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Operação Inverno 2004

A Operação Inverno 2004, coordenada pelo prof. Luiz Maia, do IGEO/UFRJ visa identificar e monitorar os agentes químicos e biológicos que poluem o ar e agravam doenças respiratórias, principalmente, durante o inverno.

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A Operação Inverno 2004, projeto coordenado pelo professor Luiz Maia, do Departamento de Meteorologia da UFRJ, em parceria com a FEEMA e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento da Baixada e da Região Metropolitana, a SEDEBREM, abrange um conjunto de pesquisas sobre poluentes, fungos, bactérias, pólens e radiação ultra-violeta. As conseqüências diretas dessas partículas sobre a população do Rio de Janeiro, principalmente dos municípios da Baixada Fluminense, são analisadas por pesquisadores da UFRJ e da FEEMA, pois esta região é das mais atingidas pela poluição atmosférica por concentrar o maior número de indústrias e vias de tráfego do Estado.
— Em conversa com a FEEMA, nós tivemos a idéia de envolver alguns setores da UFRJ que pudessem contribuir com o projeto, como os Institutos de Microbiologia, de Biologia e Pediatria e Puericultura e o Departamento de Meteorologia, do IGEO. Então, de 15 em 15 dias nós vamos colocar um filtro nas redes, deixar exposto por 1 minuto, captar o ar e depois levar para o laboratório para determinar fungos, bactérias e pólen. Assim, poderemos saber se algumas áreas contêm mais pólen, mais fungos, mais bactérias do que outras e o tipo de cada um deles, associando-os com os problemas de saúde — disse Luiz Maia, professor do Instituto de Geociências.
O Departamento de Virologia da UFRJ participa do projeto com supervisão do professor Maulori Cabral, com a proposta de definir a qualidade microbiana do ar com equipamentos de coleta e técnica de cultivo de fungos, bactérias e actinomicetos. Ainda há o compromisso de aferir a incidência de radiação ultra-violeta utilizando bio-indicadores e a preocupação de levar aos alunos das escolas de ensino médio e fundamental, noções básicas de microbiologia e de higiene, além de esclarecer a população escolar sobre novas atitudes para o controle da dengue.
— Os agentes químicos que causam mais danos à saúde são os fungos e algumas bactérias. Os poluentes microbianos não têm caráter patogênico, mas algumas pessoas são mais susceptíveis a esses agentes. Nada é letal para todo mundo; alguma coisa prejudica, mas a vida humana, não tem preço, então, se salvarmos uma, já valeu o trabalho — afirmou o professor Maulori Cabral, do Instituto de Microbiologia.
Com as baixas temperaturas, chegam as doenças do aparelho respiratório, devido às condições climáticas ideais para a proliferação de vírus e bactérias. A dificuldade de dispersão dos gases e partículas advindas das indústrias e motores de automóveis, aumentam a concentração de poluentes e agravam as doenças de inverno, que vão desde simples resfriados à alergia em sua forma mais grave, a asma.
Os asmáticos correspondem a cerca de 15 % da população. São pessoas altamente vulneráveis ao contato com elementos poluentes respiratórios e a agentes microbianos, por isso, podem desenvolver infecções mais facilmente. No inverno, esse quadro é mais grave porque o ar fica mais denso e, portanto, concentra maior quantidade de partículas.
— A asma talvez seja a doença mais diretamente afetada pela poluição atmosférica. Essa doença evolui em crises, falta de ar, tosse, chiado no peito e as pessoas que têm asma são muito sensíveis aos elementos que estão no ar e até às variações térmicas. Embora a poluição também afete as pessoas que têm bronquite crônica e os fumantes, verifica-se que há relação entre o aumento da poluição atmosférica e agravos no sistema cardiovascular — destacou o prof. José Luiz Rios, do Departamento de Pediatria, do IPPMG.
As viroses são ainda favorecidas por inversões térmicas e neblinas, variações climáticas comuns no inverno, que dificultam a circulação do ar atmosférico. Essas mudanças de tempo fazem com que haja aumento da concentração de poluentes advindos das indústrias e dos veículos automotores, cujos principais são CO2 (dióxido de carbono), CO (monóxido de carbono), SO2 (dióxido de enxofre), NOx (óxidos de nitrogênio) e O3 (ozônio). Há também materiais particulados inalados, como o H2SO4, o PM10, o DEP, os Metais e os Metais de Transição, que pioram a capacidade respiratória e aumentam a necessidade do uso de broncodilatadores.
— Na Baixada, as partículas poluentes aumentam 29% no inverno em relação ao verão. Os efeitos, em geral, são a incidência de doenças pulmonares crônicas e morte prematura; danos à vegetação; deterioração da visibilidade; de obras de arte e a contaminação do solo. Pesquisas informam que a quantidade de partículas inaláveis na Bacia III, que abrange toda a zona Norte e municípios da Baixada, resulta em 1300 casos anuais de morte prematura, causadas por doenças respiratórias, e 6500 casos de bronquite crônica — destacou Paulina Cavalcanti, engenheira química da FEEMA.
O programa Operação Inverno 2004 conta com um sistema de manutenção climática, que garante no território brasileiro, principalmente no Rio de Janeiro, um mapa de satélite em tempo real que mostra como estão o vento, a velocidade das correntes e dão a previsão de chuvas com um acerto muito maior do que antes. Há também estações que medem a radiação ultra-violeta e que permitem avaliar a incidência desses raios em um determinado local. A princípio, o programa visa conhecer os fungos, pólens e bactérias existentes na região metropolitana, fazer o diagnóstico e continuar com o monitoramento sistemático, durante todas as estações do ano.