“Estou no IFCS há 30 anos e nunca vi um evento do departamento de História tão movimentado como o da semana passada”. Essa observação é do professor João Fragoso, coordenador do Seminário Internacional “Nas Rotas do Império”, ciclo de palestras promovido pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), dos dias 5 a 7 de junho de 2006, que atraiu mais de 600 pessoas, entre pagantes, estudantes do Instituto, docentes e universitários de outras instituições.
O evento, que contou com a participação de renomados africanistas, como a moçambicana, pesquisadora da Unesco, Benigna Zimba, e Luís Frederico Antunes, catedrático do Instituto de Investigações Científicas e Tropicais, de Lisboa, trouxe significativas contribuições para a discussão sobre as relações comerciais entre o império lusitano dos séculos XVI a XVIII e a África, a América e a Ásia portuguesas.
De acordo com João Fragoso, os debates trouxeram para a cena historiográfica brasileira temas até então pouco conhecidos. Dentre eles, o historiador destaca o papel do Estado da Índia, colônia portuguesa na Ásia, dentro do contexto mercantilista da época como o de maior relevância. “As pessoas não têm noção da importância do Estado da Índia. Sem os excedentes gerados por ele, o tráfico de escravos não seria possível e, conseqüentemente, toda a História da Escravidão no Brasil seria diferente”, afirma.
O seminário analisou as trocas comerciais entre metrópole e colônias sob a ótica do fenômeno contemporâneo da globalização. Apesar de ser impensável utilizar esse termo para designar o momento histórico abordado, os estudiosos presentes identificaram o Mercantilismo como uma forma arcaica de mercado globalizado, pois o comércio mercantilista permitiu, pela primeira vez na História, um fluxo intenso de mercadorias e material humano entre continentes distintos.
A troca de conhecimentos não foi o único saldo positivo do evento. O encontro possibilitou ainda a assinatura de um convênio entre a UFRJ e a Universidade Eduardo Mondlane, localizada em Moçambique. As duas instituições trocarão, a partir de meados de 2007, estudantes de pós-graduação e docentes, o que possibilitará a abertura de novas linhas de pesquisa histórica no Brasil. O IFCS considera também provável um convênio similar a esse com a Université d’Aix-en- Provence, instituição francesa de ensino superior.
Em vista do sucesso do seminário, os organizadores já resolveram realizar uma segunda edição, prevista para 2007. O próximo encontro, que precisa do financiamento do CNPq para acontecer, também contará com a presença de estudiosos estrangeiros e abordará o mesmo tema. “Podemos mudar alguma coisa, mas a idéia é continuar tratando da participação do Brasil, da África e da Ásia no Império Português”, antecipa João Fragoso.