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Sexualidade na adolescência: um “Papo Cabeça”

O drama da gravidez precoce e suas consequências físicas e psicológicas, assim como evitá-las, são temas de destaque nas conversas promovidas com adolescentes pelo projeto “Papo Cabeça”, da Maternidade-Escola, junto a escolas da rede pública.

agencia1474T.jpgHá 30 anos, um grupo de profissionais da saúde se dedica a uma instituição que tem acumulado vitórias desde o início do século passado: a Maternidade-Escola (ME). Esta unidade hospitalar, atualmente pertencente a UFRJ, foi fundada, em 1904, com a finalidade principal de atender às gestantes e crianças recém-nascidas pertencentes a classes menos favorecidas. Em meados de 1992, esses profissionais, coordenados pelo professor José Leonídio Pereira, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFRJ, resolveram expandir as atividades da ME, focando outras formas de auxílio à gestação em adolescentes. “Queríamos que a adolescente pudesse crescer, evoluir, realizar seus projetos de vida e ter consciência crítica de seus atos. Quando atendíamos a uma menina grávida, atendíamos a uma realidade já definida. O ideal, pra nós, seria trabalhar a adolescente antes de ela engravidar”, explica Leonídio.

O projeto

Antes de formular o projeto, a equipe mapeou o Rio de Janeiro, observando que, em áreas como Jacarepaguá, Barra, Bangu, Campo Grande e Santa Cruz, a incidência de gravidez precoce era de em torno de 25% de adolescentes dos nascidos-vivos. De cada 100 gestantes, 25 tinham menos de 18 anos. Outro dado também obtido com a pesquisa foi que 98% do conjunto de adolescentes grávidas tiveram seus filhos através do Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto os outros 2%, provinham da rede privada de saúde.

Em 1996, os profissionais propuseram seu projeto – Projeto de Orientação e Saúde Reprodutora para Adolescentes – à Sétima Coordenadoria de Educação (7ª CRE), da Secretaria Municipal de Educação, responsável por aquela região e, desde então, o objetivo final do projeto tem sido atuar de maneira preventiva, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento do adolescente e despertando sua consciência crítica para facilitar suas escolhas futuras.

Hoje, o projeto – denominado “Papo Cabeça” –, abrange 10 escolas, atendendo, em média, entre 20 e 25 alunos das 4ª e 5ª séries de cada escola. Conta, ainda, com a colaboração de 18 estagiários dos cursos de Psicologia e Serviço Social, além de um médico, dois psicólogos e uma assistente social. “Atuamos nas escolas, primeiramente, em função de seu interesse. Depois, em função da incidência de gravidez no ano anterior. Vamos até a escola, conversamos com a direção, professores e pais. A parte concreta do trabalho, com os meninos, é feita pelos estagiários devido à maior proximidade histórica entre os jovens de 20, 21 anos e os alunos de 14, 15 anos”, observa o professor.

A escolha daqueles que participarão do Papo Cabeça é feita junto aos professores, dando preferência às lideranças – a fim de que se possa multiplicar o conhecimento adquirido. Há constante avaliação e monitoramento do que os “agentes de saúde jovens” estão aprendendo, através de questionários.

Os resultados têm mostrado o declínio de incidências de gravidez entre os adolescentes pertencentes às escolas por onde o projeto passou, além do decréscimo da evasão escolar.

Extensões do Papo Cabeça

A Secretaria de Saúde do Município já está se articulando com o projeto, com o objetivo de que o instrutor formado saia como representante do “Sinal Verde” e do “Vista a Camisinha” – dois projetos da Secretaria.

Foi lançado, há poucos dias, o site oficial do projeto (www.papocabeca.me.ufrj.br) que traz, além de uma cartilha didática sobre a reprodução humana – como evitar a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada – um pouco da história do projeto. Um dos papéis do site é também promover a reciclagem daqueles agentes de saúde jovens que já saíram da rede e estimular a interação com a sociedade, através do serviço de respostas a perguntas enviadas.