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Escola de Belas Artes cai no samba

O que pode acontecer quando carnaval e Universidade se juntam? Confira a experiência da Escola de Belas Artes da UFRJ, que há quase 10 anos trabalha em convênio com a Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. O programa de estágio da LIESA revelou novos talentos da Escola e encaminhou para o mercado de trabalho boa parte deles.

agencia1502T.jpgParece estranho falar em carnaval em pleno mês de outubro, mas é cedo que alunos da EBA caiem no samba e na fascinante produção do carnaval. Beneficiados por um convênio entre a UFRJ e a Liga das Escolas de Samba, acertado desde 1995, que jovens talentos de diversos cursos da Escola de Belas Artes (EBA) colocam a mão na massa para produzir um dos mais interessantes espetáculos do mundo.
No último carnaval, foram selecionados 28 alunos, distribuídos entre as escolas do grupo especial. A prova de seleção consistia na criação de um enredo e a execução de uma fantasia ou adereço. Os 14 primeiros colocados foram para as Escolas com a mesma ordem de classificação, os outros 14 foram distribuídos em ordem inversa, da última para a primeira. O estágio remunerado pela LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba) durou seis meses, e pelo menos quatro alunos foram contratados pelas agremiações. Este ano não houve o programa de estágio pela Liga, pois com a inauguração da Cidade do Samba as negociações ficaram um pouco comprometidas em relação ao tempo e dinheiro. A idéia é retomar o projeto para o carnaval 2006.
Mas para quem pensa que este casamento entre a Academia e a cultura popular é novo, se engana. Desde do século XIX, professores da antiga Escola Nacional de Belas Artes já estavam inseridos na produção artística desta manifestação cultural. A professora da Escola e coordenadora do projeto do convênio com a LIESA, Helenise Guimarães, conta esta história na sua tese de doutorado, que ainda está para ser concluída: “Tudo começa com o professor Rodolfo Amoedo, ex- diretor da EBA, que junto com alunos produziram estandartes para clubes e festas da alta sociedade. A relação não era oficial, e ainda sofria um certo preconceito”.
A grande influência só foi acontecer na década de 60, quando o grupo de Fernando Pamplona, ex-professor da EBA, foi chamado para fazer o carnaval do Salgueiro. Cria-se uma sistemática de trabalho diferente do que se conhecia nos setores do carnaval carioca, incluindo as Escolas de Samba. Na relação professor-aluno-barracão, foram produzidos diferentes padrões teatrais e novas metodologias de trabalho. “As mudanças não foram só estéticas, mas também temáticas, levando para desfile personagens como Zumbi dos Palmares e Xica da Silva, reduzindo os assuntos chapas-branca (como foi apelidado na época) sobre a Corte Portuguesa, Duque de Caxias e outros ícones históricos do país”, conta a professora.
Na década de 70 e 80, a EBA possuía uma geração de carnavalescos no seu quadro de docentes, provenientes do grupo do professor Fernando Pamplona, como: Maria Augusta, Rosa Magalhães, Renato Silveira, Lícia Lacerda e Liana Silveira, chamados de “O Grupo de Pamplona”. Helenise Guimarães diz que o barracão ainda é um ambiente de trabalho fechado, com suas equipes bem definidas. A experiência do convênio conseguiu penetrar neste espaço, apresentando resultados bastante positivos.
Para o professor Samuel Abrantes, outro coordenador do projeto, o convênio conseguiu quebrar tensões entre o barracão restrito com suas próprias técnicas, e os alunos com sua formação acadêmica: “O desenvolvimento dos alunos é maravilhoso. Há um salto qualitativo não só nos trabalhos, mas também na integração dos estagiários dentro dos barracões”.
A procura pela participação na seleção extrapola os muros da EBA. Mas o convênio só beneficia os alunos da graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ. O novo edital só sairá no próximo semestre. Por isso, fique de olho!