A morte de José Leite Lopes, professor emérito da UFRJ, no dia 12 de junho, repercutiu como uma grande perda para a comunidade científica brasileira. Em sua trajetória de vida, o físíco Leite Lopes reuniu como poucos o compromisso com o desenvolvimento científico e tecnológico e a luta pela transformação das condições sociais e políticas do país.
Responsável pela criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), fundado em 1949, em companhia de seu amigo, o cientista brasileiro César Lattes, o físico também participou dos conselhos de diversas agências de apoio à pesquisa no Brasil como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Funtec, atual Agência Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), entre outras. O trabalho para consolidação e estabelecimento de condições para os cientistas o levou a diretoria do CNPq de 1955 a 1961 e, de 1961 até 1964, à participação como membro do Conselho Deliberativo do órgão. Suas atividades foram interrompidas em 1964, quando, em protesto ao golpe militar, pediu demissão do CNPq e se afastou da universidade.
Um de seus mais significativos trabalhos foi a previsão, em 1958, da existência do chamado bóson Zº, permitindo estabelecer o que os físicos chamam de unificação eletrofraca (descrição unificada de duas das quatro forças fundamentais da natureza: eletromagnetismo e a força nuclear fraca). A descoberta, base para os estudos do paquistanês Abdus Salan e dos norte-americanos Steve Weinberg e Sheldon Glashow, premiados em 1979 com o Nobel de Física, deu-se 20 anos antes, num trabalho muito similar ao dos cientistas laureados com o prêmio.
Em 1966 foi, a convite de Maurice Lévy, para a Faculdade de Ciências em Paris, lá permanecendo durante um ano. Ao voltar, foi designado para dirigir o Instituto de Física da UFRJ, sendo responsável pela transferência da graduação para o campus da Ilha do Fundão. Leite Lopes teve, entretanto, sua aposentadoria compulsória decretada pelo regime militar, em 1969, e seu exílio provocou manifestações na comunidade científica internacional.
Ao retornar, em 1985, assume o posto de diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
(CBPF) até 1989. A relação com o órgão que ajudou a criar permaneceu estreita, mesmo após a aposentadoria e se estendeu até recentemente, com visitas mensais do físico ao Centro.
Pernambucano, nascido na cidade do Recife, em 28 de outubro de 1918, Leite Lopes, além da Física Teórica, alimentou outras paixões, entre elas a pintura, que como dizia, tem na observação da natureza um ponto em comum entre a arte e a ciência.
Segundo o atual diretor do CBPF, Ricardo Galvão, José Leite Lopes foi uma figura muito emblemática de seu tempo, tendo contribuições importantes na vida política e científica do país: “ele foi físico e também um humanista. Fundou o CBPF, a primeira instituição de pesquisa na área, do país, com suas aplicações na sociedade”. Além disso, Ricardo Galvão afirma que sua contribuição para a cultura científica brasileira e para o desenvolvimento de uma educação científica foi decisiva. “Leite Lopes criou a Comissão de Engenharia Nuclear e fundou as bases para a criação do Ministério de Ciência e Tecnologia”, informa o físico.
O corpo do José Leite Lopes foi velado nas dependências do CBPF, na Rua Xavier Sigaud, 150, na Urca. O sepultamento foi realizado na manhã de 4a feira, dia 13 de junho, às 10h, no Cemitério de São Francisco Xavier, no bairro do Caju, Rio de Janeiro.
Leia o texto A outra guerra de José Leite Lopes e a entrevista exclusiva concedida pelo Físico a jornalistas da UFRJ, no primeiro semestre de 2005.
Saiba como Leite Lopes se aproximou do estudo da Física e de que maneira contribui para a construção de um projeto nacional de desenvolvimento da ciência.