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MST e Universidade: parceria com raízes profundas

Cerca de 80 militantes de diferentes regiões e movimentos sociais do país participaram, em julho, do 4º módulo do curso “Teorias Sociais e Produção do Conhecimento”, organizado pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas, pela Pró-reitoria de Extensão e em parceria com a Escola Nacional Florestan Fernandez. “Para o MST é fundamental que as lideranças consigam interpretar e entender melhor a sociedade brasileira”, afirmou Adelar João Pizetta, coordenador da Escola Nacional Florestan Fernandes.

agencia2113T.gifO Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) vem exercendo uma saudável revolução no sistema de ensino do Brasil. A inauguração da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), no início do ano, entidade de ensino superior do Movimento, serviu para inserir de vez seus militantes no espaço de ensino universitário. Com ela, dezenas de parcerias em nível de extensão, graduação e pós-graduação foram feitas com as Universidades brasileiras, atingindo o ápice da política educacional iniciada pelo Movimento no início da década de 90.
Com a UFRJ essa parceria vem rendendo frutos que começam a ser colhidos pelos trabalhadores rurais no início do ano que vem. O Curso “Teorias Sociais e Produção do Conhecimento” faz parte do projeto e é ministrado todo período de férias letivas no campus da Ilha do Fundão. Coordenado pela Pró-reitoria de Extensão (PR-5) e pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), o curso é dividido em cinco módulos e o último acontece nas férias de janeiro de 2006.
“Este curso está sendo muito importante para a UFRJ e para esses movimentos sociais. Tivemos uma aceitação muito grande por parte da docência da Universidade que vem colaborando demais para a sua realização”, afirma a Profª Maria Lídia de Souza da Silveira, coordenadora de extensão do CFCH e coordenadora acadêmica do Curso.
Inscrito no Sigma como curso de extensão, o “Teorias Sociais e Produção do Conhecimento” possui acompanhamento pedagógico de professores da UFRJ e de membros do setor de formação do MST. Ao final de cada etapa, os alunos precisam entregar um artigo e ao final do curso, devem elaborar uma monografia. Para Adelar João Pizetta, coordenador da Escola Nacional Florestan Fernandes, é muito significativo para o MST e para os outros movimentos sociais do campo estar ingressando na Universidade com esse curso.
“É importante dizer que os trabalhadores tiveram sempre dificuldades de ter acesso ao conhecimento, inclusive de freqüentar a Universidade. Então, para os movimentos sociais do campo, especialmente para o MST, estar aqui na Universidade participando de um curso como esse é fundamental para que as lideranças e os dirigentes consigam interpretar e entender melhor a sociedade brasileira. Entender o que se passa atualmente no mundo para que, a partir disso, se consiga desenvolver uma prática mais eficiente”, afirma.
Na duas últimas semanas de julho aconteceu o 4° e penúltimo módulo de aulas no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN). Cerca de 80 militantes de diferentes regiões do país e de variados movimentos sociais – não só do MST – estiveram presentes nas palestras que reuniram professores da UFRJ e de outras Instituições de ensino do Brasil. Na segunda, dia 25, estiveram presentes no curso dando palestras, o ex-reitor da UFRJ, Profº Carlos Lessa e o ex-candidato a Governador do Rio pelo PDT, Nilo Batista, que falaram da crise política que envolve o governo do PT, da importância dos Movimentos Sociais para o país e do papel da Imprensa no episódio.
“Não é possível que possa existir um poder no Brasil tão absoluto e arrogante como a Imprensa”, afirmou Nilo.
“Um dos desafios da nossa realidade atual é tratarmos com zelo a questão social”, falou Lessa.
Dando mostras de que rendeu o esperado, o curso já tem uma nova turma prevista para começar os trabalhos em Fevereiro do ano que vem.
“O curso está sendo muito proveitoso. Não tem como não continuarmos”, afirmou a Professora Selene Alves Maia, coordenadora geral do Curso e Assessora de Projetos Especiais da PR-5.
De certa maneira, o MST vai fazendo bem devagar uma revolução acadêmica no Brasil, invertendo a ordem dos fatores teoria e prática.
“É interessante, e acho que esse casamento vem sendo muito bem feito pelo MST aqui na Universidade”, afirma João Paulo Rodrigues, da coordenação Nacional do MST, sobre a prática, que reencontra a teoria permitindo uma visão crítica sobre ambas. É uma atividade que reforça uma nova relação nas ações da Academia junto à sociedade.