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Memória

Não, não é ficção!

O professor Carlos Alberto Achete, da Engenharia Metalúrgica, fala a respeito das pesquisas de nanociência realizadas pela UFRJ. Ele afirmou que a nanotecnologia não envolve apenas robótica, informática e química, mas também materiais, metalurgia, entre outras.

agencia1212T.jpgAo longo dos anos 90, o cinema foi impregnado com filmes de ficção científica cujos temas, em sua maioria, pregavam o início de uma era de organização tecnocrata. Os robôs, que teriam memória desenvolvida com recursos de tecnologia especial, dominariam o mundo com seus poderes sobre-humanos e, em outros casos, personagens ambiciosos implantariam chips em toda a população que seriam capazes de rastrear qualquer ser vivo no planeta, realizando controle de natalidade imposto e usando o homem como escravo. Tudo isso graças à nanotecnologia, tecnologia especial que permite ao cientista trabalhar com dimensões minúsculas.
Na prática, a situação se desenrola de forma diferente. O professor Carlos Alberto Achete, da Engenharia Metalúrgica, que trabalha intensamente com nanociência nos laboratórios onde atua, nos falou sobre as pesquisas realizadas pela UFRJ. Ele afirmou que a nanotecnologia não envolve apenas robótica, informática e química, mas também materiais, metalurgia, entre outras.
As pesquisas realizadas pela UFRJ desenvolveram, a partir de carbono amorfo, partículas com características parecidas com as do diamante, como dureza extrema. Estas partículas poderiam revestir ferramentas, materiais cortantes, de forma a funcionarem bem melhor. Outro programa de pesquisa visa a substituição da camada de metal que cobre o plástico de embalagens alimentícias por uma superfície polimérica – também plástica – que, segundo Achete, é de fácil produção. Também obtiveram-se, em laboratório, materiais com baixo coeficiente de atrito – chegando quase a zero – que diminuem o desgaste entre peças mecânicas. São chamados selos mecânicos. Plásticos especiais foram criados e evitam que o oxigênio entre em contato com líquidos, como em garrafas PET de refrigerantes.
Há diversos campos em que a nanotecnologia pode ajudar, mesmo na biologia ecológica, em que produtos biodegradáveis estão sendo fabricados já com características geradas a partir de estudos em minúscula escala dimensional.
“As coisas no Brasil sempre são diferentes”, lamenta o professor, lembrando das muitas utilidades da nanotecnologia, que já é usada largamente em vários países do mundo, mas de forma incipiente no Brasil, mesmo com tantas pesquisas em atividade.
Respondendo sobre o futuro das possibilidades na nanociência e da nanotecnologia, o professor afirmou: “nós não podemos hoje prever até que ponto a nanotecnologia vai chegar se você estiver considerando ‘um caminho do mal’, mas ela certamente trará frutos enormes. O caminho ainda está muito aberto, há diversas aplicações. Nós não sabemos ainda o que será desenvolvido com os famosos nanotubos de carbono. Espero que ela possa atuar também na área da fome”.
A nanobiotecnologia permite ao homem exatamente as hipóteses apocalípticas que os filmes da década de 90 cogitavam, o rastreamento do homem com implantações em sua rede neural. Mas também possibilita melhorias no quadro da medicina. Superfíceis nanofabricadas com padrões estruturais poderiam incitar o crescimento de órgãos defeituosos. Neurônios avariados podem ser reparados, amenizando efeitos de males como o de Parkinson.
Eric Drexler, considerado o pai de nanotecnologia, acredita que a poluição, doenças físicas e miséria material ainda existem pois não somos capazes de controlar a estrutura da matéria. Mas como o professor Achete afirmou, ainda não há limites para a utilização da nanociência. As civilizações futuras poderão avaliar a veracidade desta tese, atestando o valor das pesquisas de hoje.