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Escola de Belas Artes completa 188 anos

Um mês inteiro de comemorações está agendado para homenagear a Escola. Neste dia 12, durante o CONSUNI, Ângela da Luz é responsável pela homenagem. No dia 17, haverá uma performance feita pelos professores. No dia 24, a organização pretende reunir todos os diretores ainda vivos da EBA, ainda contando com a presença de algumas personalidades. No dia 30, durante o fechamento, artistas, tanto professores quanto alunos, ficam a cargo da agenda.

agencia1371T.jpg“O fato é que sou único. Não me interessa o que um homem possa transmitir a outros homens; como o filósofo, penso que nada é comunicável pela arte da escrita”. Este é um trecho de A casa de Astérion, poema de Jorge Luís Borges que reproduz liricamente palavras de Astérion, um minotauro. Dia 30, no fechamento das comemorações do aniversário de 188 anos da Escola de Belas Artes, uma surpresa será feita com este poema, envolvendo artistas e alunos da própria EBA, única, assim como o Astérion de Luís Borges.
A escolha deste poema representa a analogia feita entre a origem do ser mitológico e da escola aniversariante da UFRJ: o minotauro, filho de uma rainha, a EBA, surgida pelo desejo de um rei. Há 188 anos, no dia 12 de agosto, D. João VI assinou um decreto que fazia surgir a Academia que hoje é a EBA.
“A Escola de Belas Artes foi criada para constituir o ensino artístico no Brasil de uma forma avançada e moderna”, afirma a diretora Ângela da Luz. Segundo a professora, a criação de uma entidade desta proporção foi sinalizadora de industrialização, já que a escola tinha um setor responsável por ofícios, fundado por artistas da Missão Francesa no Brasil, que perderam espaço em seu país com a ascensão de Napoleão.
“Na época, grandes centros europeus ainda não possuíam uma academia de artes e nós tivemos uma antes deles. A nossa era superior a grande parte das que existiam na Europa. Pintávamos negros antes do romantismo. Os artistas tinham uma concepção de modelo, de criação avançada para o seu tempo, apesar de ser canônica”, diz Ângela, em referência ao sentido precursor que a Escola de Belas Artes tinha desde a sua criação.
Um mês inteiro de comemorações está agendado para homenagear a Escola. Neste dia 12, durante a sessão do Conselho Universitário, Ângela da Luz é responsável pela homenagem. No dia 17, haverá uma performance feita pelos professores. No dia 24, pretende-se reunir todos os diretores da EBA com personalidades convidadas do meio acadêmico. No encerramento das comemorações, marcado para o dia 30, artistas, professores e alunos, inspirados no poema de Borges, prometem uma surpresa.
Nestes 188 anos de história, a Escola de Belas Artes mudou de nome, de endereço e de cara. Tudo começou, como conta Ângela da Luz, com seis alunos, e, hoje, são 1883, entre graduação e pós-graduação.
Com a Proclamação da República, a antes chamada Academia Imperial de Belas Artes é rebatizada de Escola Nacional de Belas Artes, nome que permanece até a mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília, quando a Escola de Belas Artes passa a ter o nome que tem hoje.
No Largo do Rócio foi instalado o primeiro prédio da Escola de Belas Artes, onde hoje há um grande estacionamento, próximo à chamada Travessa das Belas Artes, nome devido à localização da Academia. No início do século XX, durante as reformas urbanas empreendidas no centro da cidade, o prédio neoclássico foi demolido e a Escola de Belas Artes passou a ocupar o espaço que hoje é do Museu Nacional de Belas Artes, na av. Rio Branco. De 1937, data da inauguração do espaço como museu, a 1975, a EBA foi perdendo seus privilégios no prédio aos poucos. Quando finalmente saiu da av. Rio Branco e se instalou no prédio da reitoria, na Ilha do Fundão, a Escola não pôde trazer consigo muitas das obras que acumulou por mais de 100 anos de história, inclusive moldagens diretas de obras originais, que hoje não são mais permitidas.
Os poucos cursos que a antiga academia oferecia hoje foram aumentados em número e evoluíram, sendo oferecidos atualmente: Composição Paisagística, Composição de Interior, Artes Cênicas (com as habilitações em Cenografia, Indumentária e Direção Teatral), Desenho Industrial (com as habilitações em Projeto de Produto e Programação Visual), Pintura, Escultura, Gravura e Licenciatura em Educação Artística (com as habilitações em desenho e música).
A EBA, mesmo com as dificuldades pelas quais passou nos últimos tempos, hoje é premiada nacional e internacionalmente pela qualidade de seus discentes e docentes. Vemos que o potencial desde a sua inauguração é mantido até hoje. Artistas e profissionais de renome, como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Burle Max, Edson Mota, Pietrina Checacci, Portinari, Poncetti etc., se formaram na Escola de Belas Artes, sendo seus nucleanos (alunos de cursos abertos) ou da graduação.
Em meio a tantas atividades hoje desenvolvidas pela EBA em prol da continuação de um bom trabalho, algumas reformas são feitas para ajudar os alunos com a infra-estrutura de seus cursos. O Museu Dom João VI está sendo reformado, pois é lá que os alunos contemplam e desenvolvem trabalhos muito criativos. Em igual andamento estão os ateliês, que estão sendo adequados e a recuperação da biblioteca, que sofreu, recentemente, uma inundação. A primeira avaliação era que se tinham perdido 400 obras, no entanto, com o trabalho da restauradora Laura Pereira, os livros foram conservados e agora esperam por parcerias para sua restauração. “A reitoria tem nos apoiado muito”, afirma a diretora da escola.