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Uma semana que veio para ficar

Encerrada no dia 9, domingo, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia promete tornar-se um evento anual na UFRJ. Com atividades na Praia Vermelha e no Fundão, a Semana mobilizou professores, estudantes e técnicos administrativos, revelando para o público a intensa produção científica, artística e cultural produzida pela Universidade.

agencia2239T.JPG“A segunda edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia apresentou uma proposta diferente da primeira, que ocorreu no ano passado”, declarou a professora Isabel Cristina Alencar de Azevedo, superintendente da PR-5 e coordenadora geral do evento na UFRJ. “Desta vez, decidimos não só abrir nossas portas à população para divulgar nossa produção interna, mas também realizar eventos integrados com várias instituições de ensino e pesquisa, a fim de dar conta de toda a realidade intelectual do Rio de Janeiro”, disse Isabel, destacando sua intenção de tornar a Semana de Ciência e Tecnologia um evento presente anualmente no calendário de atividades da Universidade.

Com uma enorme tenda refrigerada comportando vários Espaços e atividades, conforme já noticiado por este site da Assessoria de Comunicação, destacamos, desta vez, a realização, no campo de futebol do Complexo Desportivo da Praia Vermelha, de grandes oficinas externas, organizadas por algumas unidades da UFRJ durante toda a semana.

Uma delas foi a oficina de construção de pequenas embarcações, integrante do Espaço UFRJ Mar e oferecida pelo Pólo Náutico da UFRJ, que convidou seus participantes a construir pequenas embarcações e a aprender algumas das características de cada modelo náutico. “Recebemos hoje um grupo escolar de crianças portadoras de necessidades especiais, que adoraram montar suas próprias embarcações a partir de materiais como cola, arames e tinta colorida”, disse Jonatas Peixoto, aluno de Engenharia Naval e um dos orientadores da oficina.

Trabalhando a relação entre equilíbrio, coordenação motora, confiança e autonomia, as oficinas de Capoeira, Maculelê – dança folclórica popular na Bahia –, cama elástica e muro de escalada também fizeram parte do Espaço UFRJ Mar, juntamente com algumas atividades esportivas – basquete, futebol, vôlei, etc. Amanda Veras, aluna da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) e monitora da atividade de escalada, reiterou os propósitos da atividade. “Com o muro de escalada, trabalhamos com crianças, jovens e adultos a autoconfiança, a força e a determinação, com a garantia de segurança total dada pelo nosso sistema de travamento de cordas, caso alguém escorregue do muro”, disse Amanda.

Contando ainda com a Tenda Ecológica – coordenada pelo Horto da Prefeitura da UFRJ para introduzir os participantes à elaboração paisagística – e o Espaço Palco – resultante da integração entre o Forum de Ciência e Cultura, a Escola Nacional de Música e a EEFD, que criou um espaço de apresentações musicais – os participantes puderam usufruir das mais diversas atividades promovidas pela Universidade. A quinta-feira (dia 6) foi o dia mais ativo do Espaço Palco, com apresentações da orquestra UFRJazz Ensamble, de oficinas de Tai Chi Chuan e de outras iniciativas.

Segundo Luiz Antonio Meirelles, professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (COPPE) e um dos coordenadores da Semana Nacional, cerca de 2.000 professores e 30.000 alunos e servidores da UFRJ participaram do evento. “A proposta foi muito bem aceita por toda a comunidade acadêmica, o que teve respaldo entre a população externa à Universidade”, declarou.

Eleusa Gilma de Matos da Silva (35 anos), e sua filha Eunice Gracinda (8 anos) se mostraram satisfeitas por terem participado do evento. “Eu fui em quase todas as brincadeiras, foi muito legal”, disse Eunice. “A UFRJ está de parabéns, o evento foi perfeito, aprendi muito aqui”, afirmou Eleusa, que levou, além de Eunice, todos os seus filhos para participarem das oficinas.

Dia 8 de outubro, a vez do Fundão

As atividades da Semana previstas para ocorrerem no campus Fundão, concentraram-se no sábado, dia 8.

Logo pela manhã, uma grata surpresa. Boa parte das oficinas programadas realizou suas atividades no prédio do Hangar – uma edificação pertencente a UFRJ, mas que por muitos anos serviu de local de depósito de materiais para a Companhia do Metropolitano do Rio de Janeiro. Com suas instalações parcialmente restauradas, o Hangar pode abrigar inúmeras atrações.

Olhares fixos na chama do maçarico e às habilidosas mãos de Levy dos Santos, crianças e adultos acompanhavam a transformação de tubos de vidro em cálices, pipetas e outros instrumentos indispensáveis aos laboratórios de química. A oficina de Hialotecnia, do Instituto de Química, revelava os segredos da confecção de peças deste material transparente e rijo, que adequadamente trabalhado quando aquecido e resfriado, contorcia-se e tomava a forma de “relógios” medievais – a ampulheta ou o suave contorno de um cisne.

Mais ao lado, peças do Museu da Química Prof. Athos da Silveira Ramos, testemunham a curiosidade dos que o visitavam, preservando em seu acervo a memória científica, por exemplo, de um instrumental de laboratórios do início do século passado.

Com quantas crianças se faz um barco? Talvez fosse esta a pergunta chave respondida pelo estaleiro sobre a mesa, atividade coordenada por alunos do curso de Engenharia Naval, que produzia com arames, madeira, cola e tintas, muitas embarcações. Pergunta que vários “marmanjos” também foram conferir, com prazer e alegria. Mateus de Moraes, atualmente na 6º série do Fundamental, foi categórico: “Quando eu crescer vou ser engenheiro naval”.

Acompanhado por seu pai, Morvan, engenheiro civil e por seu primo Bruno Moraes, Mateus acabara de retornar da visita a um dos mais sofisticados laboratórios da COPPE, o Laboratório de Tecnologia Oceânica, que dispõem para realizar pesquisas do mais profundo tanque oceânico do mundo. Localizado no Parque Tecnológico da UFRJ, o tanque tem 40 metros de comprimento, 30m de largura e 15 de profundidade, contando em seu centro com um largo poço de paredes cilíndricas com mais 10 metros de profundidade. Segundo o engenheiro Carlos Almeida, que orientou a visitação, o tanque é capaz de reproduzir as principais características do ambiente marinho, tais como a simulação de ondas, provocadas por batedores controlados por computadores. Empresas como a Petrobras, por exemplo, podem testar em modelo reduzido, projetos de plataformas que vão operar em alto mar, realizando ajustes que de outra forma poderiam gerar prejuízos de milhões de dólares, ou até perda de vida humanas.

Encantado com o que viu, Bruno, de 13 anos, afirmou: “Foi além da minha expectativa. Eu achava que ele era bem menor”. Assim como ele, cerca de 120 pessoas visitaram o tanque oceânico.

Nas dependências do Hangar, uma placa avisava: “Troque 10 baratas por uma vespa”. Quem subiu ao 2º andar, viu uma cena inédita: filmada a partir das experiências da professora Suzete Bressan Nascimento, do laboratório de Entomologia Médica do Instituto de Biofísica, foi possível verificar que determinado tipo de vespa parasita os ovos da barata que se encontram protegidos por um “casulo”. Ela o usa para hospedar e alimentar sua cria, assegurando a reprodução de sua espécie – que é inofensiva ao homem – reduzindo a proliferação de baratas, que pode ser vetor de doenças para os humanos, explicou a pesquisadora.

Muitas outras atividades rolaram ao longo do dia, como o Muro de Escalada e danças, organizadas pela Coordenação de Extensão da Escola de Educação Física. Mas a brisa do mar cativou os participantes a desafiar as águas da baia de Guanabara em pequenos veleiros, da classe Dingue, que singraram com o apoio de alunos que participam do Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar. Uma tarde inesquecível para jovens e adultos, muitos dos quais velejavam pela primeira vez na vida.

Para Anaís Lopes, aluna da 5ª série do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, uma frase resumiu seu desejo: “Quando eu crescer quero ser cientista”.