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Filósofos para além do seu tempo

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Com estilos tão diferentes e distantes no tempo por quase dois séculos, Spinoza e Nietzsche foram tidos como malditos, já que filosofaram contra o seu tempo, a favor de um tempo por vir. Além disso, o pensamento de ambos tratou de temas que “nos tocam hoje: são extremamente atuais, vivos e importantes para pensarmos cada um de nós na vida pessoal e na sociedade, temas como a felicidade, a potência de agir, a culpa, Deus, a moral e o livre-arbítrio”, afirmou o prof. André Martins, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS/UFRJ) – organizador do I Congresso Internacional Spinoza & Nietzsche, realizado dias 5, 6 e 7 de junho.

Para Marilena Chauí, professora da Universidade de São Paulo e congressista do evento, Spinoza mantém sua atualidade por ter desenvolvido “uma filosofia que lutou até as últimas conseqüências contra a superstição”, contra as instituições que a usaram, unida ao medo, como forma de dominação. Também por ter feito uma reflexão do significado da paz como uma construção efetiva da política, vendo a finalidade desta como nos dar segurança, e através das leis e do Direito construir da paz . Marilena destacou ainda que a ética de Spinoza não se baseia numa visão da natureza humana como viciosa e perniciosa. Ela opera contra a tristeza e o sentimento de culpa, pondo a liberdade não na nossa capacidade de errar, de pecar, mas como exercício da nossa força interior: uma ética da alegria, da felicidade e da liberdade.

Já na opinião da professora da UFRJ Viviane Mosé, Nietzsche continua relevante por fazer uma inversão: o que consideramos como dor e sofrimento, ele chama de “intensificação da vida”. Tal filósofo “tem um pensamento que faz com que a gente viva a vida como uma totalidade, sem eliminar a metade do mal”. Segundo ela, a lógica social é excludente: “ou é bonito ou feio, ou certo ou errado”; fazendo com que vivamos em meio mundo já que a outra metade deve ser eliminada, rejeitada, já que incomoda e faz sofrer. O filósofo quer reinserir essa parte rejeitada: “só há vida se há a afirmação da vida como um todo; a dor intensifica a alegria” (numa relação de retroalimentação). Por isso, Nietzsche é extremamente prático e útil hoje, até mesmo nas instituições de exclusão como as prisões e centros psiquiátricos.

O Congresso Spinoza & Nietzsche foi organizado pelo Grupo Spinoza & Nietzsche do Programa de Pós-Graduação em Filosofia do IFCS. O evento ainda contou com a presença dos filósofos Chantal Jaquet (Paris I, Sorbonne); Filippo Mignini (Università di Maccerata); Patrick Wotling (Reims e Paris IV, Sorbonne Nouvelle) e Homero Santiago (USP).