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Incêndio provoca perdas irreparáveis

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agencia2405T.jpgLongos anos de pesquisa dedicados a compreender a história de vida de animais da fauna brasileira foram consumidos em poucos minutos por um incêndio que destruiu parcialmente, na manhã de quarta-feira, dia 1º de março, as instalações do Laboratório de Vertebrados do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da UFRJ.
Segundo o professor titular Rui Cerqueira, responsável pelo laboratório, os prejuízos chegariam a ordem de 100 mil dólares, considerando os investimentos realizados em equipamentos, que foram danificados, e na perda do material coletado durante o período de desenvolvimento dos trabalhos científicos, que tiveram sua continuidade prejudicada. “Felizmente, apenas um dos módulos do Laboratório foi afetado pelas chamas, que não se alastraram graças a diligente intervenção do pessoal da Diseg ( Divisão de Segurança da Prefeitura Universitária)”. A provável causa do incêndio, que ainda exige conformação pericial, foi o superaquecimento na fiação elétrica que alimentava um ar condicionado.
O reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira e o Decano do Centro de Ciências da Saúde, professor João Ferreira, asseguraram irrestrito apoio a retomada das atividades laboratório, que integra uma rede de pesquisa de renome internacional, constituindo-se num centro de referência mundial de estudos de mamíferos da América Latina.

Quarta-feira de cinzas
Alertada por vigilantes que se encontravam no prédio sobre o foco de incêndio, por volta das 8h e 10 min da quarta-feira, integrantes da Diseg acionaram os bombeiros e deram combate inicial ao sinistro, desligando o quadro de força da área afetada, quebrando vidros e abrindo portas de saída para a fumaça. Por volta das 8h e 50 min, os bombeiros já estavam no local, fazendo o rescaldo do incêndio. Na sala atingida, de nº 108, no segundo andar do Bloco A do CCS, viam-se vários equipamentos chamuscados, um computador e quase uma centena de pequenos animais mortos nas gaiolas, dentre roedores e marsupiais, que não resistiram a intoxicação pela fumaça.
Para Daniele Duarte, formada em Zootecnia pela UFRRJ e candidata ao mestrado de Genética do Instituto de Biologia, as perdas foram irreparáveis. “Foram dois anos e meio dedicados ao acompanhamento desses pequenos roedores silvestres, visando compreender seu comportamento, alimentação, crescimento e hábitos reprodutivos que sofreram uma brusca interrupção, comprometendo parte significativa de meus estudos de Bionomia, que trata da história de vida dos animais”.
Projeto de grande porte financiado pela Secretaria de Ciência de Tecnologia dos Estado do Rio de Janeiro, visando a elaboração de um Inventário da Biodiversidade do Estado, também foi afetado. Explica o professor Marcus Vinícius Vieira, do Departamento de Ecologia, que foram realizadas quatro excursões para a observação e coleta de animais silvestres que, entre outras finalidades, são usados como “testemunhos” ( animais modelo para referências nas pesquisas). Dos cerca de cento e vinte que estavam no biotério, 96 morreram, comprometendo parte da contribuição do nosso laboratório ao andamento das pesquisas que envolvem outras instituições, afirmou o pesquisador.

Linhas de pesquisa
O trabalho interinstitucional é uma das marcas do Laboratório de Vertebrados da UFRJ, que colabora com o Instituto do Câncer, Escola Nacional de Saúde Pública, Instituto Oswaldo Cruz e o Museu Nacional, entre outras. Pesquisas que investigam a Leishmaniose, a esquistossomose e o hantaviros têm grande contribuição do Laboratório de Vertebrados. De acordo com o professor Rui Cerqueira, o estudo de roedores permitiu também o desenvolvimento inteligentes soluções para a confecção de cabos ópticos, utilizados pelas telecomunicações, resistentes ao ataque desses bichos. “Foi um projeto desenvolvido em parceira com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, a pedido da Embratel, que gerou um cabo que foi submetido a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e cuja norma se encontra em discussão.
Outras frentes de pesquisa também se destacam, como a dedicada ao estudo da biodiversidade e a fragmentação da paisagem, que procura avaliar os efeitos da segmentação imposta aos locais de vida silvestre, como florestas por exemplo, pela ação do homem. “Há mais de 9 anos acompanhamos as populações de animais que vivem no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, configurando-se num trabalho que envolve estudos ecológicos, de geografia, de taxionomia, entre outros.

Um prédio diferenciado
O Decano do CCS, professor João Ferreira, alertou para a necessidade de conscientização de professores e funcionários sobre as especificidades do prédio de Ciências Biológicas. “ Esta edificação abriga mais de 300 laboratórios, o que gera um grande volume de trabalho e o uso intensivo das instalações. Logo, é fundamental pensarmos futuras ampliações e melhorar as condições dos laboratórios, tornando-os compatíveis com a excelência da produção do conhecimento que se faz aqui”.