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Gil também é ciência

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Construir uma ponte verbal e afetiva entre a ciência e a arte foi o objetivo do ministro da cultura Gilberto Gil, ao participar da Conferência Versalius, realizada na última sexta-feira, 7, no Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ, no campus da Ilha do Fundão. Gilberto Gil ministrou uma palestra intitulada “Arte e Ciência: Convergências e Divergências”, a convite do professor Roberto Lent, coordenador do evento. “Gilberto Gil foi convidado a participar como artista, e não como ministro”, disse Lent.

O encontro fez parte do Programa de Pós-graduação em Ciências Morfológicas (PCM), e foi aberto pelo professor Roberto Lent, autor de uma série de livros que ensinam às crianças ciência através de histórias em quadrinhos. Ele destacou a importância do patrono Versalius no mundo da ciência e sua ligação com a arte. A partir disso, o professor estabeleceu um paralelo com Gilberto Gil e algumas de suas músicas, que fazem alusão à ciência.

Para um auditório lotado por estudantes e professores, o Ministro explicou os laços existentes entre a ciência e a arte, de forma a desmistificar suas aparentes diferenças. Gilberto Gil comentou que a ciência adotada pelo ocidente tem suas origens na cultura greco-romana e que foi a partir dela que diferentes formas de saber se especializaram e se constituíram nas ciências humanas, exatas e biomédicas.

Outro fato destacado pelo ministro foi a existência das ciências dos negros, asiáticos e índios, que em muito foram absorvidas pela ciência ocidental, imposta durante o processo de colonização. De acordo com Gilberto Gil, todas essas ciências têm um mesmo objetivo: explicar a origem de tudo, através do conhecimento, percepção e arte. Segundo ele, só agora, diante da globalização, a conscientização e aceitação destas outras culturas tornaram-se fatos reais.

O ministro afirmou ainda que a cultura ocidental pós-industrial disfarçou a proximidade e ampliou as contradições entre arte e ciência. Mas como todas as fronteiras, estas também são artificiais e a distância é apenas um disfarce. Para ele, estes dois pólos são elementos complementares na busca pelo mesmo objetivo, ambas pertencem ao campo da cultura, distinguem-se da natureza, resultam da mesma dialética e são obras do homem.

– Mais importante que saber é a vontade do não saber. Estes dois conceitos não devem ser encarados como contraditórios, mas como complementares. A ciência, assim como a arte, deve amar o erro, pois erro é vida -, concluiu Gilberto Gil.

Ao final, alguns presentes fizeram perguntas e iniciou-se uma discussão sobre a criação do dia da Paz e a alteração do calendário atual. A respeito destas questões, o Ministro disse que esse tipo de debate deve ser considerado, mas não acha correta a imposição de tais novidades. Outra questão girou em torno da privatização do saber nas universidades públicas e como isto afeta o desenvolvimento da ciência. Gilberto Gil afirmou que este fato não deveria ocorrer e que a tomada de consciência por parte da comunidade acadêmica já é um grande passo para mudar esta situação.