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agencia1681T.jpgUm estudo inédito no Brasil com células-tronco em pacientes com esclerose lateral amiotrófica, mais conhecida como ELA, poderá começar em breve. No último dia 2, foi entregue, pela equipe do imunologista Júlio Voltarelli, um pedido ao comitê de ética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP para a liberação da pesquisa.
A ELA é uma doença com incidência de 2 a 3 em 100.000 indivíduos a cada ano no Brasil, sendo que 100% dos doentes acometidos morrem no período de três a quatro anos. Entre os sintomas, a doença causa a perda do controle muscular decorrente da destruição das células nervosas no cérebro e na medula espinhal.
A equipe de Voltarelli pretende testar já no início do próximo ano a terapia em 40 pacientes paulistas, dos quais 50% serão escolhidos na capital e o restante em Ribeirão.
Envolvido com as pesquisas de células-tronco, o grupo paulista se destaca também no uso da terapia com células-tronco em pacientes com diabetes tipo 1. Voltarelli contou durante palestra na Cátedra Unesco/UFRJ de Biologia do Desenvolvimento/Congresso de Células-Tronco e Terapia Celular – evento que se estenderá até o dia 3 de dezembro, no campus da UFRJ -,que sua equipe testou com sucesso o uso dessas células no tratamento de pacientes, com menos de 35 anos e que haviam identificado a doença há menos de seis semanas. O teste começou em janeiro deste ano e dos 12 pacientes autorizados para participarem do estudo, quatro já utilizaram a terapia. Destes, três apresentaram uma melhora significativa e deixaram de usar insulina.
Segundo ele explicou, a técnica consiste na imunossupressão do paciente, ou seja, o sistema imunológico é destruído, e posteriormente há o transplante de células-tronco da medula óssea do próprio paciente. Estas células, então, contribuem para a reconstrução do sistema imunológico livre, agora, da doença.
– Este é o primeiro estudo com células-tronco em pacientes com diabetes tipo 1 no mundo, ele finaliza.
Além deste enfoque, outro experimento é conduzido nos laboratórios de Ribeirão Preto com um pequeno grupo de pacientes para testar a utilização dessa terapia em esclerose múltipla. Neste caso, 30 pacientes em estado grave receberam o tratamento, sendo que tres quartos apresentaram melhora com a estabilização da doença.
Hoje, pela manhã, Anna Carla Goldberg, do Instituto de Química da USP, apresentou resultados de um projeto que também envolve pacientes com diabetes tipo 1. Porém, diferentemente de Voltarelli, o grupo do Instituto de Química estuda o transplante de ilhotas de Langerhans em pacientes com a doença. O pâncreas adulto possui mais de um milhão de ilhotas, que formam uma pequena parte do pâncreas. Nas ilhotas, localizam-se células beta – exclusivamente encontradas nesse local – que têm a função de produzir hormônios. Na verdade, são a única fonte de insulina.
– Existem duas formas de transplante de pâncreas: de órgão total, como ocorreu em 120 pacientes este ano no Brasil. E um plano B que ainda é um procedimento experimental e cujo objetivo é separar as ilhotas de doadores de pâncreas e implantá-las em pacientes com diabetes tipo1.
O grupo de Anna Carla utilizou esta técnica em uma única paciente de 40 anos que recebia de 36 a 40 unidades de insulina diária e, depois do procedimento, passou a usar apenas quatro a cinco unidades. A técnica não foi aplicada em maior número de pacientes, conta Anna, por problemas de financiamento e dificuldades de importação de produtos.
Uma outra experiência de sucesso em escala reduzida foi apresentada pelo pesquisador Gabriel de Freitas, do Laboratório de Neurologia, da UFRJ. Ele contou aos participantes o caso da dona-de-casa Maria das Graças Nepomuceno, 54 anos, que sofreu derrame cerebral, em agosto deste ano. A paciente chegou ao hospital com o lado direito do corpo paralisado, sem falar ou compreender o que ouvia. Três dias depois do acidente vascular, foi realizado um procedimento para punção da medula óssea, as células foram purificadas e isolou-se o componente com maior probabilidade de possuir células-tronco. Através de um cateter na artéria femural da paciente, foram injetadas as células que chegaram até a artéria central média onde havia ocorrido o AVC. Sete dias depois de receber o implante das células, a paciente já andava e mexia os braços.
– Ainda é cedo para afirmarmos que o benefício foi em conseqüência da injeção de células-tronco, pois na medicina se observa também melhoria semelhante no prognostico de casos parecidos. O importante nessa pesquisa foi verificar a segurança no procedimento: ele não provoca irritação do cérebro e nem sangramento, conclui Gabriel.
Mais de 350 inscritos participam do Congresso de Células-Tronco e Terapia Celular, organizado pelo professores Vivaldo Moura Neto, do Departamento de Anatomia, Rosalia M. Otero, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, ambos da UFRJ, Nicole Le Douarin, do Institut de France e Maria Mitzi Brentani, da Faculdade de Medicina da USP. O evento recebe apoio e financiamento de instituições como a Faperj, CNPq, Capes, Academia Brasileira de Ciências, Fundação Charles Darwin, Ministère Des Affaires Étrangères, Institut de France, entre outros.