artifício por não confiarem na empresa de saneamento, confundindo o serviço mal prestado pela companhia, com o produto de qualidade.

“O serviço é ruim, mas a água é boa, porque tem um enorme controle. Feema, Ministério da Saúde e um sem número de pessoas controlam a qualidade da água tratada pela CEDAE. A população tenta se resguardar comprando água do garrafão azul, o que aumenta o risco de doenças”, declarou.

Não fazer a manutenção da rede não causa prejuízos apenas à saúde da população. Metade da água tratada da Cedae se perde, onerando o usuário. “Logo, você poderia estar pagando a metade do que se paga em água”, afirmou o professor, que integra o Conselho Estadual de Águas.

Poluição no Guandu

Apesar da qualidade da água do rio Guandu ser ruim, isso em nada afeta a qualidade da água que as pessoas bebem, influenciando apenas o tratamento da água. Quanto mais sujo o rio, mais caro é o tratamento, mas esse processo pode conduzir a água ao nível de qualidade desejada.

A água que chega do rio Paraíba do Sul já não é boa e quando cai no Guandu ela piora. Primeiro porque há extração de areia, o que torna a água mais turva, e também porque uma boa parte da bacia está ocupada por população de baixa renda, que vive em locais onde não há coleta de esgoto.
“O esgoto cai em um valão, que escorre, vai juntando tudo e depois cai no rio, sem qualquer tratamento. Para completar, a junção desses esgotos in natura no rio fica a 300 metros da tomada água da Cedae. Se a empresa controlasse o esgoto, gastaria muito menos do que gasta com o tratamento com a água, poluída por este esgoto”, alertou Paulo Canedo.

Por vezes, em períodos críticos, essa quantidade de material orgânico no rio Guandu, em geral em dias mais quentes, gera um “boom” de algas, que consomem o oxigênio da água, deixando-a pior ainda. Algumas vezes, nascem algas que são extremamente agressivas ao ser humano. Quando geram um nível de toxidade superior a taxa prevista em lei, a Cedae é obrigada a dar um alerta geral e interromper o abastecimento.

Sem regras

Um dos grandes problemas do setor de saneamento no país é a falta de uma regulamentação que abranja todo o país. Além de não existir um órgão regulador, leis foram revogadas e as novas estão sendo discutidas no Congresso há anos, sem se chegar a uma conclusão.

“A Cedae tem uma obrigação ética, moral, de fazer as coisas. Mas não há uma obrigação contratual. O mundo não pode estar vivendo um processo coletivo em um lugar onde não há regras. Você depende da boa vontade da prefeitura e da empresa de saneamento. Não se pode funcionar desse jeito. Eu acho que é uma maravilha o sistema que nós temos dentro dessa falta de regras, porque deveria ser um caos”, concluiu o professor Paulo Canedo.