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Profundão 2005

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agencia2002T.jpg“Se quisermos resolver qualquer coisa, temos que fazê-lo dentro da lei. Nunca podemos sair da lei. Fora das regras, fica estabelecido o caos.” Foi com essas palavras que a deputada federal Denise Frossard finalizou sua participação no Workshop de Impactos da Violência Urbana nas Empresas, na última sexta-feira, dia 10, no campus da Ilha do Fundão.. A parlamentar saiu antes do fim do evento, porque foi chamada com urgência para participar de uma reunião sobre a CPI mista dos Correios, que está sendo instalada no Congresso Nacional, da qual ela faz parte.

O Workshop integrou a programação do IX Encontro de Engenharia de Produção da UFRJ, o Profundão 2005, realizado nos dias 8, 9 e 10 de junho, no Centro de Tecnologia (CT). Esta edição do encontro teve como temática “O Brasil no Século XXI: Novos paradigmas do desenvolvimento”. O evento foi organizado por alunos do curso de graduação de Engenharia de Produção da universidade sob a orientação do professor Luiz Antônio Meirelles.

Além da deputada federal Denise Frossard, estiveram presentes ao Workshop o sócio diretor da Intelligere e professor de Engenharia de Produção do Cefet, Vinícius Cardoso, a doutoranda em Ciências Políticas pela Universidade Cândido Mendes e ex-diretora da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), Jaqueline Muniz, e presidindo a mesa, o diretor da Escola Politécnica da UFRJ, o professor Eduardo Serra.

O WORKSHOP

A escolha da violência como tema para um Workshop foi conseqüência de pesquisas feitas pelos organizadores do Encontro que constataram que as empresas vêm tendo um grande impacto negativo em seus balanços em função da violência urbana. Por isso, o convite à deputada federal, e também Juíza, Denise Frossard, disse Daniel Spilberg, um dos coordenadores do Encontro.

O primeiro a falar foi o professor Vinícius Cardoso, que no início deste semestre inaugurou uma linha de pesquisa em segurança pública no CEFET, onde dá aulas. Cardoso mostrou através de slides como a violência urbana impacta negativamente nas finanças e lucratividade das empresas.

O professor falou sobre as condições de segurança do campus da Ilha do Fundão que, segundo ele, são muito ruins. Cardoso mencionou o preconceito que existe com relação às organizações que estão instaladas próximas às favelas. Em sua exposição, o professor lembrou dos Centros de informática instalados pela prefeitura do Rio de Janeiro em comunidades que passaram pelo favela bairro.

Segundo ele, foram instalados 15 cursos sendo que, doze meses depois, funcionavam apenas dois. Isso aconteceu pela falta de um retorno dos novos clientes. “ Depois que se esgotava aquele pequeno mercado local, que ficava próximos aos Centros de informática e depois que acabavam aquele primeiro conjunto de clientes no entorno muito próximo, não apereciam novos clientes. As pessoas, na verdade, não tinham coragem de chegar às bordas da favela para freqüentar um curso de informática. Isso aconteceu pelo preconceito de se chegar a uma comunidade carente e pelo medo de sofrer qualquer tipo de violência”, disse.

Além disso, muitos daqueles que gerenciavam os Centros de informática eram forçados pelos traficantes locais a adotarem certas práticas, sendo essa uma situação que as pessoas que estavam a frente do projeto não tinham qualquer tipo de controle, explicou.

Utilizando um caso de empresários, cuja empresa localizava-se próxima à favela de Vigário Geral, o professor falou dos elevados custos com logística e segurança desse empreendimento. A empresa deixava de lucrar porque havia dias em que não abria ou tinha que fechar mais cedo por ordens dos marginais. Muitos trabalhadores faltavam ou chegavam atrasados em função de problemas entre traficantes e policiais nos locais onde moravam, além dos clientes muitas vezes deixarem de ir até a fábrica para pegar produtos por temerem algum tipo de violência, contou ele.

A violência urbana tem modificado o jeito de ser do carioca, na opinião do professor. “O carioca hoje se comporta como um cidadão anti-social, como alguém que não freqüenta mais a casa alheia, que não convida mais as pessoas para a sua casa, ou seja, a nossa característica como um todo, alegre, como um povo receptivo, está se deteriorando vertiginosamente”, afirmou.

Segundo ele, não irá se resolver o problema da violência urbana sem antes resolver o problema das favelas na cidade. O professor disse que a Engenharia de Produção pode contribuir, e muito, na solução do problema de segurança pública. Alguém precisa olhar este problema do ponto de vista da Engenharia de Produção, concluiu.

FUTURO DO PAÍS

Ao iniciar sua fala, a deputada Denise Frossard expressou sua satisfação por estar diante daqueles que considera o futuro do país, os jovens, que compunham a maioria dos presentes no anfiteatro.

A primeira coisa a ser lembrada pela deputada foi que a pobreza não é criminosa, fazendo alusão as palavras ditas por Cardoso, que afirmou que o problema da violência estava ligado à favela. Ela lembrou que é na pobreza que o criminoso busca a sua mão de obra.

Para a juíza, o primeiro impacto da violência urbana sobre as empresas é o estress produzido pelo ambiente violento nas pessoas, principalmente naquelas que estão envolvidas no processo de produção de uma determinada empresa. “Neste ponto, eu diria que é de bom conselho considerar não só os atos de violência efetivamente existentes, mas também, o resultado provocado pela simples percepção da possibilidade de existência da violência”, disse ela.

A parlamentar citou dados de uma reportagem que comprovam que o Brasil deixa de arrecadar com o turismo 10 bilhões de dólares, por causa da violência urbana. A deputada ainda criticou todos os governos, principalmente o brasileiro, que segundo ela, retiram para si, religiosamente, 40% de tudo que produz a atividade econômica.

A deputada lembra que a ausência do Estado não pode servir como causa exclusiva da violência urbana. Até por que, diz ela, se fosse só isso, a reversão do quadro seria muito mais fácil.
– O Rio de Janeiro é refém da criminalidade porque o Estado possui governos aliados do crime, que curvam-se diante dele. Adotam medidas que interessam diretamente aos agentes do crime, enfatiza Denise.

Para ela, a medida inicial para se reduzir à criminalidade deve ser a retirada dos interesses eleitorais da política de segurança pública. A segurança pública é gestão, cargos técnicos. Isso serve tanto para os que governam o Estado, como para os que governam o município.

Concluindo, a deputada falou das medidas que deveriam ser tomadas na tentativa de se reverter o quadro de extrema violência urbana que se instalou no Rio de Janeiro nos últimos anos.
– Administrar melhor os nossos quadros policiais, adotar medidas preventivas, para as transformações dos ambientes onde se concentra a violência, principalmente no que diz respeito aos jovens e crianças, que vivem em comunidades hoje dominadas por traficantes. Precisamos ampliar os canais de acesso ao poder judiciário e, finalmente, precisamos colocar variáveis na relação custo benefício de maneira a desestimular a violência e melhorar a educação.

FALTA ENFRENTAR O PROBLEMA DE FRENTE

A doutoranda Jaqueline Muniz falou sobre a falta de uma política pública de consistência no combate à violência urbana. Segundo ela, na história política do Brasil, somente em dois momentos existiu a elaboração de um plano de segurança: um foi no governo de Fernando Henrique Cardoso e outro no governo Lula. “A Segurança Pública sempre foi colocada para debaixo do tapete”, afirma a cientista política.

Segundo ela, a segurança pública tem mais a ver com a infra-estrutura social do que com a ação policial, que se apresenta como a polícia do espetáculo, do depois, se referindo ao fato dos policiais só chegarem aos locais de ocorrência dos crimes, após eles terem acontecido.

Diante do medo e da possibilidade do risco de vida, as pessoas têm abdicado dos seus direitos. Quanto menor a confiança no Estado, maior será a intensidade dos mecanismos de coerção, que podem vir de autoridades constituídas, da força policial, ou da submissão aos traficantes, disse ela, ressaltando a ausência de instrumentos por parte da sociedade de controle da ação policial.

Jaqueline lembrou do mito da autoridade “que tem que ser temida”, confundindo a segurança com a intensificação de aparatos coercitivos.

A doutoranda destacou como positivo o uso do Disque Denúncia nas ações da polícia militar. “Hoje, a polícia militar recebe em torno de 14 mil ligações por dia do Disque Denúncia, permitindo os policiais atuarem nas causas do crime. A polícia atua, portanto, na oportunidade.”

DESARMAMENTO

Ao ser indagada sobre a campanha de desarmamento em vigor no país desde o ano passado, a ex-diretora da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), Jaqueline Muniz, lembrou da importância deste movimento. Segundo ela, um cidadão comum não está capacitado para utilizar armas de fogo. O indivíduo, mesmo que faça curso de tiros e seja um bom atirador, jamais terá condições de enfrentar uma situação de assalto à mão armada, disse Muniz.

GESTÃO E RECICLAGEM

A palestra sobre Gestão de Cadeia de Suprimentos de Remanufatura e Reciclagem, que também fez parte da programação do Profundão 2005, procurou elucidar os espectadores diante da possibilidade de alinhar todas as atividades de produção de uma empresa e ligá-las a uma gestão dos resíduos, produzidos através dos processos de remanufatura e reciclagem, que representam formas de atribuir soluções lucrativas aos problemas ambientais. Os palestrantes foram Luis Cláudio Pinto Oliveira, diretor da Divisão Técnica de Meio Ambiente da Associação Brasileira de Metalurgia e Metais, e Luiz Augusto Freitas, gerente de coordenação do estaleiro Aker Promar.

Segundo Luis Cláudio, existem alguns requisitos básicos para que as empresas decidam adotar tais procedimentos produtivos. “São três fatores necessários: viabilidade econômica, viabilidade técnica e respeito ao meio ambiente”, disse o diretor.

Já Luiz Augusto chamou a atenção para a confiabilidade da remanufatura. “A remanufatura no Brasil é uma idéia que, uma vez implementada em larga escala, é perfeitamente confiável. Contudo, deve haver a garantia de que o produto usado retorne à sua fábrica de origem, para que possa ser restaurada e reaproveitada”.

A ORIGEM DO PROFUNDÃO

O professor Luiz Meirelles, em 1997, juntou um grupo de alunos para montar um evento próprio capaz de preparar a universidade para sediar o ENEGEP de 1999, o Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Desse projeto surgiu o Profundão, afirmou Marcelo Leone dos Santos, engenheiro de produção, formado pela UFRJ, que participou do primeiro Profundão.

A terceira edição do Profundão foi o ENEGEP, em 1999, que concedeu ao encontro da UFRJ o porte de evento nacional.
– As pessoas de fora do Rio de Janeiro perceberam que o Profundão era um encontro para estudantes de Engenharia de Produção. Ele assumiu um pouco o papel de catalizador do Encontro de Engenharia de Produção, se comparando até mesmo ao ENEGEP, porque os alunos, muitas vezes, comparecem mais ao Profundão do que ao próprio ENEGEP, afirmou Leone.

Segundo Marcelo, o grande barato do Profundão é a renovação. Os organizadores são sempre alunos, que ao ingressarem na universidade já começam a participar da coordenação do evento, agregando novas idéias. “Assim, o evento passa a experiência de quem já o coordenou, tornando-se maduro, e traz idéias novas, de quem está começando”, completou o engenheiro.

Os principais objetivos do Profundão são disseminar informações relativas ao curso de Engenharia de Produção, integrar alunos e ex-alunos, e trazer profissionais ao evento para conversar com os universitários, afirma Daniel Spilberg, estudante de Engenharia de Produção da UFRJ e um dos coordenadores do Encontro.

Segundo Daniel, esse ano já passaram pelo evento em torno de 500 pessoas, muitas delas vindas de outros estados. Nas edições anteriores, afirma ele, o encontro chegou a receber 700 visitantes. O Profundão começa a ser pensado e organizado um ano antes de sua execução, sendo composto por palestras, diversos workshops, visitas técnicas, apresentação de trabalhos e minicursos.

Daniel lembrou do apoio da reitoria dado ao Encontro, permitindo a comissão organizadora melhores condições para obterem patrocínio, como o do Banco do Brasil. Gisela Macedo, estudante de Engenharia de Produção e também coordenadora do evento, ressaltou o apoio da Escola Politécnica e do Departamento de Engenharia Industrial para a realização do Encontro.