Categorias
Memória

Moção de pesar por Leonel Brizola

Ex

No último Conselho Universitário da UFRJ realizado no dia 24, o reitor Aloísio Teixeira aprovou, por unanimidade, juntos aos Decanos e Diretores de Unidade, uma moção em homenagem ao ex-Governador do Estado do Rio de Janeiro, Leonel de Moura Brizola. A seguir a íntegra do texto:

Moção de Pesar
O Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, reunido em sessão ordinária, em 24 de junho de 2004, manifesta profundo pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
Homem público de posições contundentes, por vezes polêmicas, coerentes, entretanto, com suas próprias convicções; LEONEL BRIZOLA participou intensamente dos combates do seu tempo. Independentemente das concordâncias e divergências que suscitou, deixa sua marca numa dimensão essencial da vida política brasileira dos últimos sessenta anos: a da referência nas camadas populares, a quem denominava povão, declarando carismaticamente esse seu compromisso.
Seu projeto estimulava a participação política dos setores populares e sustentava as idéias de soberania nacional, de liberdades democráticas e de justiça social. Foi assim na Cadeia da Legalidade, por ele organizada, para garantir a posse constitucional do Vice-Presidente João Goulart, ameaçada por tentativa golpista; na defesa das reformas de base durante o Governo de Jango; na resistência ao golpe militar de 1964; na oposição à ditadura implantada no país; na luta pela anistia; na memorável campanha cívica pelas ELEIÇÕES DIRETAS JÁ para Presidente da República; na mobilização nacional pela Assembléia Nacional Constituinte, bem como nas campanhas eleitorais que se consolidaram após o fim da ditadura; todos eles, episódios decisivos da história brasileira. Destaque-se ainda que, como expressão e liderança no campo político democrático, ocupou cargos na administração pública sempre legitimado pelo voto popular direto.
Como liderança compromissada com a soberania do Brasil, à frente do Governo do Rio Grande do Sul, nacionalizou as companhias de telefonia e de energia elétrica, sob controle de grandes grupos internacionais; Expressão destacada de seus laços com as necessidades e os interesses populares foi o lugar central que ocupou a EDUCAÇÃO PÚBLICA em suas ações políticas e administrativas. No Rio Grande do Sul, consolidou a rede pública de ensino de primeiro e segundo graus do estado. Cerca de vinte anos depois, eleito Governador do Estado do Rio de Janeiro, concebeu e construiu, com Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, os Centros Integrados de Educação Pública, notabilizados como CIEPs, símbolo maior de sua preocupação social. Em nível de terceiro grau, projetou e organizou a Universidade Estadual do Norte Fluminense, a UENF, interiorizando o acesso à educação superior. Também, numa dimensão cultural, outra manifestação da centralidade que tinha o popular em suas convicções é materializada na construção do que ficou conhecido como Sambódromo.
Para além de críticas, objeções, oposições, dissensões, talvez o legado maior deste brasileiro seja a idéia de que a construção de uma sociedade política e socialmente democrática imprescinde da participação do povo como protagonista da história.